Análise | Elden Ring: Nightreign – A Alma de um Souls, Carregada em Conjunto


Quando a FromSoftware revelou Elden Ring: Nightreign, muitos esperavam uma continuação direta da epopeia. Em vez disso, recebemos uma proposta mais contida, cooperativa e ritmada, que comprime o ADN Souls em sessões intensas e imprevisíveis. Pode parecer um desvio de rota, mas após mais de 100 horas em Limveld, é evidente que Nightreign não é apenas um spin-off — é uma reinterpretação corajosa do que significa ser parte deste universo sombrio.




Nightreign decorre em Limveld, uma nova região amaldiçoada que desbravamos em várias sessões de 30 a 40 minutos, equivalendo a três dias in-game. O jogador assume o papel de uma entre oito classes distintas, heróis condenados a atravessar um território em ruínas onde o tempo avança sem piedade. Cada classe tem habilidades únicas, um “ultimate” próprio e uma função bem definida dentro da equipa — e embora a vertente narrativa não seja central, cada personagem conta com pequenas missões opcionais que ajudam a revelar fragmentos da sua história e motivações. É um toque de lore que serve mais como pano de fundo do que como fio condutor, mas ainda assim interessante para quem quiser mergulhar um pouco mais.

À medida que os dias passam, o mapa começa a fechar-se progressivamente — num sistema que remete claramente para jogos do género battle royale. A Night’s Tide, uma força obscura que consome o território, obriga os jogadores a deslocarem-se para zonas seguras definidas no mapa. Ficar para trás é sinónimo de morte.




Nos dois primeiros dias, o jogo indica-nos a localização da próxima zona segura. Isto obriga a uma gestão estratégica do trajeto: é comum começarmos por analisar o mapa e definir uma rota eficiente, procurando passar por locais-chave que permitam evoluir o nosso personagem — seja ao derrotar bosses, visitar igrejas para melhorar itens de cura, ou saquear zonas com loot relevante. A pressão é constante e eficaz, imprimindo ao jogo um ritmo implacável: não há tempo a perder.

O mapa base é sempre o mesmo, mas com variações. Algumas zonas específicas surgem aleatoriamente, ou através do uso de itens especiais, oferecendo desafios opcionais com recompensas valiosas. Estas áreas temporárias albergam inimigos poderosos e upgrades substanciais — não fosse Nightreign um jogo da FromSoftware, onde o risco e a recompensa caminham lado a lado.




O terceiro dia marca o confronto com o boss final. A teoria é simples: preparamos o nosso arsenal de acordo com a fraqueza do inimigo que escolhemos enfrentar. A prática, no entanto, é mais cruel. Por vezes, apesar de sabermos que o boss é fraco contra fogo, o jogo simplesmente não gera loot ou armas com esse atributo. Essa ausência de controlo pode ser frustrante, mas é também parte integrante da filosofia Souls: nem sempre há justiça — há apenas resistência.

Apesar desta nova estrutura, o combate mantém o núcleo Soulslike: posicionamento preciso, gestão cuidada de stamina e mana, e um ritmo quase ritualista nos ataques. A grande diferença está na cadência — Nightreign acelera o passo, tanto na ação como no planeamento. Cada sessão é composta por equipas de três jogadores, e o jogo foi claramente pensado para ser vivido em conjunto. Jogar a solo é possível, mas a experiência em equipa é onde Nightreign realmente brilha — e onde senti que jogar com amigos, enquanto conversávamos, aumentava significativamente as probabilidades de sucesso.




A progressão também foi simplificada. O level up é automático — depois de derrotarmos inimigos suficientes para ganhar experiência, basta visitar uma Grace e evoluir, sem necessidade de distribuir manualmente pontos pelos atributos. A personalização surge sobretudo através das relíquias, itens que recebemos no final de cada sessão e que até três podem ser equipadas, concedendo bónus específicos — como reduzir o tempo de espera para habilidades ou reforçar certos stats. Juntam-se ainda as armas, que agora ganham importância pelas suas passivas, e não tanto pela sua escala com os atributos.

Jogar com o Ironeye, por exemplo — uma personagem de longo alcance — não obriga a usar apenas arcos. Usando o arco como arma principal, é perfeitamente possível ter espadas ou até bastões como armas secundárias, desde que a passiva dessas armas beneficie o estilo de jogo escolhido.




Este sistema favorece a experimentação. Cada corrida é uma nova hipótese de testar builds, adaptar estratégias e lidar com as circunstâncias aleatórias que o jogo apresenta. Por vezes, a sorte dita a diferença entre uma run promissora e um colapso frustrante. Mas quando tudo se alinha — quando as relíquias, as passivas e a equipa trabalham em harmonia — a sensação de conquista é profunda.

Visualmente, Nightreign é mais contido do que Elden Ring, mas não menos atmosférico. Os ambientes são densos, sombrios e opressivos, com uma paleta que alterna entre o crepúsculo constante e as noites engolidas pela Tide. A direção artística continua irrepreensível — ao serviço de uma experiência mais focada e menos contemplativa, mas ainda assim imersiva.




Em termos técnicos, o jogo mantém um desempenho estável, com raros bugs ou quebras de performance. O matchmaking é rápido, intuitivo e, no geral, eficaz — embora a ausência de crossplay seja difícil de justificar em pleno 2025. Também se nota alguma escassez de conteúdo após dezenas de horas: o mapa, embora funcional, podia beneficiar de variações mais profundas, e os eventos ou bosses adicionais continuam limitados. A única atualização significativa, até à data, foi a introdução semanal de versões mais difíceis de bosses já existentes. No entanto, como apenas dois bosses rotativos que são disponibilizados por semana, a repetição instala-se rapidamente, tornando estas versões “difíceis” pouco entusiasmantes a médio prazo.

Nightreign não quer substituir Elden Ring — quer coexistir com ele. Quer oferecer algo que aquele jogo, pela sua própria natureza grandiosa, não podia: foco, repetição e adaptação num ciclo vicioso que prende e recompensa em igual medida. Não é para todos. Quem procura narrativa densa, exploração prolongada e progressão tradicional pode sentir-se deslocado. Mas para quem gosta de partilhar o fardo, cair e levantar em grupo, ou simplesmente testar os seus limites em runs imprevisíveis e tensas, Nightreign é viciante e marcante.


Conclusão 


Nightreign não é um novo marco na história da FromSoftware — é um desvio ousado que troca a vastidão da exploração pela urgência da sobrevivência partilhada. É uma experiência menos grandiosa, mas mais concentrada, onde cada decisão tem peso e cada vitória é conquistada em conjunto. Pode não agradar aos puristas, mas para quem aceita esta nova proposta, há aqui uma fórmula viciante e exigente que recompensa a dedicação e a cooperação. Não é a próxima epopeia Souls, mas é um lembrete de que a FromSoftware ainda sabe surpreender — mesmo quando troca o épico pelo efémero, a solidão pelo caos partilhado.


O melhor

  • Ritmo intenso e cooperação bem implementada em sessões de curta duração

  • Sistema de personalização acessível mas profundo, com espaço para builds criativas

  • Direção artística consistente, com ambientes densos e atmosfera opressiva


O pior

  • RNG pode comprometer a preparação para o boss final, mesmo com boa estratégia

  • Falta de conteúdo a médio prazo, com eventos e bosses a tornarem-se repetitivos

  • Ausência de crossplay é difícil de justificar num jogo tão centrado no multijogador

 

Nota do GameForces: 8/10


Título: Elden Ring: Nightreign
Desenvolvedora: FromSoftware
Editora: FromSoftware
Ano: 2025


Autor da Análise: Filipe Martins
Análise | Elden Ring: Nightreign – A Alma de um Souls, Carregada em Conjunto Análise | Elden Ring: Nightreign – A Alma de um Souls, Carregada em Conjunto Reviewed by Filipe Martins on julho 23, 2025 Rating: 5

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