Análise | Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition - A Arte de Bem Explorar!


No vasto horizonte de Mira, onde o céu rasga os limites da imaginação e os campos se estendem em direções quase infinitas, uma nova oportunidade surgiu para redescobrir um dos mundos mais ambiciosos da era Wii U. "Xenoblade Chronicles X Definitive Edition" chegou, finalmente, à Nintendo Switch, e fê-lo com a graciosidade de um colosso desperto de um longo sono. Esta remasterização é mais do que uma atualização técnica: é um tributo renovado a uma obra que ousou sonhar alto, agora com as ferramentas certas para que esse sonho brilhe como sempre mereceu.

O planeta Mira volta a estender-se perante nós, colossal e misterioso, numa experiência que começa com a mesma sensação de pequenez perante o desconhecido, mas que agora ganha nova profundidade graças a uma série de melhorias bem pensadas e executadas. A Monolith Soft não se limitou a trazer o jogo para uma nova plataforma — lapidou-o. E nessa lapidação, algo mágico aconteceu: Mira parece agora mais real, mais viva, mais ameaçadora e, ao mesmo tempo, mais fascinante.


Logo desde os primeiros momentos, é impossível ignorar a evolução gráfica. Onde antes o mundo era construído por grandes massas de terreno com texturas lavadas e nevoeiro digital a tentar esconder limitações técnicas, agora cada bioma tem uma nitidez e um detalhe impressionantes. Afirmo sem hesitação que é facilmente o jogo mais bonito e polido de toda a série e um dos mais belos da consola. As vastas planícies de Primordia revelam-se com uma paleta cromática mais rica, as águas cintilam com reflexos dinâmicos e a vegetação ondula de forma natural ao sabor do vento. O céu, um elemento fundamental na criação da atmosfera do jogo, tornou-se uma tela em constante mutação, com auroras, nuvens volumétricas, por do sol escarlantes e uma iluminação muito mais realista a dar uma nova dimensão às horas do dia.

Esta remasterização atinge uma resolução nativa de 1080p em modo TV e 720p no modo portátil, com uma fluidez constante de 30 frames por segundo. A diferença é sentida em todo o lado: nas batalhas, agora mais suaves e legíveis, na movimentação pelas cidades e zonas abertas, e nos voos espetaculares a bordo dos Skells, os mechas icónicos que definem tanto da segunda metade da experiência. A resposta do jogo é precisa, o tempo de carregamento foi drasticamente reduzido, e a experiência geral é fluída e contínua, desta vez sem os soluços que tantas vezes interrompiam a imersão no original.


Mas não é apenas a parte visual que sofreu um upgrade significativo. A banda sonora de Hiroyuki Sawano, que no lançamento original dividiu opiniões com a sua mistura arrojada de géneros como o hip hop, o rock sinfónico e a eletrónica industrial, regressa remisturada e remasterizada. O novo trabalho de equalização dá espaço à instrumentação, retirando compressão excessiva e oferecendo clareza a cada faixa. A música que acompanha os combates soa agora com mais potência, sem se sobrepor aos efeitos e diálogos. E, nos momentos de exploração, as paisagens sonoras respiram melhor, com temas como “No. EX01” ou “Uncontrollable” a revelarem nuances previamente abafadas. Há também composições novas, criadas especificamente para o conteúdo adicional da história, que mantêm a identidade sonora de Sawano mas com um tom mais melódico e introspectivo.

E é precisamente na narrativa que reside uma das surpresas mais aguardadas desta edição remasterizada. Uma das grandes críticas ao jogo original foi o seu final abrupto, que resvalou numa promessa de continuação que nunca se concretizou. Agora, essa dívida narrativa é em parte saldada. Um novo capítulo desbloqueia-se após a conclusão da campanha principal e funciona como uma extensão orgânica da história, oferecendo cerca de oito a dez horas de novo conteúdo jogável. Esta é definitivamente uma adição que irá ajudar a interiorizar melhor os eventos daquilo que é a experiência de jogar este título, mas que também coloca em causa uma possivel sequela.


Este epílogo leva-nos a zonas inéditas do mapa, com novas criaturas, objetivos e missões secundárias, mas, mais importante do que isso, mergulha em questões que o jogo original deixou em suspenso. Quem realmente são os habitantes de Mira? Qual é o papel dos Skells na arquitetura do planeta? Que destino aguarda a humanidade após a destruição da Terra? As respostas não são dadas de forma direta (como é apanágio da série), mas há pistas suficientes para que o jogador construa uma imagem mais clara do panorama geral. Este novo conteúdo é também mais focado em personagens, dando tempo de antena a figuras que antes estavam relegadas a papéis secundários e aprofundando relações, especialmente entre o protagonista e Elma, cuja presença ganha uma nova dimensão.

Em termos de jogabilidade, as fundações mantêm-se sólidas. "Xenoblade Chronicles X" continua a ser um RPG complexo, com sistemas de combate por turnos em tempo real que combinam cooldowns, posicionamento e sinergias entre classes. O sistema de progressão baseado em disciplinas militares oferece variedade e permite uma personalização profunda. Contudo, a remasterização traz ajustes à qualidade de vida que fazem toda a diferença: uma interface redesenhada, menus mais responsivos, um minimapa mais funcional e a possibilidade de definir pontos de interesse personalizados. Os tutoriais também foram reescritos para maior clareza, tornando a curva de aprendizagem menos intimidante para novos jogadores.


Talvez o maior mérito desta nova edição seja o respeito pelo espírito do original, ao mesmo tempo que corrige os seus maiores pecados. “Xenoblade Chronicles X” sempre foi mais sobre exploração do que sobre narrativa linear, mais sobre a experiência de se perder num mundo desconhecido do que sobre seguir um enredo pré-definido. Essa filosofia permanece intacta, mas agora o mundo convida à descoberta em vez de se esconder por detrás de limitações técnicas.

Para os veteranos, esta versão oferece não apenas nostalgia, mas redenção. Reencontrar Mira com os olhos de hoje é perceber que aquilo que parecia ambicioso demais era, na verdade, visionário. Para os que chegam agora, é a oportunidade perfeita de experimentar um dos RPGs mais ousados da última década. Estamos perante um jogo que nunca teve o destaque merecido, mas que agora está finalmente pronto para ser reconhecido.


Ainda assim existem alguns pontos menos positivos que a Monolotith por opção ou pura teimosia optou por manter. Principalmente a forte associação entre a estrutura das missões principais e a progressão das missões secundárias permanece presente. Também os jogadores que priorizem o enredo e narrativa em prol da experiência de exploração poderão torcer o nariz, muito devido à natureza fragmentada da história principal e inferior profundidade narrativa, quando comparada com outros jogos da série.

Em última análise e ponderando no sentimento impresso em nós pelas dezenas de horas passadas em  "Xenoblade Chronicles X Definitive Edition", consideramos que este jogo não é apenas uma segunda oportunidade para um título subvalorizado. É a concretização do potencial que sempre esteve lá, agora revelado sem filtros. É uma carta de amor a uma era de criatividade bruta, trazida para o presente com maturidade e respeito. E quando o sol se põe nos céus de Mira, e o horizonte se pinta de azul e laranja enquanto sobrevoamos montanhas e vales num Skell silencioso, percebemos que estamos a viver algo raro: a fusão perfeita entre tecnologia e imaginação.



Conclusão

Xenoblade Chronicles X Definitive Edition não é apenas um resgate técnico de um título perdido numa consola esquecida, é uma afirmação do valor duradouro da visão da Monolith Soft. Ao trazer de volta este épico de ficção científica com o cuidado e respeito que merece, a equipa não só redime as limitações da versão original como amplia o seu impacto. Com visuais aprimorados, uma banda sonora revitalizada, melhorias substanciais de performance e uma adição narrativa que fecha de forma mais satisfatória alguns dos fios soltos da história, este remaster oferece uma experiência mais coesa, envolvente e imersiva.

Acima de tudo é um convite renovado para explorar Mira com novos olhos, com a certeza de que, mesmo passados quase dez anos, o coração desta jornada pulsa com a mesma força. Para quem já conheceu este mundo, é um regresso emocionante. Para quem entra agora, é a oportunidade ideal de viver uma das aventuras mais ousadas e atmosféricas da história da Nintendo. 

 

O melhor
  • Mundo aberto deslumbrante e imersivo, onde o convite à exploração é a joia da coroa;
  • Banda sonora remasterizada que eleva toda a experiencia a novos patamares;
  • Melhorias técnicas evidentes a nivel de prestação gráfica;
  • Novo epílogo que acrescenta contexto e emoção ao final do jogo original.
  • Imenso conteudo secundário que acrescenta uma boa dose de imersão ao setting do jogo, embora...
O pior
  • ...Muitas missões secundárias podem revelar-se repetitivas;
  • Sistema de progressão poderá ser limitativo a quem pretende somente jogar a história principal;
  • Mecânicas de jogo que poderão reverlar-se demasiado complexas.




Nota do GameForces: 9.0/10


Título: Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition
Desenvolvedora: Monolith Soft
Editora: Nintendo
Ano: 2015-2025

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela editora.

Autor da Análise: Carlos Silva

Análise | Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition - A Arte de Bem Explorar!  Análise | Xenoblade Chronicles X: Definitive Edition - A Arte de Bem Explorar! Reviewed by Carlos Silva on abril 30, 2025 Rating: 5

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