[Análise] Super Mario 3D World + Bowser's Fury [NSW]

 

Desde 2017, os utilizadores da Nintendo Switch clamam por ports da Wii U, por uma nova oportunidade de vivenciar os títulos da desventurada consola. Entre todos os títulos desejados, Super Mario 3D World, o Mario 3D exclusivo da Wii U, era um dos mais requisitados.

É interessante justapor esta curiosidade atual por 3D World com a aversão que o público manifestara na revelação inicial do jogo em 2013. É difícil censurar quem se desiludira com esta revelação, devido ao contexto muito particular da altura. No ano anterior a este anúncio, dois jogos New Super Mario Bros. foram lançados, com pouquíssimas novidades comparativamente a New Super Mario Bros. Wii. Por esse motivo, quando Super Mario 3D World foi revelado como uma sequência a Super Mario 3D Land, o jogo Mario em três dimensões da Nintendo 3DS, e não como a revolução que os seus predecessores sempre instauravam, os fãs começaram a temer que a inércia de New Super Mario Bros. se começasse a infiltrar nos prestigiados Mario 3D. Se estes receios eram fundamentados, a verdade é que levaram a que muitos mostrassem desinteresse no jogo com base naquilo que ele não é, em vez de o apreciarem por tudo o que ele eximiamente faz.

Sim, é verdade que este jogo reutiliza a base estabelecida por Super Mario 3D Land. Tal como o jogo da 3DS, 3D World divide-se em mundos compostos por uma série de níveis lineares, que o Mario deve atravessar com a ajuda de vários Power-Ups de modo a alcançar a Bandeirola,  – uma estrutura que aproxima os estilos Mario 2D e 3D. A gama de movimentos das personagens é limitada, o movimento da câmara é bastante restrito, e até os requisitos para terminar o jogo a 100% parecem ter sido importados diretamente do seu predecessor.

No entanto, é injusto colocar os dois jogos no mesmo plano. 3D World não é simplesmente mais 3D Land, é 3D Land muito maior e muito melhor. Se 3D Land aplicou este modelo para com sucesso trazer Mario 3D a uma consola portátil, 3D World usa estas restrições como veículo da sua filosofia.

Por um lado, a linearidade e a segmentação por níveis deram aos desenvolvedores a fórmula ideal para nos entregar uma enxurrada de ideias e nos fazer vivenciá-las do modo exato que eles visionaram. 3D World não só introduz perspicazes toneladas de novas ideias como resgata vários elementos que marcaram o passado da série. Goomba Shoes de Super Mario Bros. 3, Chargin’ Chucks de Super Mario World, Bullies de Super Mario 64… Desde o vasto rol de power-ups clássicos aos inimigos e mecânicas que integram os seus mundos, Super Mario 3D World é uma carta de amor à série com a reunião dos seus infindáveis surtos de criatividade, em que em nenhum momento sentimos estar perante evocações nostálgicas superficiais, tal é o foco da aventura em integrar todos estes elementos como mais-valias para a experiência.

Cada nível do Reino das Anafadas apresenta-nos um conceito único que é desenvolvido de forma natural do começo ao fim, tornando a jornada variada, polida e focada na sua plenitude. Sem sequer pensarmos nisso, simplesmente jogando os níveis, procurando todas as Green Stars, ouvindo as suas fenomenais composições jazz, passamos por centenas de elementos e ideias únicas sem notarmos a sua vastidão e perfeita execução. É raro sermos verdadeiramente impressionados com 3D World, porque o jogo não o tenta fazer. Pelo contrário, o jogo faz tudo aquilo a que se propõe com uma incrível subtileza para que nunca nos distraiamos do foco do jogo: pura diversão.


Por outro lado, a câmara restrita e os mapas amplos permitiram pela primeira vez jogabilidade multijogador simétrica num Mario 3D. Super Mario Galaxy 1 e 2 e Super Mario Odyssey permitem a um segundo jogador participar na ação, mas o papel deste segundo participante é, digamos… menos digno. Enquanto o jogador 1 avançava pelo mundo conquistando os desafios de plataforma, derrotando inimigos e dissecando cada pedaço do mundo, o jogador 2 via-se a congelar inimigos no lugar e a recolher itens para o amigo – não sendo mais do que uma limitada mão de ajuda para ele.

Em Super Mario 3D World, quatro pessoas podem participar na ação controlando uma das cinco personagens disponíveis. As diferenças entre elas não são significativas, de modo a não tornar uma escolha inquestionavelmente superior, mas permitem acomodar vários tipos de jogadores. Por exemplo, a Peach pode flutuar no ar durante alguns instantes, tornando o jogo mais acessível para os mais novos. Independentemente da personagem que cada um escolher, todos os participantes têm acesso à mesma gama de ações, assegurando que todos tenham uma experiência de igual qualidade.

Apesar de a aventura ser excelente a solo, partilhá-la engrandece-a exponencialmente. Para além de memorizarmos cada um dos polidos níveis do jogo, passamos a recordar com regozijo todas as peripécias das quais estes foram palco. Falhanços coletivos, furtos de power-ups premeditados, sabotagem do progresso dos amigos, lutas pela coroa (que é concedida ao jogador com mais pontos no final de cada nível)… A possibilidade de interferir com os outros jogadores e a coroa dada ao participante com mais pontos acrescentam uma deliciosa pitada de rivalidade a este jogo co-op, que se torna assim fonte de inúmeras gargalhadas e sorrisos.

O resultado é um dos melhores títulos do canalizador, que recomendamos a todos sem pensar duas vezes. Seja sozinho, seja com amigos, seja uma criança, seja um adulto, é difícil alguém não se render ao charme, engenho e energia de Super Mario 3D World.

Se esta aventura já era incrível na Wii U, a Nintendo aproveitou este relançamento para a tornar ainda melhor. Foram muitas as mudanças realizadas ao jogo base, como podem constatar no nosso artigo dedicado às diferenças entre as duas versões, mas na prática são poucas as que têm impacto significativo na experiência. As alterações mais notáveis são os ajustes no movimento, e destas a que mais melhorou a jogabilidade foi o aumento da velocidade. Agora que experimentei a versão Switch, é-me difícil tolerar a velocidade das personagens na Wii U, visto que elas parecem ter chumbo nos sapatos. Pior do que isso, por várias vezes eu precisava de andar em círculos para atingir a velocidade máxima. Esta necessidade quebrava o ritmo da jogabilidade e era o meu maior problema com a versão original, pelo que é com agrado que digo que nunca precisei de a fazer no port. Porém, não é tão positivo o aumento da altura de escalada, que apenas torna o jogo mais fácil e trivializa alguns desafios.

Em contrapartida, a adição de um mergulho aéreo à gama de ações que podemos executar enriquece o nosso movimento, permitindo-nos ser mais inventivos com o modo como atingimos determinados locais do mapa, e funcionando ao mesmo tempo como uma forma de corrigir saltos mal calculados.

A outra grande adição desta versão é multijogador online. Agora, é possível jogar 3D World com amigos de qualquer parte do mundo, o que vem a calhar em plena situação pandémica. Esta é uma ótima forma de vivenciar o jogo: jogando com portugueses com conexões ótimas, apenas senti um ligeiro atraso nos movimentos. Contudo, jogando com amigos de outros países ou com piores conexões este pode tornar-se mais significativo e causar várias mortes desnecessárias.

As restantes alterações são globalmente benéficas, embora sejam bastante mais discretas do que as descritas acima. No entanto, quando a Nintendo faz questão de alterar pormenores insignificantes como a velocidade das bolas de fogo, pergunto-me porque é que ela não fez certas correções mais pertinentes, tais como a remoção do sistema de vidas, que não é nada mais do que um empecilho, ou do requisito de terminar todos os níveis com todas as personagens para ter todos os carimbos, que artificialmente prolonga o tempo de jogo.

Se este fosse um port qualquer, a análise terminaria aqui. Porém, neste relançamento foi incluída uma aventura completamente nova: Bowser’s Fury. Em Bowser’s Fury, unimos forças com Bowser Jr. (que pode ser controlado pela consola ou por um segundo jogador) para salvar o Bowser, após o vilão ter sido corrompido por uma substância negra que o transformou num imponente colosso furioso. Para o fazermos, temos de reunir vários sóis felinos para ativar o Gigaguizo. Este mítico item transforma o Mario no Giga Mario Gato, uma forma felina gigante do herói capaz de enfrentar o Bowser Furioso de igual para igual.

Enquanto Super Mario 3D World é profundamente linear, Bowser’s Fury é a antítese, concedendo-nos um nível de liberdade nunca visto em nenhum Mario anterior, nem mesmo Odyssey! Toda a ação se passa no Lago Felizgato, um arquipélago aberto com inúmeras ilhas para descobrir, que podemos alcançar nadando à garupa do dinossauro Plessie. Cada uma destas ilhas possui 5 sóis felinos, e alguns pontos do lago escondem sóis adicionais para recolhermos.

Ocasionalmente, o Bowser Furioso aparece mesmo não sendo chamado e tenta pôr um travão no nosso progresso, cuspindo fogo na nossa direção e fazendo cair meteoros e bolas de fogo à nossa volta. Por um lado, este vilão funciona como um obstáculo que dificulta a nossa travessia pelo mapa; por outro, existem sóis felinos que só conseguimos alcançar quando ele está presente. Se esperarmos algum tempo ou apanharmos um sol felino, o Bowser Furioso cessará o seu ataque; mas, se o derrotarmos com o poder do Gigaguizo, alguma da substância negra no arquipélago desaparecerá, dando-nos assim acesso a novas ilhas.

Somos nós quem decide quais sóis apanhamos e em qual ordem, sem que o jogo nos empurre para um objetivo específico. Os sóis felinos estão essencialmente bloqueados por trás de segredos ou desafios de plataforma, desafios estes que rearranjam os elementos do jogo base de modo sapiente em novas secções refrescantes. É um deleite explorar todos os recantos deste requintado mundo fazendo uso dos power-ups e da nossa gama de ações, de tal modo que é difícil pararmos sem termos encontrado todos os sóis felinos do Lago Felizgato.

A maior parte das ilhas de Bowser’s Fury apresenta o mesmo tipo de tarefas, como vencer um desafio contrarrelógio, recolher cinco fragmentos de sol felino e abrir uma jaula felina. Ao contrário do que parece, esta reutilização de conceitos não se torna repetitiva como acontece em Odyssey, visto que a execução das tarefas varia substancialmente consoante a ilha em que nos encontramos. Por exemplo, segurar uma chave restringe as ações do Mario ao seu salto clássico ou giratório, obrigando-nos a repensar a nossa trajetória até à jaula que queremos abrir – algo que é diferente consoante estamos numa ilha com tubos suspensos sobre água ou numa com chão assente.

A exceção a esta regra é os sóis “Demolição dos blocos de fúria”. Todos envolvem o mesmo processo: parar o Mario em frente a blocos de fácil acesso que só o Bowser Furioso pode demolir e esperar que o nosso arqui-inimigo os destrua ao cuspir fogo. De certa forma, sentimos que a não inclusão de sóis mais ambiciosos que obrigassem o jogador a realizar desafios únicos enquanto o Bowser Furioso o ataca foi uma oportunidade desperdiçada.  

O outro grande motivo para esta jornada não se tornar repetitiva é a sua curta duração. É possível terminar Bowser’s Fury a 100% numa tarde, mas note-se que esta campanha apresenta um enorme valor de rejogabilidade. Algo mais problemático do que a duração do jogo é a sua performance. Se em modo TV o jogo tem uma taxa de fotogramas alvo de 60FPS, em modo portátil a ação é menos fluida, com a redução da taxa de fotogramas para metade. Como se não bastasse, tanto em modo portátil como em modo TV assistimos a quedas da framerate, que são tão mais regulares quando mais progredimos e são mais notórias quando o Bowser Furioso lança os seus ataques.

Estes são, no entanto, problemas minúsculos face à excelência desta expansão. Bowser’s Fury é uma fantástica adição a Super Mario 3D World que coloca todos os elementos do jogo base numa nova perspetiva, funcionando como uma ode tanto à criatividade de 3D World como à evolução estrutural em que Odyssey consistiu.

Para finalizar, gostaríamos de assinalar que Super Mario 3D World + Bowser’s Fury é um dos poucos jogos da Nintendo na era Switch totalmente em Português de Portugal. A tradução do jogo não só permite que os mais jovens compreendam tudo o que é dito no jogo, mas também dá aos textos um toque só nosso!


Conclusão

Super Mario 3D World e Bowser’s Fury são duas faces da mesma moeda, duas aventuras diametralmente opostas em estrutura, mas unidas nos seus elementos, físicas e no seu propósito: conceder aos jogadores a mais pura e polida diversão. Se não o experimentaram na Wii U, este é um jogo obrigatório para qualquer pessoa com uma Switch; se já o vivenciaram, talvez as ótimas melhorias ao original e a inclusão do exemplar Bowser’s Fury sejam mais do que suficientes para vos convencer a revisitar um dos maiores triunfos da Nintendo na última década.


O melhor

  • Criatividade infindável;
  • Deliciosos desafios de plataformas;
  • Caos memorável para até 4 jogadores;
  • Memorável banda sonora jazz;
  • Adição de multijogador online, ajustes de movimentação e outras melhorias;
  • Totalmente em Português.


O pior

  • Problemas de performance em Bowser's Fury.


Nota do GameForces: 9.5/10


Título: Super Mario 3D World + Bowser's Fury
Desenvolvedora: Nintendo 
Publicadora: Nintendo 
Ano: 2013-2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

Autor: Tiago Sá

[Análise] Super Mario 3D World + Bowser's Fury [NSW] [Análise] Super Mario 3D World + Bowser's Fury [NSW] Reviewed by Tiago Sá on fevereiro 27, 2021 Rating: 5

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