Mau, mau, Maria... Spike Chunsoft. Too Kyo Games. Tenho de
ter uma palavrinha convosco: a sério que, apenas 3 meses após eu terminar
Shuten Order na Nintendo Switch, me colocam nas mãos uma versão Nintendo Switch
2 para eu jogar e avaliar de novo? Não há dúvidas de que nutro muito apreço por
esta visual novel, que combina 5 estilos de gameplay e storytelling
amplamente distintos numa campanha magnetizante, repleta de mistérios
excelentes e um clímax ainda melhor (como, aliás, explico em detalhe na análise da edição Nintendo Switch 1)…
…mas não ao ponto de a ler duas vezes seguidas! Felizmente, o meu fantasma do OCD passado intercedeu em meu auxílio: a tendência patológica que alimento de acumular dezenas de save games inúteis finalmente deu frutos, proporcionando-me uma forma conveniente de experienciar Shuten Order como uma cassete de best hits. Isto para dizer que, embora tenha revivido várias horas da jornada e voltado a testar afincadamente todas as suas esferas de jogabilidade (e não são poucas), não esmiucei a plenitude das milhares de caixas de texto da história – ou seja, não posso pôr as mãos no fogo em como esta nova versão não introduz um qualquer crash ou softlock num segmento inconspícuo da campanha, só mesmo para me fazer pirraça.
Ficaria muito surpreso se algum problema técnico do género existisse, dada a exígua intrusividade das melhorias da edição Nintendo Switch 2. As novidades da nova
versão encontram-se apenas na forma e não no conteúdo: não há novas linhas de
diálogo ou cinemáticas, e nem o argumento nem a formatação foram retocados – a nossa conhecida imagem abaixo que o diga. O que efetivamente objetivamos é uma atualização dos
parâmetros da apresentação: a taxa de fotogramas foi aumentada para 60-120FPS
com recurso a VRR, e a resolução foi aumentada para 1440p em modo TV e
(presumivelmente) 1080p em modo portátil, resultando em personagens e cenários
mais nítidos…embora a bela e vibrante direção artística de Shuten Order
acentue a diferença entre o ecrã vívido da OLED e o LCD inferior da Switch 2, fazendo a
nova consola parecer deslavada em comparações diretas.
Adicionalmente, um novo esquema de controlo (opcional) foi implementado
para tirar partido de uma das novidades-chave da Switch 2: os
controlos de rato. Basta começarem a deslizar a face medial do vosso Joy-Con 2 direito
sobre uma superfície para ativarem este estilo de jogabilidade, numa
transição fácil e totalmente isenta de atritos. Com
recurso aos mouse controls, tudo o que é secção de investigação point-and-click
torna-se mais natural para as nossas falanges; em contrapartida, em certos
menus, passamos a precisar de mover
melindrosamente o cursor até pequenas caixas de diálogo que previamente
selecionávamos num flash com um piparote no analógico e um premir do A –
tudo ações que, após meia dúzia de repetições, se tornam segunda natureza.
Estes não são os únicos conteúdos programáticos na cadeira
“Introdução aos Controlos de Rato”: quando os ativarem, constatarão que estes
acarretam uma ligeira reconfiguração das ações associadas a cada botão. A
mais notável é que o “R” substitui o "A" como o nosso botão de confirmação/click.
Tal significa que R deixa de poder ser usado para os seus propósitos originais,
nomeadamente rodar objetos nos minijogos e mudar de página em menus como o de save
select – contudo, nenhum outro botão foi convocado do banco dos suplentes
para cobrir estas honrosas funções. Ao
contrário do que seria de se esperar, este lapso não impede a progressão na experiência,
uma vez que continuamos a contar com “L” para rodar objetos/mudar de página num dos sentidos (e, mesmo que houvesse algum percalço, apenas teríamos de regressar aos controlos convencionais por botões para o ultrapassar). Todavia, esta implementação
deselegante dos controlos de rato ativamente quebra a nossa imersão ao deslocar
a nossa atenção dos enigmas de Shuten para as limitações da jogabilidade.
Esta falta de zelo alastra-se ao menu que explica os
controlos do jogo e aos button prompts que surgem durante a
jogabilidade, que não são adaptados para refletir a troca para os controlos de
rato – o que torna a interiorização deste método de controlo num combate não só
contra a nossa memória muscular, mas também contra a informação patente no
ecrã. Fico genuinamente perplexo por o gatilho ZR, que não cumpre nenhuma função
no esquema de controlos tradicional, não ter sido o eleito para substituir (ou,
idealmente, clonar) a ação do botão A. Teria permitido preservar as ações
dos restantes botões e, desta forma, evitar esta constelação de problemas.
Em última instância, continuo a preferir os controlos
tradicionais de botões. Não por esta salganhada de descuidos, à qual nos
acostumamos após alguns minutos de jogo, mas porque ficar com a mão do Joy-Con
2 direito agrilhoada a uma superfície trai a descontração e
desgoverno de postura com que usualmente devoro visual novels. Até
gostei dos novos controlos mas, já que o gameplay é minimalista, ao
menos que possa jogar deitado na cama, ou com as mãos nos bolsos, não é? Nessa
linha de pensamento, teria trocado os mouse controls por touch
controls sem pensar duas vezes – mas esses careceriam do imprescindível potencial
de marketing para vender uma Nintendo Switch 2 Edition...
Nintendo Switch 2 Edition essa que, de resto, de resto… bem, torna os curtos loadings “ocultos” do jogo ainda mais curtos... e nada mais tenho a acrescentar, Merítissimo. Se fizerem questão de que pontue esta análise, dou à edição em epígrafe os mesmíssimos 8.0 que atribuí ao título na sua iteração original. Shuten Order é uma visual novel sobejamente ambiciosa e altamente recomendável quer para os fãs de bons mistérios quer para os entusiastas dos 5 estilos de jogabilidade nela presentes, e nada disso se altera com uns adornos extra ao nível dos gráficos e controlos ou com os microlamentos que vêm de arrasto. É uma visual novel, raios parta! Ainda assim, se a recomendação de Shuten Order não fica em cheque, o que dizer do seu Pack de melhoria para a Nintendo Switch 2 Edition? Por 2,49€, beneficiarão de uma apresentação mais congruente com as especificações dos ecrãs modernos e de um novo método de controlo que, apesar dos seus percalços menores, tem os seus pontos fortes e até algum fascínio, pelo menos durante a fase de lua de mel de uma geração de consolas fresquinha. Se a diferença de preço de SHUTEN ORDER para a sua Nintendo Swich 2 Edition espelhasse as praticadas noutros títulos das consolas, não a recomendaria. Mas a uma fração do preço… São só 3 cafés que ficam por tomar.
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela editora.
Autor da Análise: Tiago Sá
Reviewed by Tiago Sá
on
dezembro 15, 2025
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