Análise | Bleach: Rebirth of Souls – Experiência que Vive (ou Morre) Pelo Grau de Fanatismo


Toda a gente que já mergulhou no mundo dos animes e dos mangas terá ouvido falar no conceito dos “Big Three” – as três séries mais influentes do início deste século. Se nos anos mais recentes Naruto e One Piece se consolidaram como obras de referência, Bleach, o terceiro vértice desse triângulo, acabou por cair mais no esquecimento. Pelo menos, até há bem pouco tempo, com a adaptação em série animada do seu derradeiro e mais violento arco narrativo. Este ressurgir de popularidade levou a indústria dos videojogos a olhar para esta obra como merecedora de uma nova adaptação, e é assim que surge diante de nós Bleach: Rebirth of Souls. Mas será esta uma adaptação pela qual os fãs tanto esperavam, ou apenas uma experiência que nos causa uma imensa dor na alma?


Em Bleach: Rebirth of Souls, temos a oportunidade de (re)viver as aventuras de Kurosaki Ichigo, um adolescente que, desde que tem memória, consegue ver espíritos dos mortos. Quando um dia um Hollow (um espírito corrompido) ataca a sua cidade e estabelece como alvo a sua família, Ichigo é salvo por Kuchiki Rukia, uma Shinigami treinada para proteger a humanidade e garantir uma transição harmoniosa dos espíritos entre o mundo dos vivos e o dos mortos. Ao ser ferida, Rukia não tem outra hipótese senão transferir os seus poderes para Ichigo, tornando-o num poderoso Shinigami e desencadeando uma sequência de conflitos que porão em causa toda a existência e o equilíbrio entre a vida e a morte.

Os fãs do manga original de Tite Kubo, ou das adaptações para anime que recebeu, reconhecerão esta curta sinopse como podendo muito bem descrever o início desta obra. E é logo aqui que encontramos uma das grandes forças de Rebirth of Souls – a adaptação da história de Bleach. Trata-se de uma adaptação extremamente fiel ao material de base, que nos coloca na pele de tantas personagens que adoramos – Ichigo, Rukia, Uryu, Byakuya, Urahara, Yoruichi e tantos – e nos leva a experienciar todas as suas histórias, conflitos e desenvolvimentos.


Não se trata de uma adaptação da obra até ao fim, mas “apenas” até ao confronto final com o Shinigami caído, Aizen, um dos pontos altos (se não mesmo o mais alto) de toda a série. Assim, Rebirth of Souls fica a dois arcos narrativos de ser uma adaptação completa de Bleach, mas isto não é propriamente algo que aponte como mau. Claro que preferia ter estas adaptações junto do resto da experiência, mas há dois pormenores que contrabalançam estas ausências. Primeiro é o facto da adaptação dos restantes arcos se apresentar incrivelmente profunda, ao ponto de incluir todos os confrontos que contribuam, ainda que muito minimamente, para o desenvolvimento das personagens. Até mesmo os confrontos com Shinigami ou Hollow aleatórios estão aqui adaptados, desde que representem momentos de pequenos crescimentos das personagens, o que é de louvar.

Depois, há um modo paralelo ao de história que consiste em pequenos episódios (muitos deles originais) que ajudam a aprofundar o impacto dos acontecimentos da narrativa em cada personagem e no mundo de Bleach em geral. Este olhar mais profundo e único para cada personagem da história, seja herói ou vilão, é muitíssimo cativante, e acrescenta muita qualidade narrativa a este jogo.


Quando enveredamos pela jogabilidade começamos a ver as fragilidades desta experiência. Bleach: Rebirth of Souls é um arena fighter, no qual assumimos o controlo de uma das dezenas de personagens do universo Bleach e lutamos contra outra em 1 para 1 num espaço tridimensional. Temos ao nosso dispor ataques básicos, ataques especiais que consomem barras de energia (Reishi), contra-ataques e esquivas que nos colocam imediatamente atrás de um adversário. O nosso objetivo é diminuir a barra de vida do adversário até um ponto crítico ou até zero, de modo a usar um ataque mais poderoso (Kikkon) que destrua todas suas as vidas (Konpaku).

Deixem-me começar precisamente por aqui, por este sistema de vidas. É uma ideia que tem o seu mérito, dando-nos sempre a oportunidade de recuperar de uma luta que tenha começado mal, ou perante um adversário cujo estilo de jogo ou cujas habilidades desconhecíamos. Para além disso, aproxima os confrontos do que vemos no manga ou no anime, nos quais é recorrente vermos os heróis a recuperar milagrosamente de uma sova monumental.

Mas é também um sistema que acaba por tornar os combates muito longos e aborrecidos. É um sistema que nos obriga a ter de reduzir a barra de vida até zero (ou quase) múltiplas vezes por cada combate, prolongando demasiado dezenas e dezenas de confrontos ao longo dos vários modos. Para além disso, retira qualquer profundidade estratégica que pudesse haver, visto que usar um ataque Kikkon assim que possível ou quando o nosso oponente está a zeros apenas resulta na destruição de um Konpaku a menos ou a mais.


Portanto, os combates acabam todos por se tornar demasiado rotineiros. Basta vermos quantos Konpaku o nosso adversário tem, quantos é que o nosso ataque Kikkon destrói e decidir quantas vezes reduzimos a zeros a barra de vida do pobre coitado que se levantou da cama para nos fazer frente naquele dia. No modo de história, esta rotina acaba por ser relativizada por termos de ir controlando e enfrentando sempre personagens diferentes, cujo número de vidas ou capacidade de destruição das mesmas vai variando. Mas nos modos puramente de combates, tanto online como offline, esta rotina torna-se mesmo muito aborrecida. Ao ponto de ter apenas experimentado o modo online para picar o ponto e para poder dizer nesta análise que experimentei um pouco de tudo.

O ponto forte desta jogabilidade está mesmo nas suas personagens. A adaptação de cada combatente está muitíssimo bem conseguida. Jogar com Ichigo ou com Aizen, com Uryu ou com Yamamoto, com Ulquiorra ou com Soi Fon oferece experiências bem distintas. Cada particularidade está estupendamente bem adaptada, seja no combate corpo a corpo básico, seja no efeito dos seus ataques especiais, ou até na ativação de transformações e as consequências que estas têm nos embates. É sempre divertido experimentar uma personagem nova e brincar com as combinações de movimentos, de golpes e de ataques especiais, e vê-las a comportarem-se de forma muitíssimo coerente com o que se vê no material de base de Rebirth of Souls.


É também nos combates que vemos Bleach: Rebirth of Souls cintilar. As animações são de uma qualidade elevadíssima quando estamos a cruzar espadas com um oponente e quando estamos a lançar um ataque especial. Os movimentos são muitíssimo fluidos e a utilização de cor que este estilo artístico permite é bastante cativante. Mas o crème de la crème é mesmo quando usamos um ataque Kikkon. A explosão de cores e de efeitos luminosos é estonteante, ao ponto de ser um dos pontos altos de toda a experiência testemunhar cada ataque destes sempre que uma personagem nova entra na arena de combate – mesmo quando somos nós a levar com esse ataque nas ventas.

Por outro lado, não há como não ficar desiludido com a vertente visual nas sequências cinemáticas dos modos de história. Há um ou outro momento que recebe uma adaptação no estilo de Ultimate Ninja Storm, mas a vasta maioria deixa muito a desejar. Grande parte da narrativa é apresentada através das personagens no lugar, com posturas muito estáticas e com gestos muito bruscos, com animações muitíssimo básicas. Ao contrário do que vemos durante os combates, a fluidez das animações é baixíssima, e este contraste torna esta vertente da experiência bastante bizarra. Para além disso, é nestas sequências que encontramos os únicos problemas técnicos do jogo, com a presença de vários bugs gráficos que perturbam o usufruto completo da narrativa de Bleach.

Terminando com a vertente sonora do jogo, não há nada a apontar de propriamente mau nem de propriamente ótimo. O jogo apresenta uma banda sonora algo básica, mas que cumpre os requisitos. É agradável de se ouvir a maioria do tempo, conseguindo atirar-nos para cima uma ou outra trilha de maior qualidade, nos momentos narrativos mais importantes e empolgantes. Os efeitos sonoros são bons, ajudando a tornar os ataques que desferimos mais impactantes, sobretudo os Kikkon. O apogeu da vertente sonora é mesmo o desempenho de vozes, sobretudo na versão japonesa. Nesta, todos os atores originais regressam aos seus papéis, e brindam-nos desempenhos tão bons e cativantes quanto os que apresentaram na série animada.


Conclusões
Bleach: Rebirth of Souls é uma carta de amor para os fãs mais acérrimos da obra de Tite Kubo, mas pouco mais. Em termos de adaptação da história, temos aqui um trabalho muitíssimo competente e que ainda presenteia os adeptos de Ichigo e companhia com conteúdo novo e de qualidade. Em termos de jogabilidade, cumpre os requisitos e consegue oferecer uma boas horas de diversão, mas peca por ser demasiado superficial e rotineiro em áreas cruciais. É daquelas ofertas que valorizarão mais quanto mais fãs do material base já forem à partida – e para os mais apaixonados por Bleach, este jogo vale muito a pena. Para os restantes que buscam um jogo de lutas mecanicamente profundo e estrategicamente denso, podem sair desta experiência com apetite por saciar.

O Melhor:
  • Adaptação profunda e detalhada da narrativa de Bleach até ao confronto com Aizen
  • Jogabilidade que adapta bem as particularidades de várias personagens
  • Histórias adicionais que complementam a narrativa deste universo muito bem
  • Animações incrivelmente bem conseguidas durante os combates, mas…
 
O Pior:
  • … Animações muitíssimo básicas e repetitivas nos momentos narrativos
  • Sistema de vidas torna profundidade estratégica muito pobre
  • Vários erros e bugs gráficos
  • Alguns problemas de desempenho e de velocidade de carregamento

Pontuação do GameForces – 6.5/10

Título: Bleach: Rebirth of Souls
Desenvolvedoras: Tamsoft
Editora: Bandai Namco
Ano: 2025

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela editora.

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita
Análise | Bleach: Rebirth of Souls – Experiência que Vive (ou Morre) Pelo Grau de Fanatismo Análise | Bleach: Rebirth of Souls – Experiência que Vive (ou Morre) Pelo Grau de Fanatismo Reviewed by Filipe Castro Mesquita on agosto 13, 2025 Rating: 5

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