Primeiras Impressões – Resident Evil Village: Maiden Demo [PS5]


O nome Resident Evil é dos mais reconhecidos no que toca ao género de terror, até em mais de um meio. Portanto, não é surpresa nenhuma que a perspetiva de um novo jogo passado neste universo resulte numa onda de entusiasmo e antecipação. Agora, e depois de uma onda de lançamentos de enorme sucesso comercial e crítico, todos esperamos pelo lançamento de Resident Evil Village, que continuará a história da fantástica sétima entrada desta série e tentará aproveitar ao máximo o ímpeto dos recentes remakes. E para aguçar o apetite dos jogadores com uma PlayStation 5, a Capcom lançou um Maiden Demo, sobre o qual nos debruçaremos nos parágrafos seguintes.


Primeiro, creio que este Maiden Demo precisa de alguma contextualização. Os acontecimentos desta demonstração ocorrem num dos espaços onde a ação de Resident Evil Village decorrerá, mas não estaremos em controlo do protagonista desse jogo. Consequentemente, muito do que teremos de ter em conta ou de enfrentar no jogo final não está incluído neste demo – combate ou a gestão de inventário são, talvez, as maiores ausências. Normalmente isto seria bastante estranho para um demo, não fosse este apresentado como um mostruário visual do jogo ao qual se associa. Foquemo-nos então nesses aspetos dessa experiência, e tentemos retirar algumas conclusões.
 
Neste demo, jogamos no papel de uma pessoa capturada e trancada nas decadentes masmorras de uma luxuosa mansão. Testamos a porta da cela onde nos encontramos, e, claro, está trancada. Rapidamente analisamos os nossos redores e encontramos uma nota que nos vai dando algumas pistas sobre como ter uma hipótese de escapar. Depois temos de rastejar, encontrar alguns itens e desbloquear passagens escondidas, até chegar às áreas mais requintadas do edifício onde estamos presos. Aqui, é um pouco mais do mesmo: descobrir itens escondidos para desbloquear salas, e encontrar a chave que nos permitirá concretizar uma escapatória milagrosa, com um encontro com Lady Dimitrescu pelo caminho. Fim do demo. Sim, como já havia indicado, mecanicamente este demo é algo… pobre. Os “puzzles” não deslumbram, requerendo ir a um sítio, encontrar um item, voltar um pouco atrás para recolher uma qualquer chave, e voltar ao caminho original para progredir.


Mas vamos ao foco desta curta experiência. Visualmente, estamos perante um demo riquíssimo. A decadência das masmorras é genuinamente arrepiante, com os vários corpos mutilados e aparelhos de esquartejamento ou de tortura a transmitirem uma sensação desesperante como apenas Resident Evil (e talvez mais uma mão cheia de jogos) consegue. Neste ambiente escuro, cada pequeno ruído que quebre o silêncio parece ensurdecedor, conseguindo implantar uma sensação de urgência. À medida que vamos avançando, cada sala vai ficando menos e menos decadente, mas não menos aterradora. Nestas salas, cada detalhe ambiental parece ter sido propositadamente colocado para instalar uma sensação de insegurança e receio pelo que poderá acontecer a seguir, o que é de louvar em experiências como esta.
 
Até que chegamos aos corredores luxosos da mansão. O contraste entre a nova luz, brilho e esplendor dos elementos decorativos e tudo o que acabámos de deixar para trás foi o que mais me espantou, sobretudo no que diz respeito à vertente visual. Parecia que tinha entrado num mundo completamente diferente. Mas apesar de esteticamente estar num lugar muito mais agradável, a sensação de perigo não diminuiu - bem pelo contrário. Muito rapidamente começamos a vislumbrar uma presença sombria, vestida com roupas escuras e que se mexe de modo estranho, e outros elementos sinistros, como uma lareira a queimar roupas que a nossa personagem reconhece como iguais às que tem vestidas. Tudo isto impele-nos a explorar esta secção do demo com um cuidado que destoa com a beleza do espaço, criando em mim uma dissonância emocional inquietante.
 

Portanto, tudo o que diga respeito ao design visual e sonoro cria eficazmente uma atmosfera de terror, exatamente o que queremos de algo ligado a Resident Evil. Mas nem tudo correu propriamente bem aqui. A dada altura, quando estamos prestes a chegar à sala com a porta de saída, comos confrontados por uma vampira, que começa a deslocar-se na nossa direção. “Ok, ela vem atrás de mim, isto vai correr mal”, pensei. Tentei trazê-la para uma posição que me permitiria ter uma mesa entre nós, de modo a conseguir dar a volta pelo outro lado e chegar à porta que me separava da salvação. Não resultou, ela apanhou-me, deu-me uma dentada, causando-me dano, o que me apanhou de surpresa. Mas vi o caminho livre para a porta, atravessei-a. Ainda tinha de chegar à saída, mas apercebi-me que a perseguição tinha terminado.
 
Esta instância foi, inicialmente, eficaz e criou uma sensação de urgência maior e ativou os instintos de sobrevivência aprendidos com outros jogos de terror. Mas este final deixou a impressão de tudo ter sido demasiado programado. Normalmente isto não é um problema, já que estes jogos costumam conseguir causar alguns sustos da primeira vez que se jogam, sendo menos aterradores da segunda vez. Mas, por algum motivo, este “automatismo” do cenário desiludiu-me. Sensação reforçada ao rejogar este demo e ao ver outros jogá-lo. Cheguei à conclusão de que era inevitável ser apanhado uma vez, e que a única maneira de voltar a ser atacado seria no caso de correr para outro sítio que não na direção da saída. Ou seja, o risco que realmente se corre na cena é quase zero, um pecado capital para qualquer experiência de terror.
 

Concluindo, é algo estranho olhar para este demo como algo representativo do que vamos encontrar em Resident Evil Village, sobretudo no que à jogabilidade e mecânicas de jogo diz respeito. Esta é uma experiência curta, extremamente linear e na qual não se encontra muito do que habitualmente está presente em jogos desta série. Não há combate, a única perseguição é demasiado “scripted”, não há qualquer gestão de inventário e, depois de passar pela experiência mais de uma vez, percebe-se que o risco que corremos é irrisório. Contudo, a atmosfera é genuinamente aterradora, com cada ruído ou sussurrar a gerar uma sensação de tensão com uma eficácia surpreendente. Portanto, não creio que esta tenha sido uma maneira particularmente eficaz de promover Resident Evil Village, na medida em que a sugestão do que esperar do jogo final é mínima.
 
Ainda assim, tenho de me questionar: estou menos entusiasmado com o jogo? A resposta é não, nem pensar. Estamos apenas perante um pequeno bónus oferecido aos jogadores com uma PlayStation 5, e algo que serve quase meramente para nos fazer lembrar que um novo Resident Evil está a caminho. O demo prometido para daqui a alguns meses deverá ser mais representativo do que este, mas, por enquanto, esta é uma distração agradavelmente macabra enquanto esperamos pelo dia 7 de maio.
 
Artigo por: Filipe Castro Mesquita
Primeiras Impressões – Resident Evil Village: Maiden Demo [PS5] Primeiras Impressões – Resident Evil Village: Maiden Demo [PS5] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on janeiro 30, 2021 Rating: 5

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