[Análise] Cyberpunk 2077 [PS4]




A passada geração testemunhou o surgimento de uma nova casa produtora de jogos, através do estrondoso sucesso de The Withcher 3. Naturalmente desde cedo foi enorme o interesse nos futuros projectos da CD Projekt o que levou a uma apoteose generalizada com a revelação, no longínquo ano de 2012, de Cyberpunk 2077. 

Apresentando um conceito completamente diferente dos seus títulos anteriores, Cyberpunk 2077 abordava claramente uma temática mais diferenciada e mesmo madura no que à profundeza da mente humana diz respeito. Efectivamente era claro que o projecto embrionário da visionária produtora era mais abrangente do que tudo o que se tenha visto até à data. 

Claro que existem inúmeros jogos em mundo aberto hoje em dia, mas Cyberpunk 2077 objectivava mais que isso. Procurava criar toda uma sociedade dinâmica, interactiva onde podemos nos perder e procurar viver a vida de inúmeras formas. 

Esta grandiosidade é algo que reconhecidamente devemos louvar pois é no seu amago um forçar das fronteiras existentes no panorama actual dos videojogos e que facilmente pode tornar-se como um portal de entrada para uma nova vaga daquilo que uma experiencia “vídeo jogável” pode significar a um nivel mais generalizado da população.




Por outro lado, cedo se confirmou que tal visão implicaria levar aos limites não somente o hardware existente, como também o motor gráfico “Red Engine” até agora utilizado pela companhia nos seus títulos. Mais que isso, denotou-se um levar ao extremo das próprias capacidades dos funcionários da empresa, através da implementação de politicas de Crush como foi divulgado durante esse periodo. Isto traduziu-se num período longo de produção com diversos adiamentos que inevitavelmente desenvolveu um aumento da ansiedade por parte da comunidade de jogadores e não só em experimentar este título. 

Cyberpunk 2077 chegou finalmente no passado dia 10 de dezembro de 2020, com mais de 8 anos de produção e uma reputação a manter para os produtores. Contudo cedo se começam a verificar problemas na qualidade do produto final. Por toda a grandiosidade que o título objectiva alcançar, encontra-se repleto de bugs, quer de origem gráfica, performance ou de mecânicas ingame. Se isso é suficiente para estragar a experiencia ao jogador, já vai depender do que cada um pretende do jogo e das suas expectativas, pois nenhum problema notado é verdadeiramente um “Game Breaker”.




Graficamente o jogo apresenta uma profundidade de caracterização de cenários excelente, com um ambiente perfeitamente caracterizado, diferenciado da restante industria, mas que demonstra falta de detalhe nos pormenores. Existe repetição em demasia de diversos itens espalhados pela cidade, assim como uma clara falta de texturas de melhor qualidade. Com os patches mais recentes, existiu um melhoramento claro neste campo, mas mesmo assim bastante inferior ao que as imagens providenciadas pela produtora durante a fase de produção apresentavam. Ainda assim, denotamos a necessidade em adaptar algumas opções gráficas para ter uma experiencia mais limpa e estável, levando a questionar o porque de o jogo já não vir assim preparado. 

Mas os bugs não param pelo grafismo e o comportamento dos NPCs e físicas ingame também surgem com problemas. Desde sombras irrealista, a NPS a ter movimentos erráticos, inimigos a ficarem congelados ou movimentações tipo “poltergeist” de elementos do cenário, tudo acontece, levando a uma redução significativa da interiorização da experiência. Infelizmente isto traduziu-se na nossa experiencia em algumas missões serem afectadas por eles. Por exemplo numa missão secundária que tínhamos a hipótese de falar ou matar um NPC, devido a este ter ficado congelado contra uma parede fomos forçados a mata-lo para dar como terminado a missão (perdendo desta forma o bónus que teríamos usando a via mais pacifica). Outra situação ocorreu numa das main quest, onde uma personagem ficou congelada numa passagem e não conseguimos prosseguir para o resto do mapa, levando à necessidade de carregar um autosave anterior.




Todos estes elementos em conjugação com os crashes recorrentes denotam claramente que este título em ainda tem muitas arestas para limar. Se a decisão da CD Projekt em lançar o título no estado que está, recorrendo a consecutivos patches para rectificação dos problemas detectados é a decisão mais correcta, somente o tempo o dirá. 

Ainda assim, a experiencia no global apresenta uma óptima premissa no que se refere ao evoluir da fórmula de jogos em mundo aberto. Em Night City temos inúmeras actividades que podemos realizar, desde eventos relacionados com gangs, actividades pessoais ou de lazer. A quantidade de possibilidades é efectivamente absurda ao ponto de inicialmente nos sentirmos impressionados. 

Mais importante que este facto, a produtora ao assumir um jogo na primeira pessoa, tomou a excelente decisão de minimizar ao máximo o tempo que tira o controlo da personagem ao jogador, dando um sentimento óptimo de “always on control” dos eventos que surgem. Esta situação vai contra ao que os jogos mais cinemáticos de hoje em dia tendem a seguir e confirma-se como uma óptima lufada de ar fresco, facilmente um dos melhores aspectos do jogo. 

Ainda assim, a verdadeira jóia de Cyberpunk 2077 é o seu setting. É um prazer verificar a direcção artística dos diversos bairros da cidade e como a ambientação e diversificação entre os períodos de dia e ontem podem afectar a vida citadina. Recomendamos vivamente que não utilizem os pontos de fast travel, pois não somente perdem importantes eventos durante a viagem ao ponto de destino que pretendemos, como também quebra imenso a interiorização desta experiência. Alias, é um prazer conduzir pelas ruas de Night City, observando somente os cenários e toda envolvência. A quantidade de edifícios que conseguimos visitar e entrar é enorme ajudando a providenciar uma sensação de realismo superior à maioria dos títulos open world existentes. 




Mas este título apresenta mais um importante trunfo na sua manga no que se refere à componente áudio visual: a sua banda sonora. Numa geração rica em títulos com banda sonoras magistrais como por exemplo Persona 5, Nier: Automata ou Life is Strange… Cyberpunk 2077 consegue possivelmente levar a coroa do jogo com melhor banda sonora de toda a geração. Apresentando uma variedade de faixas significativa, existe música para todos os gostos, devidamente enquadrada com o setting global do jogo e de uma qualidade reconhecivel. Verdadeiramente um elemento caracterizador de todo o jogo. Também os sons do ambiente ajudam imenso com o frequente barulho citadino desde carros a passar, pessoas a falar ou dos anúncios espalhados pela cidade. Se por ventura as falhas gráficas estão num lado da balança, no que se refere ao reconhecimento da grandiosidade existente no jogo, a banda sonora está do outro lado, ajudando balancear para o lado positivo . 

Efectivamente apesar de todos os problemas, a sensação predominante é estarmos perante um jogo grandioso. Isto traduz-se objectivamente nas mecânicas de jogo, no seu enredo e caracterização de personagens.




Em Cyberpunk 2077 assumimos o controlo de V. Um nome genérico para uma personagem que pode assumir papéis diversificados. Quer no que se refere ao seu género e preferências, quer na forma como abordamos os desafios impostos pelo jogo, existindo uma enorme variedade para escolher. Os elementos de evolução de personagem dentro do jogo parecerão demasiadamente complexos ao início, até ao ponto de nos apercebermos que consideram todas as vertentes possíveis e eventualmente vamos nos focar em somente uma ou duas que mais se ajustam à nossa forma de pensar e jogar. Por exemplo, tanto podemos seguir o caminho de um brutamontes que recorre frequentemente à força, como seguir o caminho de um “sweet talker” ou de um hacker. 

Com o decorrer das nossas actividades e conforme vamos usando as diversas habilidades da personagem vamos recebendo pontos de nível e de habilidade que poderemos distribuir conforme o nosso melhor entender. Neste caso, recomendamos vivamente que se foquem em não mais que três aspectos e que de preferência se conjuguem bem entre si.

Exemplificando, nós atribuímos a maioria dos nossos pontos para as vertentes Stealth (potenciando o dano e tempo de detecção quando estamos escondidos) e Hacking (para controlar melhor o comportamento dos inimigos), com uma pequena enfase adicional na vertente tecnológica (somente para poder abrir algumas portas secundárias para o stealth). Mas também facilmente poderíamos atribuir mais pontos à componente física para poder usar armas de maior calibre ou aumentar o dano em combate. Fundamentalmente é importante decidir cedo qual o caminho que pretendemos prosseguir e mantermo-nos nesse caminho. Isto porque ao contrário da maioria dos jogos, não chegaremos ao ponto que desbloqueamos todas as habilidades em todas as vertentes.




Denotamos aqui que a implementação das diversas mecânicas apresenta algumas falhas ou melhor dizendo, poderia ser mais refinada. Para o caso do hacking e stealth não verificamos nada que não existe melhor introduzido (entenda-se de uma forma mais integrada e abrangente com os cenários) em outros títulos como Deus Ex ou Watchdogs. Já o gunplay é fundamentalmente uma versão simplificada de outro títulos que providenciam uma melhor sensação proveniente da diversificação de armas existentes, como por exemplo Destiny ou Apex Legends. Estamos portanto perante um caso de muitas possibilidades mas sem verdadeiramente ser perfeito em alguma delas. Convenhamos ainda que estes jogos por nós indicados contam já com anos de experiência e vários lançamentos até aperfeiçoar as suas fórmulas específicas. 

Mas a personalização da personagem não fica por aqui e existem inúmeras combinações de implantes cibernéticos que podemos utilizar, assim como acessórios para diferentes tipos de armas. Novamente aqui é importante confirmar como abordamos o jogo. No nosso caso era essencial ter uma boa pistola com silenciador para conseguir ultrapassar os cenários sem ser detectado, ainda que lhe faltasse algum poder de fogo. Os implantes utilizados potenciando também uma ligação mais fácil às armas inteligentes e controlo do processo de hacking foi um must.

Com uma correcta e equilibrada configuração conseguiremos facilmente passar a maioria das missões impostas, pois a sensação global é que a nossa personagem é um pouco overpowered. Este aspecto em combinação com uma IA dos enimigos demasiado simplista, traduz-se numa dificuldade abaixo do esperado para um nivel de dificuldade "Normal".




Fundamentalmente o jogo dá-nos liberdade em abordar a aventura na melhor forma que pretendemos, ainda que certas situações claramente estão mais indicadas para certo tipo de jogadores do que outros. Algumas seções da história também muito dificilmente permitem utilizar esta multitude de possibilidades, sendo por vezes obrigados a seguir numa vertente mais de acção ou furtividade por motivos de enredo. 

Ainda assim, o sentimento de liberdade é generalizado mesmo seguindo os eventos da história de V. Começando pela própria natureza da personagem (Corporativo, Street Kid ou Nomada), teremos o inicio da nossa aventura em Night City em locais diferentes. Depois dos eventos iniciais do jogo e quando a história começa a abrir mais existem múltiplos romances, caminhos e finais que podemos atingir. 

Sem querer levantar muito o véu, a premissa é sermos um mercenário em Night city que faz todo o tipo de trabalhos. Após alguns eventos e missões que correm mal, vemo-nos numa corrida contra o tempo para salvar a nossa própria vida. Dizer mais que isto é difícil sem entrar em Spoiler, mas podemos confirmar que lidaremos com questões bastante interessantes e profundas sobre a nossa humanidade e aquilo que estamos dispostos a fazer em prol dela. Os destinos finais da nossa personagem também poderão ser difíceis de processar para o jogador, ainda que sejam bons finais e que providenciem um closure interessante à personagem.







Nota Editorial: Esta análise reflecte a nossa experiência do título  ao correr numa Playstation 5 e de acordo com as actualizações mais recentes à data ( versão 1.05).
Ainda que não seja contemplado na nossa politica editorial, ou alguma vez tenhamos verificado a necessidade de tal, reservamo-nos o direito de rever e actualizar este artigo conforme novas actualizações forem disponibilizadas.
Tomamos esta decisão em prol dos nossos leitores para que tenham sempre as mais recentes e exactas informações sempre disponíveis.




Conclusão 

Cyberpunk 2077 é um título que objectiva o que a indústria dos videojogos melhor poderá oferecer-nos no que se refere à criação de conteúdo criativo e interiorização de uma experiência diferenciada e interactiva. 

Reconhecidamente o seu lançamento conturbado não ajuda na avaliação geral do título, mas as fundações correctas estão bem sólidas e o produto final, após devidamente revisto tem a possibilidade de tornar numa referência no panorama actual. 

Por agora resta-nos aguardar para verificar quais os próximos passos da produtora e confirmar em como esta experiencia poderá evoluir. Da nossa parte deixamos a recomendação que é melhor aguardar pelas actualizações que se encontram programados com vista a obter uma melhor estabilização, assim reduzindo os problemas existentes na sua condição actual que a longo prazo tendem a tornar-se frustrantes. 





O Melhor: 
  • Setting cativante e ambientação envolvente;
  • Amplitude de possibilidades ingame em como abordar a aventura;
  • Controlo do eventos providenciado ao jogador, raramente tirando o comando das mãos;
  • Banda sonora do melhor verificado até hoje.



O Pior: 
  • Quantidade de problemas gráficos, fisicas e crashes;
  • Por vezes fraca IA ou inteligência de inimigos;
  • Fraca implementação das diversas mecânicas de jogo.






Pontuação do GameForces – 7.5/10 




Título: Cyberpunk 2077 
Desenvolvedora: CD Projekt RED 
Publicadora: CD Projekt 
Ano: 2020 




Autor da Análise: Carlos Silva 



 

[Análise] Cyberpunk 2077 [PS4] [Análise] Cyberpunk 2077 [PS4] Reviewed by Carlos Silva on dezembro 26, 2020 Rating: 5

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