Lançado originalmente para a Nintendo Switch em abril e agora com chegada às restantes plataformas, Star Overdrive promete uma viagem cósmica sobre uma prancha futurista, com o objetivo de encontrar a nossa cara-metade desaparecida. O ponto de partida é emocional, com a promessa de um mistério pessoal a desvendar e um mundo por explorar. A proposta é clara: uma aventura veloz, estilizada e cheia de descobertas. Mas conseguimos realmente retirar algo de marcante desta travessia intergaláctica?
A história apresenta-se de forma breve e contida. O enredo gira em torno de Bios, o protagonista, que aterra no misterioso planeta Cebete após seguir um sinal de socorro enviado pela sua cara-metade, Nous. Ao chegar, a sua nave é abatida, e Bios encontra um mundo aparentemente abandonado, outrora ocupado por uma corporação científica / de mineração. Fragmentos narrativos são descobertos sob a forma de cassetes com mensagens encriptadas e diários de bordo, dando pistas sobre o desaparecimento da tripulação e o destino de Nous. Há uma tentativa de abordar temas como isolamento, falhas humanas e a persistência da memória, mas esses elementos mantêm-se discretos e dependem sobretudo da curiosidade do jogador em reunir essas peças dispersas. Em cerca de seis a oito horas é possível concluir a narrativa principal, mas o jogo convida a permanecer no seu mundo através de zonas opcionais e conteúdo adicional para quem quiser explorar mais a fundo.
A prancha que usamos como meio de locomoção é o grande destaque da jogabilidade. Há momentos em que o deslizar pelas paisagens interplanetárias transmite uma sensação de liberdade e velocidade satisfatória. Contudo, esse sentimento é intermitente. O controlo da prancha nem sempre é preciso, mesmo após desbloquear melhorias. O jogo oscila entre fluidez e frustração, com físicas inconsistentes e uma resposta por vezes pouco fiável aos nossos comandos. Essa inconstância estende-se aos combates, que depressa se tornam repetitivos, e também aos puzzles, que recorrem às mesmas ideias com variações mínimas. O ritmo da experiência sofre com esta falta de frescura, deixando a sensação de que estamos a repetir padrões — seja a lutar, resolver desafios ou explorar.
O mundo aberto, embora visualmente apelativo, sofre de um problema estrutural: falta-lhe densidade. A direção artística aposta num estilo retro-futurista com influência synthwave, marcado por cores néon, formas geométricas estilizadas e uma atmosfera que remete para a ficção científica dos anos 80. Este estilo dá personalidade ao jogo e resulta em paisagens inicialmente cativantes, com bom uso de luz e cor. No entanto, rapidamente se torna evidente que muitos dos cenários funcionam mais como fundos bonitos do que como espaços vivos e interativos. Há uma clara repetição de elementos, poucos pontos de interesse únicos e uma exploração que se revela mais contemplativa do que recompensadora, com raras surpresas fora do caminho principal.
A componente sonora talvez seja, para mim, o ponto alto da experiência. Segue uma linha coerente com o ambiente do jogo, com uma banda sonora dominada por sintetizadores e batidas eletrónicas que acentuam a identidade retro-futurista do universo de Star Overdrive. A música encaixa especialmente bem nos momentos de maior velocidade e deslize, contribuindo para uma sensação de impulso e imersão. Esta componente ajuda a disfarçar o sentimento de repetição, mas infelizmente não o consegue apagar por completo.
Do ponto de vista técnico, Star Overdrive apresenta-se estável na maior parte do tempo, com tempos de carregamento rápidos e uma performance consistente. O destaque negativo vai, no entanto, para o sistema de câmara, que por vezes compromete a navegação. Em zonas mais fechadas ou com estruturas como túneis e corredores, torna-se difícil perceber exatamente a orientação do personagem e para que direção nos estamos a mover, o que pode causar confusão e alguma frustração — especialmente quando combinado com a velocidade da prancha e a exigência de precisão em certos segmentos.
Se jogaram a versão original para a Nintendo Switch, vale a pena destacar que esta nova edição — já disponível para PlayStation 5, Xbox Series e PC — inclui diversas melhorias implementadas após o lançamento inicial, fruto do feedback da comunidade. O movimento de Bios foi ajustado para transmitir maior naturalidade e fluidez, com a velocidade aumentada em 15%. O combate recebeu um sistema de lock-on a inimigos, tutoriais para combos e habilidades especiais, bem como um novo ataque carregado. A navegação pelo sistema de crafting foi também revista, permitindo agora ver facilmente as alterações feitas à prancha. Em termos narrativos, foram adicionadas animações faciais nas cenas cinemáticas e expressões sonoras contextuais durante a jogabilidade. Houve ainda um reequilíbrio na dificuldade de várias corridas e inimigos, uma reorganização de algumas missões principais para melhorar o ritmo, e melhorias no sistema de câmara e movimento com o jetpack. Como extra, foi introduzida uma nova classe de inimigos opcionais — os Corrupted — mais desafiantes e com comportamentos distintos, oferecendo recompensas exclusivas a quem se aventurar fora do caminho seguro.
Conclusão
Star Overdrive é, assim, um jogo que parte de uma boa ideia e oferece uma estética cativante, mas que falha em manter o interesse ao longo do tempo. A repetição, a inconsistência nas mecânicas, uma história que apesar de interessante não consegue entregar verdadeiramente emoção, e o vazio do seu mundo acabam por minar o impacto da viagem. É uma experiência que tem os seus momentos — especialmente para quem aprecia jogos com direção artística forte e uma duração mais contida — mas fica aquém do seu verdadeiro potencial.
O melhor
- Banda sonora coesa e atmosférica;
- Conceito interessante e acessível em termos de duração mas...
O pior
- .. mas que falha em entregar a profundidade esperada;
- Combate e puzzles rapidamente repetitivos;
- Mundo aberto com pouca densidade e exploração pouco recompensadora;
Nota do GameForces: 6/10

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