Project Zero: Maiden of Black Water [NSW]

Aquando do seu lançamento original, Project Zero: Maiden of Black Water parecia destinado ao esquecimento. Por algum motivo, este jogo de terror foi originalmente lançado como exclusivo para a Wii U, uma consola projetada para famílias e com uma base instalada minúscula, e apenas foi lançado em formato digital e, na Europa e Japão, numa edição física limitadíssima. Como tal, não só era um jogo pouco difundido, como também a sua obtenção era dispendiosa para quem tivesse interesse em jogá-lo.

Felizmente, graças a uma versão remasterizada recentemente disponibilizada para as plataformas atuais, já todos podem satisfazer a sua curiosidade em relação a este título outrora obscuro. Maiden of Black Water é a quinta iteração da série Project Zero, chamada Fatal Frame no Japão, e se já jogaram um dos jogos anteriores da série, vão sentir-se em casa com o seu mais recente título. A base da experiência é a mesma: os jogadores têm de explorar localizações assombradas por fantasmas, que só podem ser derrotados usando a Camera Obscura.

Em Maiden of Black Water, acompanhamos três personagens que, pelos seus mistérios pessoais, precisam de ir sucessivamente ao Mount Hikami. Esta montanha, em tempos um famoso lugar turístico e religioso, é agora conhecida como um desolado lugar de morte, onde indivíduos com ideação suicida se dirigem para terem uma morte “apropriada”.

Mount Hikami é composto por vários tipos de ambientes, como florestas, casas, cavernas e “santuários”. Todos estes são explorados, em diferentes capítulos, de um modo linear – tanto que, se de alguma forma nos perdermos, podemos premir ZR para sermos orientados para a direção certa. Como tal, quando não estamos na presença de um fantasma, praticamente só temos de caminhar em frente, não havendo sequer uma dimensão de stealth na aventura do trio. De vez em quando podemos ter de encontrar uma chave, mas tal tipicamente só implica procurarmos objetos brilhantes no chão. Pelo menos, ocasionalmente somos apresentados com uma fotografia e temos de tentar replicá-la com a Camera Obscura, procurando o lugar, posição e ângulo certos para tirar uma fotografia igual, que é o que o jogo tem de mais próximo de um “puzzle”. A resposta nunca é complexa, mas estas secções acabam por ser uma boa quebra na monotonia do resto da experiência.

Se optarem por fugir do caminho trilhado, poderão encontrar não só itens vantajosos, como “medicamentos” e película fotográfica, mas também pequenas notas que detalham a história de Mount Hikami. As cutscenes do jogo praticamente só nos dão informação sobre a jornada dos protagonistas, pelo que estas notas são essenciais para compreendermos os eventos que conduziram à deterioração da montanha e o papel e identidade dos fantasmas que a assombram. Ao aventurarmo-nos pela montanha, demos por nós a recolher e a ler todas as informações que encontrávamos. Embora uma porção das notas seja redundante, nunca deixou de ser intrigante saber mais sobre o mundo de Fatal Frame.

Nós consideramos que os desenvolvedores fizeram bem em incorporar estas explicações extra em notas opcionais, de modo a que estas funcionem como recompensa à exploração e não atrasem os jogadores mais apressados. Ainda assim, alguma desta informação poderia ter sido integrada nas cinemáticas ou diálogos, até porque a história centrada nos protagonistas é básica e recheada de acontecimentos irrelevantes. Embora os seus mistérios pessoais sejam interessantes, a maioria dos capítulos não os aborda e foca-se em tarefas desmotivantes e repetitivas, como o resgate de uma pessoa que voltou à montanha após nós a trazermos de lá, fazendo com que a narrativa pareça andar em círculos.

No começo, a monotonia da jogabilidade era disfarçada pelo medo que as localizações geram. No entanto, à medida que avançamos na história, o seu ritmo torna-se evidente, um sentimento de familiaridade instala-se, e as regras constritivas do seu mundo tornam os acontecimentos previsíveis. Podemos entrar em localizações temerosas, como uma cave inundada e escura cheia de bonecas, mas os seus objetos com potencial para nos assustar são completamente estáticos, não constituindo portanto ameaças. Nunca vemos um movimento desconcertante de folhas, ou passos sinistros a aproximar-se. O nosso medo só surge, numa fase inicial, por antecipação, e evapora-se completamente quando percebemos que as afrontas no nosso caminho se resumem aos fantasmas, quando percebemos a fórmula restrita que dita a aventura.

Os fantasmas são como tal as únicas forças que nos podem atacar ou surpreender, mas pouco demora até eles deixarem de ser intimidantes. Em Maiden of Black Water, o movimento dos vários tipos de fantasmas é restrito e calculável, e quase todos podem ser derrotados assim que os encontramos com a Camera Obscura, impedindo que sentimentos de impotência e pavor se instalem. Em consequência, os fantasmas em última instância servem como adversários em segmentos de “combate”, e não como fonte de terror.

As mecânicas que compõem o combate são interessantes: para atacar os fantasmas, temos de empunhar a Camera Obscura, e tirar fotos aos fantasmas para provocar dano, como se estivéssemos a jogar Pokémon Snap. O dano que provocamos pode ser aumentado de várias formas: por exemplo, podemos usar filme de fotografia mais “potente” e com recarga mais rápida, mas mais caro e limitado, ou enquadrando vários inimigos na mesma fotografia. Também podemos arriscar e só tirar fotografias no momento em que o inimigo nos ataca – num ataque poderoso chamado Fatal Frame e que nos permite tirar mais fotos sem termos de recarregar durante 1 segundo. Por fim, ainda existe um sistema de lentes: cada lente consome a nossa Spirit Gauge, uma barra de energia que enchemos ao tirar fotos a fantasmas, para nos permitir tirar fotografias poderosas que regeneram a nossa vida, provocam mais dano ou atordoam os inimigos.

Infelizmente, esta riqueza mecânica é irrelevante para quem apenas se preocupar com acabar o jogo – tudo por causa da opção de podermos desviarmo-nos dos ataques com um dodge cujo timing é demasiado generoso. Mas se quiserem alcançar rankings entre A e S+, terão de aproveitar ao máximo este sistema para terminarem o combate rapidamente e com excelentes pontuações, naquela que é sem dúvida a forma mais entusiasmante e divertida de desfrutar de Project Zero.

Se já tiverem jogado Maiden of Black Water na Wii U, não há razão para investir nesta versão. Para além da portabilidade que acompanha todos os títulos da Switch, esta remasterização só introduz um modo fotografia, em que podemos não só mudar a posição da câmara mas também a posição e animação das personagens, novos fatos para os protagonistas (sendo que os fatos de Zelda e Zero Suit Samus foram removidos nesta versão) e um modo Very Easy para que mais jogadores possam aventurar-se pelo Mount Hikami.

A jogabilidade pouco mudou, apesar de a experiência na Wii U ter sido projetada para dois ecrãs. Neste remaster, a Koei Tecmo limitou-se a restringir os dois pontos de vista nos combates da versão Wii U aos modos de utilização. Como tal, se jogarem em modo TV, terão a versão mais abrangente do cenário enquanto usam a Camera Obscura, sendo o retângulo no centro correspondente à área de captura da câmara. Mecanicamente, pouco se perde; contudo, jogar com este ponto de vista quebra a imersão que era conseguida com o GamePad. Já se jogarem em modo portátil, o ecrã da Switch corresponderá ao ecrã da câmara, que na Wii U era apresentado no GamePad. Os controlos continuam a funcionar com controlos de movimento, embora seja possível desativá-los em favor de um esquema mais tradicional.

Graficamente, as versões são praticamente iguais: os modelos das personagens são cativantes, embora pouco expressivos, e a apresentação dos locais é convincente. Todavia, esta versão introduziu problemas de performance que não existiam na Wii U. Jogando em modo TV, Project Zero raramente atinge os 30FPS, levando a uma experiência de jogo extremamente desconfortável. Já em handheld, o jogo mantém-se a 30FPS a maior parte do tempo, mas ocasionalmente verificamos quebras da taxa de fotogramas e stutter.


Conclusão

Embora a história e mecânicas de combate brilhem em Project Zero: Maiden of Black Water, a previsibilidade deste jogo leva a que este título de terror, em pouco tempo, perca qualquer tipo de impacto no jogador. As novidades que a remasterização introduz nada servem para mitigar este problema, uma vez que em nada influenciam a jogabilidade em si.

Ainda para mais, esta versão é manchada por problemas de performance que mancham gravemente a experiência, especialmente em modo TV.


O melhor

 - World-building intrigante, usada como recompensa pela exploração;

 - Ótimas mecânicas de combate;

- Modelos de personagens apelativos.


O pior

 - Personagens pouco expressivas;

 - História circular e repetitiva;

 - Mundo inerte, incapaz de surpreender o jogador;

 - Função de desvio demasiado generosa;

 - Problemas de performance.


Nota do GameForces: 6.5 / 10



Título: Project Zero: Maiden of Black Water
Desenvolvedora: Koei Tecmo
Publicadora: Koei Tecmo 
Ano: 2014-2021


Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Koei Tecmo.

Autor: Tiago Sá

Project Zero: Maiden of Black Water [NSW] Project Zero: Maiden of Black Water [NSW] Reviewed by Tiago Sá on novembro 20, 2021 Rating: 5

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