Mario, The Last of Us, Fallout, Sonic... Nos últimos anos, têm sido muitos os universos gaming a dar o salto para o pequeno e grande ecrã. Pode-se afirmar que este entretecimento de meios artísticos advém de bases narrativas sólidas; porém, esta expansão surge primariamente pela robustez dos seus universos consolidados. Universos reconhecidos pela sua iconografia e leitmotifs musicais sonantes, mas principalmente pelo seu acervo de personagens carismáticas, com protagonistas, antagonistas, e NPCs de todos os jeitos e feitios.
Nos jogos lançados em 2025, vimos tanto a revigoração de figurantes clássico como a introdução de vultos memoráveis inéditos. E é isso que celebramos neste primeiro artigo dos GameForces Awards - as personagens meticulosamente construídas para enriquecer as histórias que vivemos e nas quais mergulhamos durante este ano de 2025. Para tal, podemos considerar vários ângulos. O desenvolvimento de uma personagem desde o primeiro momento em que somos brindados com a sua presença até ao rolar dos créditos. O peso da personalidade de uma personagem no mundo e na narrativa do jogo. Um desempenho memorável por parte de um ator, seja de voz, seja de captura de performance, ou seja de ambos. Ou até o impacto de uma personagem que extravasa os limites do jogo e torna-se algo mais, encarnando um ideal, uma inspiração ou até a cara de uma nova direção para uma desenvolvedora.
Enfim, há muitas perspetivas através das quais podemos avaliar o valor de uma personagem, e cada membro da nossa equipa explicará qual a que adotou para escolher qual foi, para si, a melhor personagem de 2025. Sem mais demoras, eis as escolhas de cada redator!
Carlos Cabrita - Higgs Monaghan (Death Stranding 2: On the Beach)
Higgs Monaghan é uma personagem já conhecida para quem jogou o primeiro Death Stranding. Mesmo não sendo o protagonista nem um herói tradicional, sempre se destacou pelo seu carisma, pela sua presença em cena e pela forma como conseguia roubar atenção sempre que surgia. Em Death Stranding 2, essa base não só é respeitada como é significativamente expandida.
Hideo Kojima habituou-nos, ao longo da sua carreira, a personagens excêntricas e memoráveis, figuras muitas vezes exageradas, quase caricatas, mas sempre marcantes. Nesse sentido, não é surpreendente que Higgs seja uma personagem forte. O que surpreende, desta vez, é o nível de profundidade e impacto narrativo que lhe é dado. Em comparação com o primeiro jogo, Higgs deixa de ser apenas “mais um antagonista carismático” para se tornar uma presença verdadeiramente central, com peso emocional e narrativo real.
Em Death Stranding 2, a sua evolução é clara: há mais camadas, mais intenção e uma utilização muito mais eficaz da personagem ao longo da história. Higgs provoca, incomoda, diverte e inquieta e essa capacidade de nos fazer sentir algo, mesmo quando não gostamos dele, é o que define uma grande personagem. Passa de alguém importante, mas algo unidimensional, para uma figura que influencia o tom da narrativa e o envolvimento do jogador do início ao fim.
Por tudo isto, e mesmo perante outras personagens muito bem escritas noutras franquias este ano, o meu prémio de Personagem do Ano vai para Higgs Monaghan. Não apenas pelo seu carisma, mas pela forma como evoluiu, pela sua presença constante e pelo impacto emocional que deixa ao longo da experiência. É uma personagem que não se esquece quando os créditos finais passam e isso diz tudo.
Filipe Mesquita - Garmond e Zaza (Hollow Knight: Silksong)
Carlos Silva - Atsu (Ghost of Yōtei)
Tiago Sá - Gustave (Clair Obscur: Expedition 33)
Não sei se realmente considero Gustave a minha personagem favorita do ano, ou se me encontro apenas de emoções toldadas a vomitar incoercivelmente as minhas indignações com a malta da masmorra ao virar da esquina… Um ajuste de contas tem tudo para deixar a minha entrada amadora e efémera. Que seja.
Na sua premissa exótica e fascinante, Clair Obscur: Expedition 33 aproxima-se de Xenoblade Chronicles 3. E um Xenoblade Chronicles 3 não está completo sem o seu Noah: uma personagem contemplativa, capaz de olhar além da adstringência imediata do seu status quo e vivê-lo não somente em corpo, mas também em alma. Esta não é uma virtude que reconhecemos em Maelle, uma protagonista restringida pela sua imaturidade. Muito menos a discernimos em Lune ou Sciel, que marcham impávidas e insossas por um mundo insólito em natureza e contratempos, como consequência do seu estreito sentido de missão (e por força dos seus passados conturbados, naturalmente). É em Gustave que reside o nosso vínculo emocional no terreno; é ele que nos releva o exaspero do Gommage, as chagas de Lumiére, a bruma de incógnito e horror de que se revestem as Expeditions. Sem o tato e a sensibilidade da sua perspetiva, a tinta das brilhantes premissas do mundo da Sandfall Interactive não escorreria para além do cabeçalho.
Mesmo na sua entrega do protagonismo a Verso, não estamos perante uma exaustão do potencial da personagem, mas sim um realinhamento de prioridades dos argumentistas. É nessa passagem de testemunho que a fascinante e arrojada conjuntura que exaspera os habitantes de Lumière transita para o pano de fundo, enquanto o plano principal é focado no drama familiar tão pungente quanto simplório da família Dessandre - e é nesta passagem que Expedition 33 se torna um nadinha, mas só um nadinha mesmo, tacanho.
Reviewed by Tiago Sá
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dezembro 17, 2025
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