GameForces Awards 2025 - Melhor Narrativa do Ano

Depois da melhor personagem, claro que tínhamos que seguir para a melhor narrativa! Desde fantasia a terror, desde histórias geopolíticas a lutas pela sobrevivência, são os excelentes e variadíssimos enredos que funcionam como a cola de todos os elementos do jogo e, idealmente, firmam a experiência na nossa memória até ao fim dos nossos dias.

E bem, que ano para narrativas em videojogos! Histórias que nos prendem pelos mundos criados, pelos diálogos impecavelmente bem escritos, pelas reviravoltas inesperadas que nos deixaram com o queixo pregado ao chão, pelos graus de liberdade impressionantes que nos permitiram manejar o elmo de uma odisseia - há tanto por onde pegar quando olhamos para o que transforma uma narrativa numa história que traremos connosco e que ficará na nossa memória para sempre! Vejamos então quais as narrativas que mais cativaram os nossos redatores, e o porquê!



Carlos Silva - Clair Obscur: Expedition 33

A narrativa de Clair Obscur ganhou destaque este ano porque consegue algo que muitos jogos tentam, mas poucos alcançam: manter o jogador constantemente envolvido sem depender de reviravoltas forçadas ou melodrama. O jogo apresenta o seu mundo como um lugar que parece viver entre dois estados e essa sensação acompanha toda a história. Cada cenário, cada encontro e cada fragmento de diálogo contribui para uma atmosfera que prende o jogador de forma natural, sem precisar de explicações longas. Há um mistério constante, mas nunca artificial, que incentiva a avançar sempre mais um pouco.

O que realmente coloca Clair Obscur acima dos restantes é a forma como desenvolve as motivações das personagens. Nada surge do nada, e nada parece existir só para empurrar o enredo. As relações são trabalhadas com calma, com pequenos gestos e detalhes que dizem mais do que longas conversas. Quando uma personagem toma uma decisão difícil, percebemos imediatamente o peso por detrás dela, porque o jogo se empenha em mostrar quem cada pessoa é, e não apenas o que representa para o desenrolar da história. Isso dá a cada acontecimento uma força emocional rara, mesmo nos momentos mais simples.

Além disso, Clair Obscur sabe utilizar o seu mundo para aprofundar temas complexos sem se tornar pesado. A dualidade entre luz e sombra, sempre presente nos cenários e nas escolhas do jogador, funciona não só como elemento visual mas como parte central da própria narrativa. O jogo nunca explica tudo de forma direta; prefere deixar espaço para o jogador interpretar, ligar pontas e refletir sobre aquilo que viu. Essa abordagem confere-lhe personalidade e torna-o mais memorável. No fim, a história não fica marcada por um único momento épico, mas pela sensação contínua de ter vivido algo intimamente construído e cuidadosamente contado. É essa consistência, essa força subtil e constante, que faz de Clair Obscur a melhor narrativa do ano a meu ver!



Tiago Sá - The Hundred Line -Last Defense Academy-

Era tão, mas tão fácil juntar-me ao rebanho e contorcer-me em louvores e graças e vénias compulsivas a Clair Obscur: Expedition 33 - e não seria necessariamente errado fazê-lo, dado o elevado gabarito da sua narrativa, alicerçada numa zelosa construção de personagens e numa harmoniosa sinergia entre argumento, apresentação e música.

Porém, 2025 agraciou-nos com uma empreitada muito mais ousada e estonteante, no que à narrativa concerne: The Hundred Line -Last Defense Academy-. Ou melhor dizendo, às narrativas. Com um colossal argumento de seis milhões de caracteres distribuído por duas dezenas de rotas e 100 finais diferentes, o projeto arrojado da Too Kyo Games pega no seu conjunto de protagonistas e desdobra-os numa antologia de histórias radicalmente diferentes. Mistérios policiais? Temos. Dramas românticos? Check. E, claro, um worldbuilding central repleto de enigmas intrigantes que são satisfatoriamente desenvolvidos e respondidos tanto em tangentes nas rotas mais fora da caixa, como nas rotas que as abordam mais diretamente? Nunca poderia faltar numa visual novel japonesa que se preze.

A escrita não é totalmente imaculada, sofrendo dos flagelos consuetudinários do entretenimento nipónico (desde os clichés e inuendos aos arquétipos exagerados de personagens) mas, se estas idiossincrasias culturais não vos provocarem acne com critérios para triatlo-terapia, este híbrido entre uma visual novel e um RPG táctico reserva-vos um autêntico manjar cerimonial com romances e contos para todos os gostos. Até o diretor criativo de Expedition 33 deu o seu selo de aprovação a Hundred Line!



Carlos Cabrita - Dispatch

Dispatch foi, para mim, uma das maiores surpresas de 2025. Um jogo que à partida não prometia nada particularmente inovador (pelo menos nada que já não tivéssemos visto noutros títulos do mesmo género) e acabou por se tornar não só um dos meus jogos do ano, mas também aquele que apresentou a narrativa mais consistente e envolvente.

O grande mérito de Dispatch está na forma como constrói e desenvolve as suas personagens. As interações são naturais, credíveis e evoluem de forma progressiva, sem nunca parecerem forçadas ou artificiais. Cada episódio acrescenta novas camadas às relações entre personagens, permitindo que o enredo cresça de forma orgânica e sustentada.

Ao longo dos oito episódios apresentados, a narrativa consegue manter um ritmo exemplar, apoiado em reviravoltas bem colocadas e momentos de tensão que prendem o jogador. A experiência foi tão eficaz que me vi constantemente agarrado ao ecrã, ansioso por cada novo episódio semanal — algo que poucos jogos conseguem provocar hoje em dia.

Seria fácil mencionar outros títulos com narrativas fortes, como Clair Obscur: Expedition 33 ou Death Stranding 2: On the Beach, este último, na minha opinião, até superior a Clair Obscur, muito por culpa de um final verdadeiramente marcante. No entanto, Dispatch distingue-se pela sua consistência: a qualidade narrativa nunca vacila do início ao fim.

É essa capacidade de manter uma história coesa, envolvente e emocionalmente eficaz ao longo de toda a experiência que faz de Dispatch a minha escolha para Melhor Narrativa de 2025.





Filipe Mesquita - Hollow Knight: Silksong

Muitos estarão a olhar para esta escolha e a pensar “Será que este boneco não jogou Clair Obscur: Expedition 33”? E não, ainda não joguei Expedition 33. Está na minha estante, a olhar para mim, com olhinhos de cachorrinho abandonado, triste por ainda não ter tido tempo de me lançar na aventura tremenda que tem para oferecer. Mas estar a dizer que esta escolha recai unicamente em Silksong por exclusão de partes seria muito redutor, e muito injusto para com a sequela de Hollow Knight.

Se viram a minha entrada no artigo anterior, já perceberam mais ou menos o que penso: Hollow Knight: Silksong tem uma ótima narrativa principal, mas tem muito mais para oferecer. Praticamente todos os habitantes deste mundo têm uma história envolvente, impactante e memorável para contar e para oferecer. Nesta altura, já terminei a minha jornada por Pharloom há uns quantos meses, e ainda dou por mim a pensar em tantos plot points da mesma. A lore é fenomenal e complementa incrivelmente bem tudo o que o Hollow Knight original proporcionou, e cada recanto tem um pedacinho de narrativa envolvente para oferecer. Quase dá vontade de renomear este prémio para Narrativas do Ano, dada a quantidade e qualidade do que aqui encontramos.



Filipe Martins - Clair Obscur: Expedition 33

Clair Obscur: Expedition 33 não é apenas um jogo — é uma experiência que me agarrou desde o primeiro minuto e me manteve preso até ao último instante. A narrativa tem peso, mexe com as emoções de forma rara, de uma maneira que já não sentia em videojogos há anos. Cada descoberta, cada diálogo, cada silêncio, parece ter sido cuidadosamente pensado para nos envolver, para nos fazer sentir que estamos mesmo dentro daquela história.

O jogo consegue equilibrar momentos de tensão, introspeção e até pequenas surpresas que me fizeram sorrir ou apertar os dentes. A forma como a trama se desenrola poderosa, deixando-nos a refletir sobre cada escolha, cada gesto e cada consequência. Não é apenas contar uma história: é fazer-nos viver cada pedaço dela.

No final, fiquei com a sensação de ter participado numa narrativa viva, com personagens que permanecem na memória e momentos que se recusam a desaparecer. É essa intensidade, essa capacidade de nos tocar de forma genuína, que faz de Clair Obscur: Expedition 33 para mim, o vencedor merecido do prémio de Narrativa do Ano.


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Digam-nos de vossa justiça! Concordam com as escolhas dos nossos redatores? Há alguma história ou narrativa que, na vossa opinião, mereça destaque e que não tenhamos referido ao longo deste artigo? Partilhem connosco as vossas opiniões, e enriqueçam esta discussão!

Introdução e Edição do Texto por Tiago Sá
Thumbnail e Imagens de Texto por Carlos Cabrita

GameForces Awards 2025 - Melhor Narrativa do Ano GameForces Awards 2025 - Melhor Narrativa do Ano Reviewed by Tiago Sá on dezembro 18, 2025 Rating: 5

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