GameForces Awards 2025 - Maior Desilusão do Ano

 


Se pudéssemos, enchíamos esta introdução só com GIFs e memes a gritar que não. Como aquele do The Office, ou o do Darth Vader. Se pudéssemos, enchíamos também esta introdução com palavrões. E acreditem que vontade não nos falta. Porque os jogos que vamos referir a seguir levaram-nos a perder a cabeça e os filtros. Levaram-nos a gritar de frustração, a praguejar como se não houvesse amanhã, a chorar pelo potencial desperdiçado, ou até a fazer os nossos psicoterapeutas andar mais devagar de tão cheios os seus bolsos ficaram por causa destas experiências. Sim, está na hora de entrar por aquela via da Internet que adora o caos, a crítica desenfreada, o ódio e tudo que seja negativo.

Reparem, caros leitores, que este "prémio" se chama "Maior Desilusão." Isto significa que não vamos aqui olhar necessariamente para os piores jogos do ano - não vamos bater mais em Nintendo Switch 2 Welcome Tour, por exemplo. Significa que vamos falar de lançamentos para os quais olhávamos com alguma ou muita expectativa, e cujas experiências foram tão piores do que o esperado, que ficamos com os nossos corações despedaçados. Honestamente, as escolhas que se seguem não merecem que gastemos mais latim nesta introdução. Portanto vão lá ver o que detestamos, riam-se de nós, chorem connosco, e deixem-nos ir abraçar os nossos cães e gatos, porque estamos a precisar.




Tiago Sá - Nintendo Switch 2

Durante o extensíssimo compasso de espera até ao anúncio e lançamento da Nintendo Switch 2, eu mantive-me impassivo, recatado e temperado. Não me deixei inebriar pelas ondas de hype, e estava plenamente ciente de que uma nova geração de hardware seria a desculpa perfeita para nos fazer engolir algumas dolorosas - como uma inevitável escalada de preços em jogos e acessórios.

Com isto, quero que percebam que alimentei um estado de espírito prudente, e nem isso atenuou o incomensurável descontentamento com que recebi o novo capítulo da história da Nintendo. Desembrulho uma consola com o mesmíssimo form factor da anterior, reencontro o mesmíssimo acervo de funcionalidades, navego os mesmíssimos menus cansados e esbatidos após 8 anos de uso e abuso. Na busca desesperada por algo inédito, apuro somente cópias inferiores de outros serviços há muito disponíveis e aperfeiçoados no PC. A Nintendo Switch pode ter saltado de nível, mas a Nintendo, pela primeira vez no século XXI, não o fez: com o seu novo hardware iterativo, a empresa sob a liderança de Furukawa cospe na blue ocean approach que impulsionara o impacto comercial e emocional dos seus produtos pregressos e rouba a transição de geração de todo e qualquer entusiasmo.

Especialmente porque, com este hardware, as dolorosas não foram poucas. Os Game-Key Cards vieram para anular as valências plug-and-play e de preservação dos jogos físicos, a compatibilidade exclusiva com microSD Express tornou a migração da nossa biblioteca Switch 1 num suplício, e os novos ecrã e bateria deixam muito a desejar em comparação com a Nintendo Switch OLED. E claro, os jogos físicos dispararam de 60€ para 80€ ou até 90€, no caso de Mario Kart World  - e, para não se porem com ideias, muletas de poupança como os Pontos de Ouro e os Vouchers para Jogos do Nintendo Switch Online foram trituradas sem dó nem piedade.

Houve alguma progressão ao nível do software que justifique imputar reiteradamente mais 25% a 33% de custos ao consumidor? O catálogo do primeiro ano da consola não o sugere. Mario Kart é a oferta mais entusiasmante até ao momento, e nem sequer foi capaz de suplantar o seu predecessor como o meu jogo de festa de eleição. Já as outras propostas do estúdio de Quioto nem sequer entraram cá em casa: quando subiu a fasquia do preço, também escalou o crivo de exigência com que as adquiro. A Terceira Lei de Newton assim o dita! Por si só, este comportamento alimenta o meu ciclo de descontentamento com a Nintendo Switch 2, mas também salienta a mediocridade transversal ao primeiro ano de jogos do sistema. Um novo Hyrule Warriors, ou Kirby Air Ride, ou um platformer experimental de Donkey Kong seriam experiências que, usualmente, eu pré-adquiriria e testaria no lançamento; perante o aumento de preço intragável, detive-me de comprar os dois primeiros pelas suas intransponíveis limitações de escopo (um Warriors nunca é mais do que outro Warriors), e coibí-me de adquirir o projeto dos criadores de Super Mario Odyssey pela minha relação crispada com as suas filosofias de design. E este comedimento promete manter-se para com os próximos lançamentos: Até gosto de Mario Tennis, mas será que gosto 80 euros de Mario Tennis? Get outta here!

Não tenho dúvidas de que a Nintendo Switch 2 provará o seu valor. Mais tarde ou mais cedo, algum retailer agraciar-me-á com os descontos em software que a Nintendo tem pavor de oferecer, e os maiores pesos pesados das propriedades da Nintendo darão ares da sua graça e, como usual, firmar-se-ão como experiências inolvidáveis e incontornáveis para os entusiastas de gaming. Contudo, enquanto estes momentos carecem de uma data marcada, só penso no quanto usei mais a minha Switch OLED do que a Switch 2 em 2025, e em quão mais bem servido estaria se tivesse protelado a aquisição da nova consola. Protelado para um tempo em que promoções no seu preço a tornassem mais fácil de justificar, para um tempo em que pudesse optar por uma Switch 2 V2 ou OLED que mitigue os problemas do hardware de lançamento, mas, principalmente, para um tempo em que houvesse algo para fazer com a Nintendo Switch 2.



Filipe Mesquita - Mario Kart World

Ok, vamos lá ser controversos. Sim, leram bem, o novíssimo Mario Kart é... a minha desilusão do ano. Desculpem, até eu tive de conter as lágrimas. 

Vamos por partes. É Mario Kart World um mau jogo? Não, bem longe disso, até. As mecânicas de corrida são tão sólidas como sempre, e os novos circuitos são sempre divertidos de explorar e de dominar. Até a possibilidade de interligar circuitos apimenta a coisa de uma forma interessante. Mas... é tão poucochinho...

Depois do fenómeno de Mario Kart 8 Deluxe, estava mesmo à espera que esta nova proposta me fizesse esquecer o passado e me deslumbrasse com as possibilidades futuras. Mas, infelizmente, quando a gimmick de ligar circuitos se esgota e quando temos perante nós um mundo aberto tão árido e de navegação tão aborrecida... não tenho mesmo outra hipótese senão ficar desiludido.





Carlos Silva - Lost Soul Aside

Lost Soul Aside prometia ser um dos grandes lançamentos do ano, mas rapidamente se tornou numa das maiores desilusões porque quase nada do que o jogo mostrou nos trailers conseguiu sobreviver ao contacto com a realidade. A ação estilizada, que deveria ser o coração da experiência, acabou por se revelar confusa, repetitiva e sem o impacto visual que parecia garantido. Mesmo nos momentos mais caóticos, sente-se que falta peso, ritmo e clareza, como se tudo acontecesse depressa demais, mas sem verdadeira emoção. O jogo tenta impressionar, mas raramente consegue manter essa impressão durante mais de alguns segundos.

A narrativa, que podia ter ajudado a equilibrar as falhas, torna-se outro ponto fraco. As personagens parecem existir mais para justificar batalhas do que para contar uma história, e os diálogos nunca chegam a criar ligação emocional suficiente para sustentar o percurso do protagonista. As motivações são vagas, as revelações surgem sem impacto e a sensação constante é a de que muita coisa foi planeada, mas pouca realmente amadureceu. Em vez de acompanhar uma jornada épica, o jogador acaba a seguir uma linha narrativa que parece sempre a meio caminho de algo melhor.

Até mesmo os elementos técnicos, que deveriam ser o grande cartão de visita do jogo após tantos anos de desenvolvimento, falham em cumprir as expectativas. Há momentos visualmente interessantes, claro, mas são engolidos por animações irregulares, transições bruscas e uma sensação geral de falta de polimento. E quando um jogo que criou tanto entusiasmo durante tanto tempo chega finalmente às mãos dos jogadores com este nível de inconsistência, a frustração é inevitável. Lost Soul Aside não é um desastre completo, mas é um caso claro em que o potencial estava muito acima da execução, tornando-o, com justiça, a minha maior desilusão do ano.





Carlos Cabrita - Call of Duty: Black Ops 7

Voltei à série Call of Duty com o reboot de Modern Warfare II, depois de me ter afastado durante vários anos. A franquia tinha-se tornado excessivamente futurista e repetitiva, o que me fez perder interesse. Ainda assim, até ao Black Ops 6 consegui manter algum entusiasmo, ao ponto de o comprar e adicionar à minha coleção.

Por isso, entrei neste novo lançamento com expectativas moderadas, mas ainda assim positivas. Acreditava que Call of Duty: Black Ops 7 seguiria uma linha semelhante à dos títulos mais recentes. Bastaram, no entanto, algumas partidas na beta do modo multiplayer para perceber que algo não estava bem. A sensação de falta de qualidade, aliada a uma jogabilidade pouco inspirada, deixou claro que este seria apenas mais um capítulo genérico numa série já demasiado desgastada.

A situação agravou-se com a divulgação de imagens e informações sobre a campanha. A introdução de bosses gigantes e elementos claramente exagerados afastam-se da identidade que sempre definiu Call of Duty. Em vez de evoluir, o jogo parece perder-se numa tentativa de espetáculo sem coerência, sacrificando o tom e a credibilidade que tornaram a série relevante.

Neste ponto, a pergunta deixa de ser “o que correu mal” e passa a ser “para onde é que a franquia está a caminhar?”. Black Ops 7 não só falha em inovar, como também se distancia daquilo que fez de Call of Duty um fenómeno durante anos. Por essa quebra de identidade e expectativas, é, para mim, a Maior Desilusão do Ano.





Filipe Martins - Lost Soul Aside

Lost Soul Aside chegou com um hype enorme — um projeto que começou em 2016, mostrava combates espetaculares e uma direção artística apelativa, e parecia que ia ser aquele jogo que todos iriam guardar na memória. Acabou por ficar, mas pelos piores motivos.

Apesar de uma premissa empolgante, com Kazer a lutar para salvar a irmã numa história recheada de conflito entre império e rebeldes, a execução nunca atinge a profundidade ou o impacto emocional que se esperava. A narrativa cai em lugares‑comuns e as personagens pouco memoráveis acabam por nos deixar mais indiferentes do que envolvidos.

No combate, onde muitos contavam com um brilharete, há momentos de diversão e bosses com presença, sim — mas a repetição, controlos que por vezes não respondem como deviam e a sensação de que as armas têm pouco impacto real acabam por desgastar rapidamente a experiência.
E depois estão os problemas técnicos: quedas de framerate, stuttering, animações estranhas e bugs que não deveriam sequer existir num jogo lançado após tantos anos de desenvolvimento.

No fim, Lost Soul Aside acaba por ser um exemplo clássico de expectativa vs realidade — um jogo que prometia muito mas que, no estado em que chegou às nossas mãos, ficou claramente aquém do que podia e devia ter sido. É uma pena, porque flashes de qualidade lá estão, mas aquilo que poderia ter sido uma grande experiência ficou mais perto de um “esperava‑se mais”.


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Digam-nos de vossa justiça! Concordam com as escolhas dos nossos redatores? Há algum jogo que vos tenha desiludido tanto que, na vossa opinião, mereça destaque e que não tenhamos referido ao longo deste artigo? Partilhem connosco as vossas opiniões, e enriqueçam esta discussão!

Introdução por Filipe Castro Mesquita
Edição de Texto por Tiago Sá
Thumbnail e Imagens de Texto por Carlos Cabrita

GameForces Awards 2025 - Maior Desilusão do Ano GameForces Awards 2025 - Maior Desilusão do Ano Reviewed by Tiago Sá on dezembro 29, 2025 Rating: 5

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