[Análise] Persona 5 Strikers [PS4]




Persona 5 chegou e arrebatou o coração à sociedade gamer. O título de 2017 da Atlus conseguiu capturar a essência daquilo que a série era e do que poderia se tornar. O seu sucesso foi de tal forma que diversas edições e spinoffs se sucederam, sendo Persona 5 Strikers o último lançamento desta série.

(De notar que esta análise corresponde à versão PS4 do jogo, experienciada numa PS5 através da retrocompatibilidade. Futuras versões PS5 nativas ou experiências de jogo na PS4 ou PS4 Pro poderão diferir um pouco, sobretudo no que toca a aspetos técnicos.)


Seguindo as aventuras de um grupo de estudantes colegiais, o título original conseguiu a proeza de refinar ao máximo a formula da série Persona, onde durante o dia seguimos as aventuras sociais do nosso grupo e à noite assumimos o protagonismo de ladrões de corações (Phantom Thieves) dos malfeitores da sociedade. Com um trabalho exímio no que se refere ao grafismo, banda sonora, enredo e caracterização de personagens, é um jogo que consegue captar a atenção do jogador durante as longas horas de jogo, atingindo a categoria de “obra-prima”, na nossa analise.

O título original viu, no seu final, uma conclusão satisfatória, ainda que notoriamente propensa a novas aventura deste nosso grupo de ladrões. Persona 5 Strikers começa quando, passados 4 meses dos últimos eventos, o protagonista regressa a Tóquio para passar as férias de verão com os seus amigos. Após uma sucessão de eventos, o impossível acontece e eis que novamente nos veremos numa corrida para salvar a sociedade Nipónica de malfeitores que procuram controlar todos os seus desejos.



Efectivamente o enredo desconstrói um pouco as mecânicas observadas no título original e consegue introduzir diversas novas dinâmicas dentro do mundo cognitivo que exploramos enquanto Phantom Thieves. Todas estas dinâmicas, assim como as ligações com aquilo que durante dezenas de horas interiorizamos em Persona 5 é devidamente reformulado e justificado, nunca ocorrendo o sentimento que algo foi deixado ao acaso ou que os produtores se esqueceram de importantes mecânicas do original.

Ainda que estejamos a falar em particular das mecânicas de exploração dos mundos cognitivos e do enredo em si, facilmente podemos justapor as mecânicas de RPG ou outras componentes áudio-visuais na mesma situação. Persona 5 Strikers é claramente uma evolução de Persona 5, onde não somente contamos com um evoluir sustentando da história e crescimento das personagens, como também visualmente e na banda sonora mantém o que por si já era perfeito.

Por isso podem contar com uma banda sonora e arte gráfica de excelência, ainda que seja de notar que devido à liberdade total da câmara se note que a modelação de alguns cenários poderia ser melhor concretizada e que deveria existir algum efeito de antialising para evitar os óbvios serrilhados em algumas situações. Em Persona 5 Strikers, iremos passar por uma experiencia que nos leva numa viagem por todo o Japão, desde Tóquio, passando por Sapporo, Okinawa ou Osaka. Ainda que todos os cenários consigam providenciar uma experiencia com um sentimento “nipónico” ao jogador, sentimos que um melhor cuidado da sua modelação poderia beneficiar o título. Não obstante, os cenários transmitem vida pelos seus poros, em particular locais como Okinawa, muito devido à reacção do grupo ao visitá-los e às óbvias referências japonesas.




Durante esta nossa viagem pelo Japão teremos de invadir diversas prisões cognitivas, as masmorras que vieram substituir os palácios, que por motivos de enredo não iremos abordar aqui. Ainda assim podemos caracterizar estas novas "masmorras" como locais onde os seus monarcas conseguem, de uma forma cognitiva, roubar os desejos das pessoas normais e controlar o seu sucesso no mundo real. Durante as primeiras missões encaixamos numa rotina frequente em cada uma: chegar a um local novo; investigar qual a senha de acesso à prisão; infiltrar a prisão; derrotar um boss para acesso ao boss final; e por fim derrotar o boss da prisão. Contudo, a meio da aventura a história é completamente arrebatada e tudo começa a acontecer de uma forma mais dinâmica e fluente. Este é uma óptima arrancada para o jogador que até lá estava num ritmo constante de interiorização das mecânias de jogo e na altura ideal (antes de começar a cair na monotonia) o jogo concretiza algo que nos mantém com interesse e vontade de continuar.

Mas, para além da história e mecânicas de jogo, é também nesse momento que surgem novas personagens, inclusive novos membros para a quadrilha de ladrões de corações. Para além das personagens originais, em Persona 5 Strikers somos brindados com duas novas personagens jogáveis. Ambos com uma introdução e caracterização profunda, que facilmente nos fazem acreditar que merecem estar ali, apesar de “chegarem tarde à festa”! Salientamos, contudo, que este título aparenta ser a continuação do jogo original e não Persona 5 Royal, pois as personagens específicas desse título em particular não são mencionadas durante toda a aventura. É compreensível esta decisão, pois nem toda a comunidade que jogou o primeiro título decidiu experimentar o seu remaster. Contudo, o enredo e o fim mais maduro e reformulado de Royal seria um ponto inicial muito mais interessante para a experiência extendida de Strikers.

Não podemos deixar de apresentar a nota que, enquanto consideremos que não seja critico para acompanhar a história de Persona 5 Strikers, os jogadores que não tenham experimentado o título original irão sentir-se algo perdidos ao início da aventura. As personagens já interagem entre si como velhos amigos e as referências a aventuras passadas são recorrentes. Uma introdução aos eventos anteriores seria definitivamente uma mais-valia para este título.



Abordando um pouco agora a jogabilidade, o facto de ser uma sequela digna do primeiro jogo, fará com que quase passe despercebido que na sua génese este é um jogo Musou. Persona 5 Strikers mistura perfeitamente os elementos profundos de RPG por turnos que Persona 5 possui com as mecânicas de combate do género Musou. Contudo fá-lo de um uma forma que nos leva a ponderar que nunca na vida jogamos um Musou… que de Musou parece ter pouco! Mas ao ponderar se isto é um mau sinal, não conseguimos encontrar justificativa alguma que invalide as opções consideradas pelos produtores.

Ainda que não seguindo a tradicional mecânica de um Musou, considerando batalhas em campos enormes, com diversa áreas para conquistar e generais inimigos para derrotar, consegue simplificar a fórmula de Persona ao seu essencial sem nunca perder a sua identidade. Isto resulta numa jogabilidade sem igual dentro do género, perfeitamente balanceando ambos os géneros.



Por vezes, o facto de não se associar a um RPG por turnos puro ou um musou pode levar o jogador a ter dificuldades em conseguir adaptar-se a este género. Eram frequentes as vezes que jogávamos “como um Persona” e morríamos por sermos sobrelotados de personagens… ou jogávamos como um Musou e morríamos por gastar demasiado rápido os pontos de SP (Skill Points que permitem às nossas personas usar as suas habilidades). Contudo, com o passar do tempo e habituação às mecânicas presentes começamos a denotar uma maior proficiência de luta, conseguindo utilizar as mecânicas correctas para as diferentes situações/batalhas que vamos encontrando. No final não podemos de afirmar que o sistema de batalha é uma justa homenagem a ambos os géneros e séries. Adicionalmente, a evolução do sistema que permite bónus nas batalhas e jogabilidade no seu geral ajudam a contrabalançar esta dificuldade.




Efectivamente as funções básicas de Persona continuam presentes, como por exemplo a captura, fusão e treino de personas (ainda que numa vertente mais simplificada que o original). Contudo, os social links foram completamente postos de lado (desculpem, não há dating neste jogo!), sendo substituídos pelo Bond System. Este sistema Bond funciona basicamente como um contador de experiência para todas as actividades que fazemos com os nossos amigos, desde as mais simples, até pedidos especiais ou missões secundárias. Á medida que acumulamos experiencia, vamos subindo de nível e cada nível fornece pontos Bond que podem ser trocados por diversos bónus.

A simplificação dos social links para algo mais básico como o sistema Bond, permite que o jogador não tenha de se preocupar com a gestão de tempo dentro do jogo (algo essencial em Persona 5). Desta forma o tempo evolui conforme o nosso interesse e não cada vez que fazemos uma actividade. O resultado é um sistema que permite uma maior liberdade para fazer tudo o que queremos e quando queremos, permitindo facilmente percorrer todas as actividades alternativas sem preocupações. Também as prisões deixam de ter esta pressão adicional, podendo entrar e sair quantas vezes desejarmos sem medo de avançar indesejadamente no tempo dentro do jogo.







Conclusões
Persona 5 Strikers é o perfeito sucessor do original. Introduzindo novas personagens e uma abordagem amplificada da cultura nipónica, permite aos jogadores sonhar e viajar para o pais do sol nascente e tudo aquilo que pode oferecer. Com estimulantes mecânicas de combate, é extremamente gratificante conseguir dominar os desafios maiores do jogo. A sua componente audiovisual continua a surpreender, mesmo quem já tenha experimentado o original.




O Melhor:
  • Digno sucessor do enredo de Persona;
  • Evolução das Personagens e caracterização dos novos membros;
  • Grafismo e banda sonora;
  • Mistura de géneros bem conseguida e desafiante.


O Pior:
  • Quem não jogou Persona 5 irá sentir-se um pouco perdido;
  • Efeito gráfico de serrilhado em demasia em algumas situações.





Pontuação do GameForces – 9.0/10



Título: Persona 5 Strikers
Desenvolvedora: Atlus
Publicadora: Bandai Namco
Ano: 2021



Autor da Análise: Carlos Silva



[Análise] Persona 5 Strikers [PS4] [Análise] Persona 5 Strikers [PS4] Reviewed by Carlos Silva on março 11, 2021 Rating: 5

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