[Análise] One Punch Man: A Hero Nobody Knows [PS4]


Depois de publicar séries de anime/manga como Dragon Ball, Naruto ou My Hero Academia sob a forma de videojogos, a Bandai Namco traz-nos agora a primeira adaptação de One Punch Man. Tendo sido encontradas fórmulas de sucesso com praticamente todas estas conversões para o mundo dos videojogos, a natureza da história e das personagens de One Punch Man impõe vários desafios a uma adaptação simultaneamente fiel e apelativa. Terão os estúdios da Spike Chunsoft acertado, ou terá o murro errado o alvo?


One Punch Man: A Hero Nobody Knows adapta a história de Saitama, que vive num mundo onde abundam monstros e heróis com poderes sobre-humanos. Farto de uma vida aborrecida, Saitama decide tornar-se um herói, e depois de 3 anos de treino intensivo, torna-se demasiado poderoso, conseguindo derrotar qualquer inimigo com apenas um murro. É aqui que começa a história deste jogo: depois de criarmos uma personagem, somos salvos por Saitama, que nem se apercebe da nossa presença no conflito. Este momento leva a nossa personagem a querer tornar-se um herói, e alistar-se na Hero Association, entidade que regula as atividades heroicas.

Assim, a nossa primeira atividade enquanto jogadores é criar uma personagem que utilizaremos no decorrer de toda a história. Ao longo do jogo vamos podendo desbloquear e adquirir novas peças de caracterização, e o leque de opções finais é bastante vasto e variado, sendo que cada uma é muito bem adaptada ao estilo artístico do mundo criado por One e ilustrado por Yusuke Murata. Contudo, é algo desapontante ver as limitadíssimas opções que temos ao dispor no início. Com apenas cerca de meia dúzia de peças de roupa, de caras e de cabelos, o mais certo é que o resultado desta criação seja insatisfatório, e que apenas se chegue ao nosso avatar ideal a meio da campanha.


Ao longo da história, vamos realizando diferentes missões atribuídas pela Hero Association, ou por NPCs que encontramos nas ruas. Ao fazê-lo, a nossa personagem vai passando de nível, ganhando mais reputação popular e mais reconhecimento heróico, o que nos leva a desbloquear mais missões e a subir no ranking de heróis. Assim, é criado um loop que rapidamente se torna algo repetitivo, uma vez que as missões se resumem a combater vilões em diversas condições, ou em interagir com outras personagens. Esta rotina apenas se torna mais motivante quando nos cruzamos com personagens reconhecíveis, ou quando se avança na história principal. Nesta última, o nosso avatar vai sendo inserido nos conflitos representados na primeira temporada do anime, interagindo com Saitama, Genos e os restantes heróis e vilões. Estes momentos estão geralmente bem concretizados, não sentido que estamos artificialmente inseridos nos momentos icónicos da história, e com as cutscenes sinceramente bem animadas e representadas.

Entre estas missões, somos colocados num pequeno mundo aberto. Esta consiste numa pequena cidade que contém lojas com itens de batalha, com peças de personalização e ainda um quarto nosso, que também é possível personalizar. Infelizmente, este espaço aberto, apesar de representar bem a cidade onde a maioria da série se passa, é extremamente restrito, roçando o claustrofóbico, e está muito pouco povoado. O único ponto positivo deste aspeto é a possibilidade de nos cruzarmos com personagens do anime. À medida que vamos interagindo com estas personagens, vamos cumprindo pequenas missões com eles, reforçando a amizade com estes. Estes são alguns dos melhores momentos do jogo, uma vez que os guiões estão bem escritos e vão ao encontro das personalidades de cada uma das personagens, incluindo momentos de humor semelhantes aos que se pode encontrar nos episódios do anime.


Felizmente, esta sensação de repetibilidade acaba por ser atenuada por um sistema de combate surpreendentemente profundo. A jogabilidade assenta num modelo de arena brawler em 3D, com cenários reconhecíveis da série, como a nave de Boros, a servirem de área de combate. As ações em combate são relativamente simples, com ataques leves rápidos, ataques pesados mais lentos, bloqueios, grabs, habilidades especiais – denominadas Killer Moves -, e uma transformação. No entanto, existe uma grande variedade de estilos e de Killer Moves que podemos atribuir à nossa personagem. Podemos optar por um estilo com armas, com implantes mecânicos, com poderes psíquicos, entre vários outros. Cada estilo disponibiliza ataques leves e pesados diferentes, e um leque de habilidades específicas. Quanto mais se utiliza determinado estilo, maior o número de Killer Moves que se pode utilizar em combate, e isto fomenta a experimentação com vários estilos e várias habilidades, até se encontrar aqueles que mais se adequam ao nosso estilo de jogo.

Para além destas componentes mais estratégicas e pessoais, as situações de combate contêm ainda diversos eventos dinâmicos. Estes eventos introduzem uma componente de imprevisibilidade verdadeiramente refrescante, podendo variar entre o aparecer de um item que melhora temporariamente um atributo, até à queda de meteoritos que danificam ambos os lutadores na arena. Outra mecânica interessante é a possibilidade de surgirem reforços, que podem ser personagens aleatórias ou reconhecíveis da série, podendo alterar a dinâmica e a estratégia de combate, quer a nosso favor, quer não. E é com esta mecânica que reside a genialidade da adaptação de Saitama ao jogo. Como seria de esperar, Saitama derrota qualquer inimigo com o carregar de um botão. Assim, a maioria das missões da história residem em combater os vilões icónicos da série, como Speed-o’-Sound Sonic ou Deep Sea King, e sobreviver até à chegada de Saitama, integrando a jogabilidade e a história de modo extremamente fiel ao material de origem do jogo.


Graficamente, o jogo está bastante bem conseguido, representando com bastante fidelidade o estilo artístico de Yusuke Murata. Sente-se que cada peça de roupa, ou estilo de cabelo, ou até as caras que podemos atribuir ao nosso avatar pertencem ao mundo criado pelo ilustrador e pelo autor do manga. As cutscenes adaptam com bastante fidelidade os momentos altos dos 12 episódios da primeira temporada do anime. Nunca chegam a ser tão límpidas como as da série, mas utilizam com bastante competência as capacidades do motor de jogo. Contudo, é nas animações dos combates que este título brilha. Cada habilidade, cada ataque e cada movimento das personagens, quer as da série quer as geradas com os elementos de personalização, são extremamente fluídas. O ponto alto do jogo é mesmo a animação de cada Killer Move, que recriam com uma fidelidade impressionante as várias habilidades utilizadas na série de One Punch Man.

No que toca à componente sonora deste título, One Punch Man: A Hero Nobody Knows apresenta um trabalho bastante competente. Os atores de voz japoneses e ingleses da série participam no jogo, fazendo um trabalho impecável que agradará a qualquer fã da mesma. Assim, é pena que apenas os momentos importantes da história principal contenham o trabalho de voz, uma vez que dar vozes a mais personagens ou nos momentos de missões secundárias teria acrescentado bastante valor à experiência. Quanto à música, não utilizando a banda sonora original e mas reconhecível da série, é feito um trabalho bastante competente para criar faixas musicais coerentes e semelhantes ao que se encontra nos episódios animados.


Relativamente a outros aspetos técnicos, One Punch Man apresenta níveis de qualidade mistos. Durante as situações de combate, a fluidez do jogo é sempre bastante satisfatória, correndo perto de 60 frames por segundo a grande maioria do tempo. Tem quebras ocasionais, mas nunca a chega a deteriorar o geral da experiência nestes momentos. Já em relação à navegação pelo mundo, a conversa é bastante diferente. Esta navegação sofre muito por haver bastantes quebras de framerate, algo surpreendente tendo em conta a escassez de elementos nestas áreas abertas. Outro problema que o jogo apresenta nestes momentos prende-se com a colocação de objetos. É extremamente comum dirigirmo-nos a uma sinalização de objetivo, e encontrarmos um espaço vazio, tendo que esperar uns segundos para que a personagem ou objeto em questão apareça e seja possível interagir com o mesmo.

Por fim, e sem surpresas, este título apresenta uma componente online. Quando se lança o jogo, pode escolher-se ativar o modo online, o que faz com que seja possível ver outros jogadores a navegar pelo mapa, bem como aderir a combates competitivos. Isto ajuda a tornar as áreas abertas ligeiramente mais povoadas, mas nunca o suficiente, uma vez é na área da Hero Association que a maioria dos jogadores se encontra. No entanto, isto permite que nos dirijamos a um avatar de outro jogador e desafiá-lo diretamente, ou propor trocas de itens. Sendo um elemento já expectável em jogos deste género, este modo de implementação da componente online e multiplayer pode acrescentar bastante longevidade a este título.


Conclusões
Em One Punch Man: A Hero Nobody Knows podemos encontrar um sistema de combate francamente surpreendente. A variedade de estilos ou de habilidades que se pode atribuir à personagem criada são vastos, e a componente de evento aleatórios durante as batalhas dão uma frescura necessária ao jogo. Também a mecânica de ter de aguentar um inimigo até surgirem reforços contribui para uma experiência diferente, para não falar de ser decisivo numa adaptação inteligente e fiel do protagonista da série. Pena as várias missões secundárias se tornarem tão repetitivas, alguns problemas técnicos aqui e ali, e a implementação de uma área aberta demasiado claustrofóbica e vazia. No fim de contas, One Punch Man: A Hero Nobody Knows é um arena brawler recomendável, que poderá surpreender fãs do género, e irá oferecer momentos deliciosos aos fãs de Saitama e das aventuras às quais chega sempre atrasado.

O Melhor:
  • Um sistema de combate profundo, com várias opções de estilo e de habilidades;
  • A adaptação de Saitama à jogabilidade é inteligente, e dá um toque único ao título;
  • As animações em combate são deslumbrantes e fiéis à fonte da adaptação;
  • No final, as opções de personalização da nossa personagem são bastante vastas, mas…

O Pior:
  • … as opções de caracterização iniciais são demasiado escassas
  • A componente de mundo aberto parece pouco viva e deixa algo a desejar
  • Alguns problemas técnicos, sobretudo na colocação de personagens ou objetos


Pontuação do GameForces – 7/10


Título: One Punch Man: A Hero Nobody Knows
Desenvolvedora: Spike Chunsoft
Publicadora: Bandai Namco
Ano: 2020

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 4, através de um código gentilmente cedido pela Bandai Namco Europe.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

[Análise] One Punch Man: A Hero Nobody Knows [PS4] [Análise] One Punch Man: A Hero Nobody Knows [PS4] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on março 13, 2020 Rating: 5

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