Análise | Remnant II - Vais suar e não é do calor


Para quem jogou Remnant: From the Ashes, a prequela deste soulslike looter-shooter em terceira pessoa, vai certamente querer dar continuidade a esta magnífica saga com Remnant II.

Foi em 2019 que a Gunfire Games nos deliciou com este novo universo, desenvolvido num belíssimo ARPG capaz de rivalizar com outros jogos soulslike no que toca à dificuldade e ao nível de mistério que envolve toda a narrativa. Agora, em 2023, é finalmente lançada a tão aguardada sequela.



Em Remnant II, jogamos na pele de um sobrevivente num planeta Terra pós-apocalíptico onde uma raça (ou um vírus) de árvores malignas chamadas de The Root tenta controlar o multiverso (cá estamos nós novamente com este termo). 

Aproximadamente 20 anos após os eventos do primeiro jogo, temos novamente a oportunidade de aprender mais sobre este vírus que se alastra a olhos vistos e de o poder exterminar. Os habitantes da Ward 13, que viviam num bunker em From the Ashes, vivem agora no exterior numa pequena cidade construída por eles perto das docas. Os jogadores que estão de regresso poderão de imediato reconhecer algumas caras e explorar as novidades deste título.

É-nos apresentada Clementine, uma das personagens mais importantes nesta narrativa e que ajuda a arrancar os eventos de Remnant II após o seu desaparecimento na World Stone. Encontrada pelo nosso sobrevivente não muito depois, Clementine parece ter descoberto a sua vocação na companhia da entidade poderosa The Keeper, que nos encarrega de encontrar essências de seres poderosos (os World Bosses) espalhadas pelos vários mundos e realidades.



Este já batido conceito de multiverso acaba por funcionar muitíssimo bem nesta narrativa de Remnant, permitindo assim rejogabilidade com a frescura necessária para que essa "repetição" não ofereça uma experiência totalmente igual. 

Temos o clássico modo de Campanha, onde iniciamos a nossa jornada com acesso ao "bolo todo" no que toca à história principal do jogo, e liberdade total para explorar os mundos e as respetivas zonas que lhes são atribuídas, na ordem que o jogador bem entender. E, temos ainda um modo de Aventura que está segmentado por mundos, sendo necessário completar cada mundo (eliminando o World Boss do mesmo) no modo Campanha para que este segundo modo fique disponível através da World Stone na Ward 13.

O modo Aventura pode ser visto como um bónus com ligação à Campanha. Este modo permite-nos jogar novamente um mundo de início, numa dificuldade mais alta ou mais baixa e sem afetar o progresso no modo Campanha mas mantendo itens novos que possamos encontrar, podendo assim "farmar" materiais extra para melhorias e... (e é aqui que entra a parte realmente boa deste modo!) enfrentar novos desafios, puzzles, inimigos ou desvendar mistérios em quests secundárias, que possam não ter surgido da primeira vez que completamos o planeta selecionado, e com isso desbloquear novas armas ou acessórios para nos ajudar no progresso do modo Campanha. Uma dinâmica que, pessoalmente, não encontrei noutro looter-shooter até à data e que certamente aprecio.

"Mas porquê?", perguntam vocês. Explicarei mais abaixo.



Apesar de a história principal de Remnant II passar algo despercebida e pouco ou nada moldar o desenvolvimento do nosso personagem ao longo da aventura, o simples facto de cada mundo para o qual viajamos durante a jornada vir com a sua própria história e os seus problemas tão únicos a cada um e que nos cabe a nós resolver (ou não), dá uma importância e uma envolvência acrescida ao conteúdo secundário deste título.

Ao contrário do que acontece em Remnant: From the Ashes em que a história é bem mais linear na Campanha, desta vez temos um nível de profundidade bem superior. Remnant II chega-nos com um detalhe bastante interessante: podemos escolher a ordem dos mundos que completamos, e cada mundo vem acompanhado com mais do que uma história possível, ou com mais do que um número definido de zonas que são aleatoriamente atribuídos a cada jogador assim que clicamos em "Start Game" pela primeira vez. Dificilmente, dois jogadores terão a mesma experiência e a mesma história, e por isso o modo Aventura ter um papel tão relevante neste jogo e ser fortemente recomendado para aqueles que quiserem (e se tiverem a sorte de o jogo vos atribuir algo novo) conhecer as várias histórias em cada mundo de Remnant II.



Aliado ao fator aleatório dos mundos neste título, vem também um trabalho notório no que toca às escolhas gráficas e ao design de cada mapa. Temos uma expansão no tamanho de cada zona comparativamente ao primeiro jogo, e temos também um cuidado acrescido na variedade do visual dos planetas, cheios de personalidade e facilmente distintos.

Algo que também falhava em From the Ashes era a verticalidade, que agora vem com uma maior força ao associarem um salto ao botão de esquiva quando estamos nos limites de uma plataforma, permitindo ao jogador saltar e explorar novas áreas. Este ajuste permitiu ao pessoal na Gunfire Games explorar e adicionar opções como torres, elevadores ou arenas de boss com abismos ou plataformas.



O sistema de combate em Remnant II é certamente dos melhores dentro do género. De imediato, notei a suavidade e a rápida resposta aos comandos que fazia, dando uma sensação de liberdade enorme na transição entre ataque e esquiva, ou na utilização de habilidades ou consumíveis. 

Temos à disposição uma arma principal, uma arma secundária e uma arma corpo-a-corpo e cada uma destas três pode vir equipada com mods (habilidades especiais como, por exemplo, envolver as balas em ácido ou fogo) e com mutators (que aumentam % de dano ou ajudam a preservar balas, por exemplo).

E, como já referi em cima, não sendo a experiência de jogo igual para todos os jogadores, é impossível conseguir obter todas as armas ou acessórios que este jogo oferece numa única playthrough. O que faz com que a progressão da nossa personagem seja um desafio por si só, tendo constantemente que nos adaptar usando as cartas que nos são dadas, potenciando a necessidade de exploração e de combater contra tudo e contra todos na esperança de que algo melhor apareça ou que, pelo menos, consigamos materiais suficientes para melhoramentos.



Mas nem tudo é um mar de rosas, e de mãos dadas com o excelente sistema de combate, não passou despercebida a pouquíssima variedade de inimigos em cada zona.

Não querendo exagerar, consigo contar pelos dedos de uma mão os diferentes tipos de inimigo por cada mundo/bioma e, infelizmente, isto estende-se para as lutas contra bossesAlguns bosses são apenas versões em esteroides de inimigos que encontramos ao virar da esquina sem nenhuma mecânica adicional que possa tornar a luta ligeiramente mais interessante, pelo que o maior tempo necessário para os matar é a única diferença em relação ao inimigo normal correspondente.

No entanto, outros bosses (principalmente os mais relevantes para avançar na nossa jornada) estão de tal forma tão bem elaborados que somos obrigados a lidar com eles de forma bastante mais ponderada. Tentando evitar spoilers, consigo mencionar uma boss fight, numa zona que acredito ser obrigatória e igual para todos, em que temos que acertar "no alvo" várias vezes enquanto corremos pela nossa vida. Temos de estudar cuidadosamente o padrão, para evitar uma morte certa. Podemos até mesmo falar do último boss do jogo que testa a nossa paciência e a nossa memória a curto prazo, enquanto damos um uso excessivo, mas fortemente recomendado, à tecla de desvio.



Para finalizar, falo ainda do inteligentíssimo e extenso sistema de builds com hipóteses para todos os gostos.

No início da narrativa, após um breve tutorial, temos um de quatro Archetypes para escolher, uma classe que define tanto o nosso equipamento inicial como alguns skills e perks. Temos um Challenger que se foca em combate corpo-a-corpo, um Handler que vem acompanhado de um cão que podemos comandar, um Medic que dispensa explicações e um Hunter que se foca em combate de longo alcance.

Este molde inicial da personagem em nada afeta o estilo de jogo de cada um a longo prazo, havendo a possibilidade de alternar entre archetypes à medida que os vamos desbloqueando, e ainda a hipótese de encontrar mais sete archetypes secretos que não mencionei (podem ter um vislumbre de dois deles na imagem abaixo).

Podemos ainda conjugar com nossa classe o vasto leque de anéis e de amuletos que Remnant II oferece que, quando bem aplicados, potencializam o nosso estilo de jogo eleito, seja em dano ou em capacidade de sobrevivência com os quatro slots para anéis e um para amuleto que temos disponíveis.

Existe também o clássico sistema de leveling que, a cada subida de nível evolui a qualidade dos perks dos nossos archetypes e os respetivos skills.

E, temos ainda vários Tomes of Knowledge, livros de conhecimento espalhados pelos mapas, que nos dão pontos que podemos usar em Traits - habilidades passivas que oferecem bónus e buffs únicos ao jogador. Sejam eles traits core, como aumento da vida máxima ou da energia, sejam eles traits específicos aos archetypes (aumento do poder da cura de um Medic, por exemplo) ou traits normais como o aumento de área de efeito, redução de recoil nas armas ou aumento da experiência ganha. Mas não se sintam forçados a escolher tudo com máxima eficiência porque há um consumível que podem usar para dar respec a todos esses pontos em qualquer momento que achem indicado.



Finalizei o modo Campanha em 38 horas, passando pelo modo Aventura durante 6 horas para conseguir experienciar um dos mundos com zonas e mistérios diferentes. Tive ainda uma pequena passagem de mais 10 horas em co-op para analisar o scaling da dificuldade, sem achar que o jogo ficava mais fácil por ter alguém a cobrir a minha retaguarda.

Mas hei-de continuar a jogar, e vou tentar - já devidamente equipado - passar o jogo na dificuldade máxima, Apocalypse, cuja única mensagem de aconselhamento é "Good luck."! Yikes...



Com uma gráfica RTX 2070, um i7-9700K e 32Gb de RAM, tive a necessidade de jogar Remnant II em 1080p ao invés dos meus habituais 1440p para poder desfrutar de uma boa performance com a taxa de fotogramas acima dos 80fps com a consistência necessária, ainda que a 1440p este título apresente uma taxa de fotogramas com oscilação entre os 40fps e os 60fps.


Conclusão

Remnant II é, sem ponta de dúvida, um dos melhores looter-shooters da atualidade. Um título muito bem pensado, divertido e desafiante quer numa aventura a solo, quer numa aventura partilhada com até mais dois jogadores com conteúdo para dezenas de horas.

E... com três DLC previstos para dar continuidade a este brilhante ARPG, não vejo por que razão não poderá vir a crescer e a proporcionar mais e mais horas de diversão.

Um jogo que recomendo vivamente a todos os fãs deste género de jogos!



O Melhor

> Rejogabilidade com a alternância entre campanha e aventura;

> Fluidez do combate em geral;

> Variedade de builds e estilos de jogo;

O Pior

> Perda de relevância na história principal;

> Pouca variedade de inimigos.


Pontuação do GameForces: 8.5/10


Título: Remnant II
Desenvolvedora: Gunfire Games
Publicadora: Gearbox Publishing
Ano: 2023


Autor da Análise: Ricardo Neves


Análise | Remnant II - Vais suar e não é do calor Análise | Remnant II - Vais suar e não é do calor Reviewed by Ricardo Neves on agosto 22, 2023 Rating: 5

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