Análise | Sonic X Shadow Generations – Respeito Pelo Passado, de Olho no Futuro


Há poucas séries de jogos que me trazem um sorriso à cara quando uma nova entrada anunciada e Sonic the Hedgehog é, sem dúvida uma delas. Claro que nem sempre esse sorriso se mantém assim que pego no comando – não é Superstars? -, mas o mais comum é conseguir sempre retirar algum prazer das aventuras de Sonic e companhia. E um dos jogos que andava a lamentar não poder jogar nativamente nas consolas mais modernas era Sonic Generations. Portanto, poderão imaginar o entusiasmo juvenil que senti quando foi anunciado que este título estaria de volta – sobretudo quando foi revelado que se faria acompanhar de toda uma nova experiência inteiramente dedicada ao anti-herói Shadow.

E temos Sonic X Shadow Generations, uma oferta com dois jogos distintos – uma remasterização e um jogo original. Como tal, e como já fiz anteriormente, dividirei esta análise em partes distintas, para poder refletir melhor sobre cada jogo aqui incluído. Mas será Sonic X Shadow Generations uma experiência que quererei trazer comigo para as próximas gerações, ou será uma nódoa negra no currículo destas adoradas personagens?


Sonic Generations – Remasterização Respeitável de um Clássico Moderno

Em Sonic Generations, encontramos o ouriço-cacheiro titular a chegar uma festa surpresa preparada por Tails, Knuckles, Amy, e restantes amigos que têm estado ao lado do protagonista ao longo destas três décadas. Contudo, a festa é subitamente interrompida por uma criatura interdimensional, que puxa Sonic e companhia para um espaço fora do tempo. Com os amigos do velocista azul a encontrarem-se congelados diante de portais alusivos a locais marcantes de aventuras passadas, Sonic vai ter de se unir à sua própria versão clássica (também atacada pela tal criatura interdimensional), e, juntos, terão de (re)atravessar diversos níveis do rico historial de histórias deste universo para salvar os seus amigos e derrotar uma nova ameaça.

Aqueles que já passaram por esta experiência quando ela foi originalmente lançada em 2011 sabem exatamente o que esperar da porção remasterizada deste pacote. Há nove mundos inspirados em alguns dos melhores níveis de jogos lançados até essa data – Green Hill Zone, Sky Sanctuary e Seaside Hill são alguns exemplos -, completamente redesenhados para dois estilos de jogo diferentes. Sim, cada nível apresenta dois atos, um jogável num plano bidimensional e apenas usando o Sonic clássico, e outro num misto de jogabilidade em 3D com momentos de side-scrolling e apenas com o Sonic moderno.

Naturalmente, a jogabilidade com Sonic clássico é mais simples, com o leque de manobras limitado a correr, saltar e realizar spin dashes, para fazer arranques a alta velocidade. Já com o Sonic moderno, também podemos correr e saltar, podemos correr a alta velocidade graças à mecânica de impulso, podemos desviar-nos lateralmente, derrapar para fazer curvas apertadas, e ainda usar homming attacks e stomps. Todos os níveis estão bem desenhados e bem adaptados às especificidades de jogabilidade de cada versão de Sonic. E continua a ser tão divertido encontrar os diferentes caminhos até ao objetivo que cada nível oferece e caçar todos os colecionáveis neles escondidos como era no início da década passada.


No geral, trata-se de uma remasterização competente, mas não sem os seus senãos. Durante as sequências de jogabilidade, o jogo está notavelmente mais límpido, verificando-se uma melhoria substancial na nitidez do jogo. A performance também se apresenta melhorada, com o jogo a correr com uma fluidez muito boa. Por outro lado, as sequências cinemáticas – todas elas pré-renderizadas, note-se - continuam presas no passado. A qualidade de imagem sofre uma queda abrupta face ao resto da experiência, e a taxa de fotogramas não ultrapassa os 30 por segundo uma única vez. É daqueles trabalhos de remasterização visual no qual se nota algum investimento no mais importante, mas que deixa bastante a desejar no resto.

Outro problema estanho desta remasterização é o facto de terem surgido nesta versão de Sonic Generations bugs que sou capaz de jurar não existiam na versão original. E todos eles nos atos em que se joga com Sonic clássico. Desde ficar preso em paredes e plataformas, a atingir inimigos com ataques que os deviam destruir, mas que me faziam cuspir anéis por todo o lado, deparei-me com uma data de bugs relacionados com as caixas de contacto desta versão do velocista azul. Até sou capaz de jurar que acertei num anel vermelho ou num Chao perdido (o novo colecionável desta versão), sem que o jogo os reconhecesse como colecionados. É sempre mau quando uma remasterização – que, por definição, deve ser uma versão superior de um lançamento original – introduz problemas previamente inexistentes.

Não obstante estas quezílias, Sonic Generations continua a ser um clássico moderno que vale bem a pena ser (re)visitado nas consolas atuais. Continua a ser uma boa celebração do passado da franquia, e fico cheio de alegria por saber que está finalmente disponível em todas as consolas atuais.


Shadow Generations – A Derradeira Forma de Vida e de Experiência (em 3D) da Franquia

Enquanto todas as restantes personagens deste universo se encontram na festa surpresa que está a ser preparada para Sonic (que nem uns calões), em Shadow Generations, o nosso trabalhador anti-herói encontra-se de regresso à colónia espacial ARK, numa missão para averiguar sinais de atividade misteriosos. Nessa missão, depara-se com o líder alienígena Black Doom, que sobreviveu ao encontro prévio com o nosso anti-herói em Shadow the Hedgehog (2005). Este confronto coincide com uma distorção temporal causada pela criatura interdimensional de Sonic Generations, atirando Shadow para um espaço fora do tempo. Mas Black Doom também se encontra neste espaço, e pretende aproveitar as anomalias temporais do mesmo para reviver todas as suas tropas e voltar a tentar conquistar o mundo. Cabe a Shadow voltar a confrontar este alien demoníaco e pôr fim à sua existência de uma vez por todas.

Deixem-me começar por louvar algo que não costumo num jogo desta franquia – a narrativa. A história de Sonic Generations faz bem o seu trabalho, ao dar uma desculpa interessante para jogar com Sonic na sua versão clássica e na sua versão moderna. Mas Shadow Generations dá um passo em frente corajoso e triunfante, ao apresentar uma história que recontextualiza toda a origem de Shadow, dá um closure emocional a traumas passados da personagem, e aponta a um futuro potencialmente brilhante para o seu protagonista e para toda a franquia de Sonic the Hedgehog. Aqui, a premissa das distorções temporais não tem apenas um impacto nostálgico, serve também para cimentar Shadow como a personagem mais interessante de todo este universo e para me deixar a salivar por mais jogos que apontem os holofotes para este protagonista.

Mais uma vez, o jogo apresenta versões retrabalhadas de níveis presentes em jogos lançados previamente. Alguns são imediatamente reconhecíveis, como Radical Highway ou Rail Canyon, outros que tive de puxar mais pela memória para me lembrar de onde são, como Sunset Heights ou Chaos Island – pese embora tenha jogado e concluído os títulos onde surgiram originalmente. Independentemente de os reconhecer assim que vi os seus nomes ou não, a verdade é que os níveis estão estupendamente bem adaptados em 2 atos – um totalmente tridimensional e outro em side-scrolling 2.5D. Todos os níveis estão muitíssimo bem desenhados, com os que se apresentam em 3D a colocarem-se na posição da frente da discussão de quais são os melhores níveis de sempre desde que a franquia se tornou tridimensional.


Tal acontece não só porque Shadow apresenta um leque de habilidades semelhante ao da versão moderna de Sonic (no qual o redesenho dos níveis encaixa muitíssimo bem), mas também porque Shadow vai ganhando novas habilidades à medida que o jogo progride, tais como teletransportar-se para junto de inimigos atirados para longe, deslizar em água ou voar pelo ar. Isto torna a jogabilidade de Shadow Generations muito mais variada do que a de Sonic Generations e permite a inclusão de níveis com áreas muito mais abertas e com muitíssimos mais caminhos viáveis para explorar. O único senão aqui é que uma das habilidades que Shadow adquire é muito mal explicada no seu tutorial, tornando-se um exercício algo frustrante aprender como a utilizar eficazmente.

E não podia deixar de dar uma palavrinha aos bosses deste jogo. Para além de ter ficado estupidamente entusiasmado com o regresso de muitos dos meus confrontos preferidos do passado, as batalhas contra estes bosses são incrivelmente divertidas. Tal como em Sonic Generations, estes confrontos foram adaptados para “encaixarem” bem nas novas mecânicas, e esse trabalho está estupendo. Melhor ainda é o facto de muitas destas batalhas incorporarem extraordinariamente bem as novas habilidades de Shadow. Isto ajuda estes novos confrontos com estes antagonistas históricos a serem tão (ou mais) memoráveis do que os originais e, mais importante, faz com que cada batalha se distinga muitíssimo das restantes.

Adicionalmente, o espaço fora do tempo aqui presente é totalmente explorável em 3D, muito à semelhança dos mundos semi-abertos de Sonic Frontiers. Este espaço está cheio de cantos e recantos repletos de segredos, desafios e colecionáveis para encontrar. Desde peças para um suposto foguetão que ajudará Orbot e Cubot a escapar deste sítio fora do tempo, baús que escondem peças de arte ou trilhas sonoras dos variadíssimos jogos no quais Shadow marcou presença, ou até alguns desafios que levam ao limite o nosso domínio de todas as mecânicas de Shadow Generations, há aqui muito conteúdo secundário para entreter. Isto, claro, sem contar com os esquivos S-Ranks que tão bonitos ficam nas imagens de boas-vindas de cada nível.


Portanto, Shadow Generations é um jogo divertidíssimo e que espero mesmo muito que seja um protótipo do que nos espera do futuro, quer da personagem quer de toda a franquia na qual se insere. E para ajudar à festa, há que ressalvar o quão visualmente belo o jogo é. Tanto durante sequências cinemáticas como jogáveis, deparei-me sempre com cenários muito detalhados, animações estupendas e efeitos luminosos do melhor que a SEGA já produziu. Se aponto o dedo a alguns cenários enlameados em Sonic Generations, em Shadow Generations apenas posso louvar o amor e carinho colocados na vertente visual desta metade da experiência.

E a qualidade da vertente visual não vem só, já que se faz acompanhar de uma vertente sonora absolutamente memorável. Os clássicos efeitos sonoros continuam presentes, e apresentam-se lado a lado com alguns efeitos sonoros modernos muitíssimo bem conseguidos e cativantes, que dão mais vida a este mundo animado. E, como não podia deixar de ser, a banda sonora é de abanar o capacete. Trata-se de um ótimo misto de sonoridades mais próximas do rock e do metal que acentuam o entusiasmo da ação, juntamente com belíssimos toques de orquestra que ampliam momentos tensos e emotivos. Ou seja, é mais uma banda sonora que aparecerá no meu próximo Spotify Wrapped – aliás, como é o caso sempre que sai um novo título de Sonic the Hedgehog.

Uma última palavrinha para o desempenho do jogo, que se apresenta com uma qualidade igualmente elevada. Não é perfeita, já que há momentos em que a ação se torna visualmente insana e o jogo acaba por gaguejar um pouco no que diz respeito à estabilidade da taxa de fotogramas. Porém, fora esses ocasionais gaguejos, é um jogo bastante consistente na manutenção dos 60 fotogramas por segundo. Isto, e aliando-se à já elogiada vertente visual, faz com que Shadow Generations seja um verdadeiro deleite para os olhos, e um verdadeiro passo em frente em comparação, até, com a outra metade oferecida em todo este pacote.


Conclusões
Mesmo depois de 13 anos, Sonic Generations continua a ser uma experiência divertida e pela qual vale muito a pena passar. No entanto, é com Shadow Generations que esta oferta brilha, uma vez que oferece alguns dos melhores e mais divertidos níveis em 3D de toda esta franquia até hoje. Sonic X Shadow Generations não é apenas uma belíssima celebração do que têm sido os (bons e os péssimos) jogos de Sonic the Hedgehog, mas é também uma ótima amostra do que poderá ser um futuro risonho para esta série de videojogos.

O Melhor:
  • Upgrade visual notável para a maioria da experiência de Sonic Generations
  • Duas boas narrativas em Sonic Generations e, sobretudo, em Shadow Generations
  • Jogabilidade divertida e bastante variada em Shadow Generations
  • Níveis em 3D mais bem desenhados até hoje em Shadow Generations
  • Ambas as experiências com bandas sonoras absolutamente eletrizantes

O Pior:
  • Alguns bugs irritantes na interação com elementos dos níveis em Sonic Generations
  • Sequências cinemáticas de Sonic Generations com qualidade bastante inferior ao resto da experiência
  • Uma das novas habilidades em Shadow Generations é algo frustrante de compreender
 
Pontuação do GameForces – 8.0/10

Título: Sonic X Shadow Generations
Desenvolvedoras: Sonic Team
Editora: SEGA
Ano: 2011-2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela editora.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | Sonic X Shadow Generations – Respeito Pelo Passado, de Olho no Futuro Análise | Sonic X Shadow Generations – Respeito Pelo Passado, de Olho no Futuro Reviewed by Filipe Castro Mesquita on julho 21, 2025 Rating: 5

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