Tiago Sá - Nintendo Switch 2
Durante o extensíssimo compasso de espera até ao anúncio e lançamento da Nintendo Switch 2, eu mantive-me impassivo, recatado e temperado. Não me deixei inebriar pelas ondas de hype, e estava plenamente ciente de que uma nova geração de hardware seria a desculpa perfeita para nos fazer engolir algumas dolorosas - como uma inevitável escalada de preços em jogos e acessórios.
Com isto, quero que percebam que alimentei um estado de espírito prudente, e nem isso atenuou o incomensurável descontentamento com que recebi o novo capítulo da história da Nintendo. Desembrulho uma consola com o mesmíssimo form factor da anterior, reencontro o mesmíssimo acervo de funcionalidades, navego os mesmíssimos menus cansados e esbatidos após 8 anos de uso e abuso. Na busca desesperada por algo inédito, apuro somente cópias inferiores de outros serviços há muito disponíveis e aperfeiçoados no PC. A Nintendo Switch pode ter saltado de nível, mas a Nintendo, pela primeira vez no século XXI, não o fez: com o seu novo hardware iterativo, a empresa sob a liderança de Furukawa cospe na blue ocean approach que impulsionara o impacto comercial e emocional dos seus produtos pregressos e rouba a transição de geração de todo e qualquer entusiasmo.
Especialmente porque, com este hardware, as dolorosas não foram poucas. Os Game-Key Cards vieram para anular as valências plug-and-play e de preservação dos jogos físicos, a compatibilidade exclusiva com microSD Express tornou a migração da nossa biblioteca Switch 1 num suplício, e os novos ecrã e bateria deixam muito a desejar em comparação com a Nintendo Switch OLED. E claro, os jogos físicos dispararam de 60€ para 80€ ou até 90€, no caso de Mario Kart World - e, para não se porem com ideias, muletas de poupança como os Pontos de Ouro e os Vouchers para Jogos do Nintendo Switch Online foram trituradas sem dó nem piedade.
Houve alguma progressão ao nível do software que justifique imputar reiteradamente mais 25% a 33% de custos ao consumidor? O catálogo do primeiro ano da consola não o sugere. Mario Kart é a oferta mais entusiasmante até ao momento, e nem sequer foi capaz de suplantar o seu predecessor como o meu jogo de festa de eleição. Já as outras propostas do estúdio de Quioto nem sequer entraram cá em casa: quando subiu a fasquia do preço, também escalou o crivo de exigência com que as adquiro. A Terceira Lei de Newton assim o dita! Por si só, este comportamento alimenta o meu ciclo de descontentamento com a Nintendo Switch 2, mas também salienta a mediocridade transversal ao primeiro ano de jogos do sistema. Um novo Hyrule Warriors, ou Kirby Air Ride, ou um platformer experimental de Donkey Kong seriam experiências que, usualmente, eu pré-adquiriria e testaria no lançamento; perante o aumento de preço intragável, detive-me de comprar os dois primeiros pelas suas intransponíveis limitações de escopo (um Warriors nunca é mais do que outro Warriors), e coibí-me de adquirir o projeto dos criadores de Super Mario Odyssey pela minha relação crispada com as suas filosofias de design. E este comedimento promete manter-se para com os próximos lançamentos: Até gosto de Mario Tennis, mas será que gosto 80 euros de Mario Tennis? Get outta here!
Não tenho dúvidas de que a Nintendo Switch 2 provará o seu valor. Mais tarde ou mais cedo, algum retailer agraciar-me-á com os descontos em software que a Nintendo tem pavor de oferecer, e os maiores pesos pesados das propriedades da Nintendo darão ares da sua graça e, como usual, firmar-se-ão como experiências inolvidáveis e incontornáveis para os entusiastas de gaming. Contudo, enquanto estes momentos carecem de uma data marcada, só penso no quanto usei mais a minha Switch OLED do que a Switch 2 em 2025, e em quão mais bem servido estaria se tivesse protelado a aquisição da nova consola. Protelado para um tempo em que promoções no seu preço a tornassem mais fácil de justificar, para um tempo em que pudesse optar por uma Switch 2 V2 ou OLED que mitigue os problemas do hardware de lançamento, mas, principalmente, para um tempo em que houvesse algo para fazer com a Nintendo Switch 2.
Filipe Mesquita - Mario Kart World
Ok, vamos lá ser controversos. Sim, leram bem, o novíssimo Mario Kart é... a minha desilusão do ano. Desculpem, até eu tive de conter as lágrimas.
Vamos por partes. É Mario Kart World um mau jogo? Não, bem longe disso, até. As mecânicas de corrida são tão sólidas como sempre, e os novos circuitos são sempre divertidos de explorar e de dominar. Até a possibilidade de interligar circuitos apimenta a coisa de uma forma interessante. Mas... é tão poucochinho...
Depois do fenómeno de Mario Kart 8 Deluxe, estava mesmo à espera que esta nova proposta me fizesse esquecer o passado e me deslumbrasse com as possibilidades futuras. Mas, infelizmente, quando a gimmick de ligar circuitos se esgota e quando temos perante nós um mundo aberto tão árido e de navegação tão aborrecida... não tenho mesmo outra hipótese senão ficar desiludido.
Carlos Silva - Lost Soul Aside
Lost Soul Aside prometia ser um dos grandes lançamentos do ano, mas rapidamente se tornou numa das maiores desilusões porque quase nada do que o jogo mostrou nos trailers conseguiu sobreviver ao contacto com a realidade. A ação estilizada, que deveria ser o coração da experiência, acabou por se revelar confusa, repetitiva e sem o impacto visual que parecia garantido. Mesmo nos momentos mais caóticos, sente-se que falta peso, ritmo e clareza, como se tudo acontecesse depressa demais, mas sem verdadeira emoção. O jogo tenta impressionar, mas raramente consegue manter essa impressão durante mais de alguns segundos.
A narrativa, que podia ter ajudado a equilibrar as falhas, torna-se outro ponto fraco. As personagens parecem existir mais para justificar batalhas do que para contar uma história, e os diálogos nunca chegam a criar ligação emocional suficiente para sustentar o percurso do protagonista. As motivações são vagas, as revelações surgem sem impacto e a sensação constante é a de que muita coisa foi planeada, mas pouca realmente amadureceu. Em vez de acompanhar uma jornada épica, o jogador acaba a seguir uma linha narrativa que parece sempre a meio caminho de algo melhor.
Até mesmo os elementos técnicos, que deveriam ser o grande cartão de visita do jogo após tantos anos de desenvolvimento, falham em cumprir as expectativas. Há momentos visualmente interessantes, claro, mas são engolidos por animações irregulares, transições bruscas e uma sensação geral de falta de polimento. E quando um jogo que criou tanto entusiasmo durante tanto tempo chega finalmente às mãos dos jogadores com este nível de inconsistência, a frustração é inevitável. Lost Soul Aside não é um desastre completo, mas é um caso claro em que o potencial estava muito acima da execução, tornando-o, com justiça, a minha maior desilusão do ano.
Carlos Cabrita - Call of Duty: Black Ops 7
Voltei à série Call of Duty com o reboot de Modern Warfare II, depois de me ter afastado durante vários anos. A franquia tinha-se tornado excessivamente futurista e repetitiva, o que me fez perder interesse. Ainda assim, até ao Black Ops 6 consegui manter algum entusiasmo, ao ponto de o comprar e adicionar à minha coleção.
Por isso, entrei neste novo lançamento com expectativas moderadas, mas ainda assim positivas. Acreditava que Call of Duty: Black Ops 7 seguiria uma linha semelhante à dos títulos mais recentes. Bastaram, no entanto, algumas partidas na beta do modo multiplayer para perceber que algo não estava bem. A sensação de falta de qualidade, aliada a uma jogabilidade pouco inspirada, deixou claro que este seria apenas mais um capítulo genérico numa série já demasiado desgastada.
A situação agravou-se com a divulgação de imagens e informações sobre a campanha. A introdução de bosses gigantes e elementos claramente exagerados afastam-se da identidade que sempre definiu Call of Duty. Em vez de evoluir, o jogo parece perder-se numa tentativa de espetáculo sem coerência, sacrificando o tom e a credibilidade que tornaram a série relevante.
Neste ponto, a pergunta deixa de ser “o que correu mal” e passa a ser “para onde é que a franquia está a caminhar?”. Black Ops 7 não só falha em inovar, como também se distancia daquilo que fez de Call of Duty um fenómeno durante anos. Por essa quebra de identidade e expectativas, é, para mim, a Maior Desilusão do Ano.
Filipe Martins - Lost Soul Aside
Lost Soul Aside chegou com um hype enorme — um projeto que começou em 2016, mostrava combates espetaculares e uma direção artística apelativa, e parecia que ia ser aquele jogo que todos iriam guardar na memória. Acabou por ficar, mas pelos piores motivos.
Apesar de uma premissa empolgante, com Kazer a lutar para salvar a irmã numa história recheada de conflito entre império e rebeldes, a execução nunca atinge a profundidade ou o impacto emocional que se esperava. A narrativa cai em lugares‑comuns e as personagens pouco memoráveis acabam por nos deixar mais indiferentes do que envolvidos.
No combate, onde muitos contavam com um brilharete, há momentos de diversão e bosses com presença, sim — mas a repetição, controlos que por vezes não respondem como deviam e a sensação de que as armas têm pouco impacto real acabam por desgastar rapidamente a experiência.
E depois estão os problemas técnicos: quedas de framerate, stuttering, animações estranhas e bugs que não deveriam sequer existir num jogo lançado após tantos anos de desenvolvimento.
No fim, Lost Soul Aside acaba por ser um exemplo clássico de expectativa vs realidade — um jogo que prometia muito mas que, no estado em que chegou às nossas mãos, ficou claramente aquém do que podia e devia ter sido. É uma pena, porque flashes de qualidade lá estão, mas aquilo que poderia ter sido uma grande experiência ficou mais perto de um “esperava‑se mais”.
Reviewed by Tiago Sá
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dezembro 29, 2025
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