Análise | Mario Vs. Donkey Kong – Regresso Divertido à Macacada


Está na hora de ir ao confessionário. Já falei anteriormente do quão fã sou do Donkey Kong que saiu para o Game Boy, inclusivamente do quão marcante foi por ter sido o primeiro jogo que alguma vez experimentei, quando tinha apenas 6 aninhos de vida. Mas a sua sequela, ou “sucessor espiritual,” como tantos gostam de lhe chamar, que chegou ao Game Boy Advance em 2004 passou-me completamente ao lado. Não me perguntem como, nem porquê, mas até há bem pouco tempo, não fazia ideia de que Mario Vs. Donkey Kong existia. E acreditem que massacrei o meu eu com 12 anos por tal transgressão. Felizmente, passados quase 20 anos da sua chegada, hoje tenho a oportunidade de corrigir erros do passado e passar por esta aventura que volta a colocar Mario frente a frente com o seu rival primata. Mas será esta uma macacada divertida na qual terei o prazer de participar, ou deveria esta experiência ter ficado fechada a sete chaves na portátil clássica da Nintendo?


A premissa de Mario Vs. Donkey Kong é muito simples. Donkey Kong parece ter conseguido acumular todas as bananas que quer e precisa, e está aborrecido a ver televisão. Até que lhe aparece um anúncio sobre um novo produto: um boneco robótico que se parece com o seu velho rival chamado Mini Mario. Por algum motivo obsessivo/compulsivo, o primata decide invadir a fábrica que produz estes bonecos e roubá-los todos. Mas Mario, naturalmente preocupado com o impacto financeiro da desvalorização dos seus direitos de imagem, aparece na cena e começa a perseguir o primata, reacendendo um velho conflito na tentativa de reaver os brinquedos roubados… e o valor da sua marca, provavelmente.

E com o regresso desta rivalidade, regressa também o género de puzzles e plataformas ao grande franchise dos jogos do canalizador mais famoso do mundo. Temos três tipos de níveis: os base, os de condução e os das batalhas boss. Os níveis base estão divididos em duas partes. Primeiro, temos de navegar obstáculos e evadir inimigos para pegar numa chave gigante e levá-la até à porta de saída, e depois temos de fazer o mesmo, mas apenas para ir até uma cápsula que contém um Mini Mario. Os níveis de condução envolvem conduzir um ou vários Mini Mario que nos seguem religiosamente, através de vários perigos até os levar até à saída. Por fim, os níveis de boss significam confrontar diretamente Donkey Kong, que nos tenta atirar com barris ou afetar os ambientes de modo a sofrermos dano largarmos um dos vários Mini Mario que fomos recolhendo.


Para dar conta do recado, Mario tem um leque de habilidades familiares ao seu dispor. Correr e saltar estão obviamente presentes, mas também regressam a possibilidade de agarrar e atirar objetos e inimigos (em vez de os matar assim que se salta para cima destes), a possibilidade de andar de pernas para o ar para evitar perigos que estejam a cair na nossa direção e para realizar saltos mais elevados, e a possibilidade de agarrar num martelo e aniquilar vários inimigos ou perigos ambientais. Não há power-ups, e levar qualquer tipo de dano – seja de tocar num inimigo, levar com um ataque adversário ou cair em espigões - leva a uma morte imediata e ao reinício do nível. Inicialmente, esta jogabilidade parece ser algo rígida, sobretudo quando comparada com títulos 2D mais recentes de Mario, como Super Mario Bros. Wonder, New Super Mario Bros. U Deluxe ou até Super Mario Maker 2. Mas muito rapidamente nos adaptamos a essa rigidez e nos apercebemos que se adequa perfeitamente à área de jogo de cada nível, bem como ao que cada nível exige de nós em termos de navegação.

Os níveis em si são curtos, cada um levando, em média, cerca de 1 minuto ou menos a ser resolvido. A ação passa-se toda num só ecrã, que teremos de analisar com alguma atenção até percebermos a sequência de ações que temos de desempenhar para concluir o nível com sucesso. Há que ter em atenção os posicionamentos e os movimentos de inimigos, os botões que ativam ou desativam elementos dos níveis, a distância entre plataformas e a exequibilidade dos saltos entre elas, e, claro, onde estão as chaves, as portas ou os Mini Mario aos quais queremos chegar. Adicionalmente, e caso queiramos obter uma estrela dourada no final de cada nível, temos também de planear um percurso que envolva colecionar os três presentes em cada nível.

No total, temos 8 mundos, cada qual com 6 níveis base, um nível de condução e uma batalha contra o poderoso macacão em cada um. Depois destes níveis, temos um último confronto com Donley Kong… que resulta no arquirrival conseguir deitar a mão a mais Mini Mario e voltar a fugir pelos vários mundos fora. Assim, chegamos aos níveis Plus, que são todos de condução com versões mais desafiantes das batalhas de boss pelo meio. No final disto tudo, e caso tenhamos vindo a colecionar estrelas douradas suficientes, podemos ainda desbloquear níveis extremos, que nos obrigam a colocar em prática tudo o que aprendemos sobre as mecânicas de jogo de modo a recolher a chave a escapar pela porta. Ah, e ainda há desafios de Time Trial para cada nível, que nos desafia a passá-los dentro de um certo tempo – a maioria não é muito difícil, mas alguns ainda podem obrigar a uma quantas tentativas.


Completar tudo isto deverá totalizar cerca de 8 a 10 horas de jogo, no máximo. O que para um jogo completo não é muito, é certo. Mas a verdade é que a vasta maioria do que é aqui oferecido é de elevada qualidade. Os níveis base, os níveis extremos e a maioria dos níveis Plus são divertidíssimos de resolver, e a curta duração de cada um é perfeita para o ritmo alucinante a que vivemos hoje em dia – tanto no que toca à indústria dos videojogos, como fora. Cada mundo apresenta novos inimigos e novos elementos a ter em conta enquanto analisamos os níveis e planeamos a nossa sequência de ações, e fica a sensação de que o jogo combina muitíssimo bem e explora com uma boa profundidade todos os elementos de introduz ao longo dos mundos.

E se forem fãs do Mario Vs. Donkey Kong original, certamente já terão reparado que este remake tem mais dois mundos do que o que chegou ao Game Boy Advance em 2004. São eles Merry Mini-Land e Slippery Summit, e ambos introduzem elementos completamente novos a esta experiência. O primeiro, coloca no leque de elementos ambientais as caixas de transporte (estilo as que encontramos em Super Mario 3D World) e flores que funcionam como ventoinhas que empurram objetos de uma plataforma para outra. Já o segundo, como o próprio nome sugere, introduz pisos congelados escorregadios. Todas estas novidades resultam em novos modos de transporte do próprio Mario, dos Mini Mario ou de diversos objetos pelos níveis, ampliando a variedade de design de puzzles presente no jogo. Mais do que isso, os níveis são de qualidade impecável, assentando de forma estupendamente coerente com o resto da experiência, denotando um trabalho cuidado e meticuloso como praticamente apenas a Nintendo conseguiria fazer.

No entanto, não podemos apenas atirar elogios para cima dos níveis apresentados nesta experiência. Os níveis base e extremos (novos e antigos) são todos de elevadíssima categoria, mas o mesmo não pode ser dito de todos os níveis Plus. Não nos interpretem mal, a ideia de ter de guiar um Mini Mario por um nível, passando a ter de ter cuidado com duas personagens super vulneráveis a qualquer perigo ambiental, é boa, e introduz uma mudança de ritmo engraçada. Mas essa graça esgota-se algo rapidamente.


É muito mais divertido ter de planear como atingir um certo ponto do nível ou como ir buscar e transportar um objeto para uma saída do que comandar indiretamente um Mini Mario que nos segue cegamente. Já para não falar de que os movimentos do Mini Mario não são tão imediatos e são ainda mais rígidos do que os de Mario, resultando em vários momentos em que se perde vida de forma algo frustrante. É impressionante este jogo incluir duas formas de jogar bastante distintas dentro do mesmo template, mas há claramente uma forma de jogar que achamos mais interessante e divertida.

Até porque, para além da maior lentidão e rigidez do Mini Mario, os níveis Plus expões ainda mais um dos grandes problemas desta experiência – a inconsistência das caixas de contacto (hitboxes). Mesmo nos níveis base, é bastante comum as poucas mortes que sofremos deverem-se ao choque inesperado com um inimigo um com um perigo ambiental. Uma vez ou outra porque sabemos exatamente o que fazer para conquistar o nível e, na pressa para o fazer, acabamos por ser algo descuidados, é certo. Mas a maioria destas é porque acabamos por contactar inesperadamente com um desses perigos – inesperado porque os limites do contacto de Mario e Mini Mario com vários desses perigos não são visualmente claros. Lembramo-nos bem de mais de uma mão cheia de ocasiões em que estávamos convencidíssimos de ter feito um salto bem-sucedido para cima de um inimigo apenas para ver Mario a olhar para nós a queixar-se de um toque aparentemente problemático. E sim, o menor controlo sobre Mini Mario exacerba este problema, e de que maneira.

Agora, nada disto faz com que Mario Vs. Donkey Kong seja um jogo difícil. Bem longe disso, é uma experiência sempre relaxante e acessível, apesar dos níveis Plus serem um pouco mais enervantes. Mas ainda assim, caso queiram ter uma experiência completamente livre de stress, têm sempre um novo modo de dificuldade casual. Neste modo, são introduzidos checkpoints e um contacto com inimigos ou perigos não resulta numa morte imediata, mas antes num regresso ao ponto de partida do nível ou a um checkpoint. Nestes regressos, os níveis não são reiniciados, pelo que qualquer mudança que tenhamos feito no nível (ativação de blocos, inimigos derrotados, etc.), podendo facilitar mesmo muito a resolução de um nível.


Este modo de dificuldade não será recomendado para a maioria dos jogadores, já que torna toda a experiência tão fácil que se torna entediante, mas pode ser uma porta de entrada interessante para jogadores inexperientes ou para crianças. Sobretudo quando emparelhado com outra grande novidade deste remake – o modo cooperativo. Muito sinceramente, se estiverem a jogar com alguém que já tenha pegado num comando mais do que meia dúzia de vezes na vida, este modo cooperativo não acrescenta grande coisa.

Os níveis ficam muito mais fáceis, e as únicas diferenças são os níveis terem mais uma chavezinha para recolher e o facto de a jogabilidade como Toad (sempre o jogador 2) ser mais rápida e fácil. Ou seja, nada de especial, já que os níveis claramente não estão desenhados para dois jogadores, e a facilidade com que nos deparamos torna-se aborrecida. Por isso, apenas conseguimos imaginar que este modo tenha sido desenhado a pensar naqueles que passaram pela experiência original há 20 anos e agora têm um filho ou um sobrinho novo na família. Aí acreditamos, e muito, no valor deste modo cooperativo. Mas fora essa situação, é um modo que pode passar muitíssimo ao lado.

Para terminar, há que olhar para alguns detalhes mais técnicos. Visualmente, o jogo deu um claro salto qualitativo, ao apresentar-se num estilo artístico colorido, vibrante e, acima de tudo, bem polido semelhante ao dos jogos New Super Mario Bros.. A banda sonora é competente, mas pouco memorável, sendo a grande qualidade dos efeitos sonoros a estrela da vertente auditiva desta experiência. Não podemos deixar de dar uma palavra de apreço aos efeitos sonoros que foram buscar ao Donkey Kong original, que nos fizeram umas cócegas nostálgicas muito calorosas. Por fim, o jogo corre de forma consistentemente bem, tanto em modo de televisão como no modo portátil, não havendo qualquer soluço técnico nem gráfico com o qual nos tenhamos deparado em qualquer uma das maneiras de jogar.


Conclusão
Mario Vs. Donkey Kong marca um regresso competente e, acima de tudo, divertido de uma das subséries mais subvalorizadas do famoso canalizador. A maioria dos níveis é simples e curta, mas muitíssimo bem desenhada, oferecendo uma grande variedade de desafios. A nova pintura do jogo também é apelativa, os novos níveis acrescentam vários elementos novos e o modo casual (juntamente com o modo cooperativo) podem ser a porta de entrada perfeita para mostrar a um mais novo o quão fascinante pode ser o mundo dos videojogos. Sofre um pouco por alguma inconsistência no que toca à qualidade dos níveis Plus e a alguns problemas na deteção de colisão e contacto com inimigos. Mas em geral, é uma experiência de qualidade, que agradará a novos jogadores bem como aos nostálgicos por este tipo de macacadas.

O Melhor:
  • Níveis com designs interessantes e puzzles divertidos
  • Boas batalhas boss e muito boa variedade de perigos e inimigos
  • Jogabilidade bem adaptada ao género
  • Vários novos níveis e novas mecânicas de jogo para usufruir
 
O Pior:
  • Algumas caixas de contacto inconsistentes
  • Níveis Plus são muito menos interessantes
  • Modo cooperativo acrescenta muito pouco

Pontuação do GameForces – 7.5/10
 
Título: Mario Vs. Donkey Kong
Desenvolvedora: Nintendo
Publicadora: Nintendo
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | Mario Vs. Donkey Kong – Regresso Divertido à Macacada Análise | Mario Vs. Donkey Kong – Regresso Divertido à Macacada Reviewed by Filipe Castro Mesquita on março 07, 2024 Rating: 5

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