[Análise] Life Is Strange 2 [PS4]



A capacidade de conseguir contar uma história, desenvolver um enredo e caracterizar as personagens participantes é um dos aspectos essenciais para qualquer vídeo jogo que objective uma experiencia mais profunda. Este aspecto adquire uma relevância ainda mais preponderante quando os productores objectivam reduzir a componente de jogabilidade ao minino e focar principalmente na narrativa. Este é o grande desafio que os estúdios de jogos narrativos necessitam continuamente de ultrapassar para terem uma projecção de sucesso e continuidade.

Efectivamente existe uma bipolaridade na comunidade relativamente a este tópico. Por um lado, temos quem ache que estes títulos não são verdadeiramente vídeo jogos, pois a sua interacção com o jogador são reduzidos ao mínimo. Por outro, existe quem defenda que a forma como a narrativa se relaciona com o jogador, levando-o frequentemente a questionar aspectos da sua ética, moralidade e mesmo natureza é o que lhe define essencialmente como uma experiencia interactiva.

Por consequência, os produtores procuram sempre entregar uma combinação de narrativa e mecânicas diferenciadas com vista a poder manter a atenção dos jogadores. No caso da serie “Life is Strange” a aposta recai sobre a forma como a história e enredo são apresentados, com um pano de fundo extraordinariamente profundo e introspectivo. Enquanto o primeiro título focou-se na componente de viagem de tempo, para “Life is Strange 2” a grande aposta recai nas capacidades telecinéticas de uma das personagens e como o seu surgimento e refinamento afectou as vidas de todos em sua volta.




Em “Life is Strange 2” estamos mais uma vez perante uma ode à cultura Americana, onde seguimos as aventuras dos dois irmãos Diaz que vivem pacatamente nos subúrbios do Sul de Seattle com o seu pai. Numa reviravolta de eventos, o mais novo adquire poderes sobrenaturais que num acesso de fúria incontrolada leva a que tenham de fugir de casa e percorrer as estradas da costa oeste dos Estados Unidos, enquanto procuram atingir a sua terral natal “Puerto Lobos”, no México.

É nesta mesma viagem que podemos confirmar o quanto este título cresceu perante o anterior. Life is Strange, ainda que grandiosamente detalhado na sua narrativa e com interessantes componentes de viagem no tempo, toda a sua acção se passava na mesma cidade com as mesmas personagens. Já em “Life is Strange 2” a componente itinerante dos dois irmãos leva-os a percorrer diferentes localidades (incluído Arcadia Bay, onde ocorre as aventuras do primeiro), lidar com várias pessoas e testemunhar como estas afectam o amadurecimento do nosso duo. Estes aspectos levam-nos a absorver uma experiência que facilmente reconhecemos como mais ampla e com o sentimento de “não voltar para trás”.



O primeiro capitulo desta nova aventura serve fundamentalmente para criar o ambiente e definir os alicerces para a narrativa que será expandida. Mais uma vez somos presenteados com uma cinematografia (à falta de melhor descrição do termo!), extraordinária e verdadeiramente artística. As localidades, a forma de como a camara acompanha as aventuras dos personagens e interacções com os componentes que vão surgindo ao longo da viagem criam uma atmosfera quase mágica e melancólica. Existe uma componente substancial de introspecção da personagem principal que controlamos, o irmão mais velho Sean Diaz, proporcionando ao jogador um mergulho muito mais profundo na sua caracterização.

Estas componentes, no seu conjunto, poderiam ser suficientes para atingir um patamar que qualidade superior para este título. Felizmente a Dontnod tem a perfeita noção do que fez o seu título anterior ter tanto sucesso e mais uma vez não descurou a valência que permite envolver toda estas características e conseguisse arrebatar o interesse contínuo dos jogadores. Estamos a falar da banda sonora do título.

É certo que uma banda sonora ajuda muito em melhorar a experiencia global do jogo. Todavia neste caso em particular, a sua adequabilidade e forma como se relaciona com a história, as personagens e os cenários é de tal forma bem conseguida que deixa os jogadores quase como que num estado de hipnose perante a experiência transmitida. Efectivamente a banda sonora é uma das melhores componentes deste jogo e que nos deixa impressionados com a sua qualidade, desejando que todos os produtores tivessem a mesma atenção a este detalhe tão importante.



Entre o primeiro e segundo episódio existe uma aventura intermédia no mesmo mundo de Life is Strange 2, que está intimamente ligada às aventuras dos irmãos Diaz. Estamos a falar da demo “The Awesome Adventures of Captain Spirit”, a qual recomendamos vivamente que seja jogada antes do episódio 2, pois permite ter uma profundidade muito maior da caracterização de uma personagem interessantíssima que infelizmente surge como secundaria na aventura principal. De facto, existem mesmo decisões que são transferidas e afectam os eventos da história principal.

Neste título em particular seguimos uma curta aventura de Chris Eriksen, uma jovial criança que se refugia na sua imaginação e afecto pela cultura de super-heróis, para conseguir lidar com a dor da perda da sua mãe e com um pai alcoólico. Este título apresenta de igual forma cenários imaginários bastante interessantes, lindamente produzidos e introduzindo no final uma clara alusão aos irmãos Diaz.



Contudo, notamos que no que toca à jogabilidade, Life is Strange 2 iria beneficiar de uma mecânica de jogabilidade mais diferenciada, um pouco à semelhança das viagens temporais do primeiro título. De igual modo, sentimos que ainda sendo uma aventura de uma escala muito superior, não consegue criar um ambiente de misticismo como o anterior, ou deselvolver motivações morais onde certas escolhas levava-nos a vários minutos a ponderar a sua escolha. Existe efectivamente um dinamismo muito superior no nosso processo de decisão que ocasionalmente quebra a nossa absorção pela história, como que muitos eventos a ocorrer, mas sobre os quais não temos verdadeiramente controlo.

Ainda assim, a mensagem subliminar dessa experiencia, ainda que não tenhamos grande influência na sua apresentação ao jogador, é extremamente profunda e aborda temas e realidades que no final nos leva a questionar algumas valências da nossa própria vida, das escolhas que fazemos e da liberdade que renunciamos em prol de uma vida mais pacata e segura. Por toda a carga emocional que nos é transmitida durante o final da aventura dos irmãos Diaz, o verdadeiro impacto que esta experiência cria passa por nos conduzir num processo de introspecção como poucos jogos conseguem fazer. 




Resumo
Life is Strange 2 é um excelente título dentro do género de aventuras narrativas. Enquanto as comparações com o primeiro, principalmente nas componentes que levarão ao seu impacto na indústria, sejam recorrentes, esta segunda temporada desta série consegue se elevar e afirmar por si própria.

Reconhecidamente existe uma balança na qual a mensagem subliminar, maior dimensão a nível de cenários e quantidade de personagens está num dos lados e a inferior imersão na narrativa e falta de mecânicas diferenciadas está no outro. Sentimos de igual modo que a ligação entre os dois irmãos, ainda que um ponto positivo deste jogo demora bastante até ficar ao mesmo nível das duas personagens principais do primeiro título.

Dito isto, continua a ser uma óptima obra que nos leva a percorrer diversas intervenções da experiência Americana associada a importantes questões políticas e sociais. Notoriamente existe um maior cuidado com a forma como a aventura é apresentada o que leva a momentos verdadeiramente mágicos e cativantes.

No final não conseguimos deixar de sentir uma empatia enorme com o destino destas personagens após tudo que passaram, deixando-nos a ponderar sobre profundamente sobre a premissa que nos é apresentada. Resta a esperança de surgirem, nem que indirectamente em futuras aventuras desta série, à semelhança de certas personagnes do primeiro titulo.


O Melhor:
  • Mensagem subliminar relativa à aventura dos dois irmãos;
  • Conjugação perfeita da narrativa, com os cenários e banda sonora;
  • Relacionamento entre os irmãos e caracterização geral das personagens;
  • Direcção artística.


O Pior:
  • Falta de uma mecânica diferenciadora como no primeiro título.




Pontuação do GameForces – 8,5/10



Título: Life Is Strange 2
Desenvolvedora: Dontnod Entertainment
Publicadora: Square Enix
Ano: 2019


Autor da Análise: Carlos Silva

[Análise] Life Is Strange 2 [PS4] [Análise] Life Is Strange 2 [PS4] Reviewed by Carlos Silva on fevereiro 21, 2020 Rating: 5

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