Análise | Mario Party Superstars - O Regresso à Era Dourada

Entre as várias subséries da maior mascote da Nintendo, Mario Party é uma das mais consistentemente recebe novos títulos, mas esta franquia parece ter passado por uma crise de identidade na última década. A premissa base dos jogos sempre foi a mesma, assentando em partidas de Jogo da Glória em tabuleiros imaginativos, que permitem que até quatro jogadores compitam para obterem o maior número de estrelas. Contudo, após Mario Party 8, o elmo dos novos títulos passou da Hudson Soft para a NDCube, tendo todos os lançamentos subsequentes sido alvo de críticas pertinentes tanto da crítica como da comunidade.

A cada novo lançamento, a NDCube tentou introduzir mudanças ao status quo para dar nova vida à série, mas quase sempre estas acabavam por sair pela culatra ao adulterar a fórmula amada pelos fãs.  Até Super Mario Party, a mais recente entrada da franquia que aparentava ser um retorno à excelência, não correspondeu às expectativas por apresentar tabuleiros lineares e mecanicamente pobres, uma má distribuição da economia e de elementos de sorte, e conteúdo demasiado diluído entre diferentes modos, dando uma sensação de repetição após meia dúzia de partidas. Como tal, é natural que a NDCube tente agora recapturar o que deu certo na série ao produzir Mario Party Superstars, um jogo que inclui cem minijogos do passado da série (o que faz desta iteração de Mario Party a mais numerosa em minijogos), bem como cinco tabuleiros de Mario Party 1, 2 e 3: Yoshi’s Tropical Island, Space Land, Peach’s Birthday Cake, Woody Woods e Horror Land.

O trabalho de remasterização é louvável. Desde logo, em termos audiovisuais, o salto é descomunal: os mapas, que previamente eram imagens planas e estáticas, foram totalmente reconstruídos em belos ambientes 3D, compostos por modelos com cores vibrantes que atualizam estes designs clássicos, e renderizados a estáveis 60FPS, sem quaisquer quebras. Além disso, foram compostas versões modernas das músicas originais, que podem ser trocadas pelas clássicas nas definições do jogo depois de experimentar o respetivo tabuleiro.

Mas em equipa vencedora não se mexe, pelo que, em termos de jogabilidade, os mapas e as mecânicas permanecem globalmente fiéis às originais na Nintendo 64. Todos os tabuleiros continuam perfeitos para serões bem passados em que, à semelhança de Mario Kart, qualquer jogador pode ganhar. Cada um possui uma combinação específica de casas: algumas delas são benéficas, recompensando-nos com moedas (que podemos usar para comprar estrelas) ou itens vantajosos, e outras casas são prejudiciais, como a infame Casa do Bowser, que nos coloca em risco sério de perder moedas ou estrelas. Há também algumas mecânicas únicas nos tabuleiros: por exemplo, se cairmos numa Casa de Evento em Yoshi's Tropical Island, a estrela move-se para o outro lado do mapa. Já em Space Land, se os jogadores passarem cinco vezes pelo centro do mapa, o "Desfalcador do Bowser" lança um laser que reduz a zero as moedas de todos os jogadores no seu caminho.

Embora não possamos controlar o resultado do dado que dita a distância que andamos, o nosso sucesso não é arbitrário. Vencendo os minijogos que ocorrem no final de cada turno e em momentos especiais, usando os itens especiais no momento certo e planeando com astúcia os nossos movimentos, ficamos mais perto da vitória. Porém, o caos aleatório que permeia a experiência pode mudar tudo de um momento para o outro! Por exemplo, num momento, podemos ter mais estrelas e moedas do que todos os nossos rivais juntos; e no momento seguinte, caímos numa Casa da Verdade que nos pode forçar a dar-lhes as nossas queridas poupanças! Num jogo competitivo, isto poderia ser negativo, mas em Mario Party esta é a receita perfeita para gargalhadas, raiva e reviravoltas inesquecíveis!

Apesar de ser fiel aos clássicos, em Superstars foram concretizadas ótimas adições que, não revolucionando os tabuleiros e a jogabilidade, contribuem para que Superstars tenha a experiência base mais rica e polida da série. Por exemplo, algumas das casas azuis foram substituídas por casas de sorte, que recompensam o jogador com itens ou moedas e dão assim mais entusiasmo a momentos mortos de Mario Party 1 e 2, e a disposição da secção com punições do Bowser foi alterada em Peach's Birthday Cake, numa modificação que potencia a dimensão risco-recompensa dos mapas e confere maiores entusiasmo em momentos neutros dos jogos da Nintendo 64.

Do mesmo modo, a experiência foi atualizada com a inclusão de itens modernos, como o dado triplo e o cano dourado (que transporta o jogador para a casa mais perto da estrela), a implementação de um sistema de visualização de mapa detalhado e prático e a opção de acelerar animações e o comportamento das personagens controladas pelo computador. São bastantes melhorias excelentes, de tal modo que achamos estranho que não tenham implementado a opção de saltar o conjunto de diálogos explicativos do jogo, que são repetidos recorrentemente em determinados momentos de cada partida.

Se quiserem jogar apenas minijogos, podem dirigir-se à Montanha Minijogos para jogarem minijogos individualmente ou em desafios consecutivos de crescente dificuldade. No modo Mario Party, estes minijogos funcionam como uma forma de colocar frente a frente os jogadores para ganharem recompensas e como um intervalo dos movimentos no tabuleiro; já na Montanha Minijogos, são o único prato na ementa.

Existem três grupos de minijogos: desafios de dois contra dois, todos contra todos e um contra três. Em todos eles, tentamos superar os nossos rivais, em desafios que podem ser baseados em sorte, habilidade ou um misto das duas valências. Por exemplo, podemos ter de ser o último de pé numa plataforma, o primeiro a chegar a uma meta ou o vencedor em rondas de Rei Manda. Todos são breves e simples, demorando tipicamente menos de um minuto e sendo intuitivos para todo o tipo de jogadores.


Esta simplicidade torna os minijogos motivantes e ótimos como parte das partidas Mario Party, mas também leva a que não sejam entusiasmantes por si só. A essência da série sempre residiu nos jogos de tabuleiro; consequentemente, o modo Montanha Minijogos perde rapidamente a sua diversão intrínseca, apenas mantendo algum valor para quem quer praticar exaustivamente os minijogos ou para os caçadores de recordes.

Estes dois estilos de jogo são os únicos que compõem Mario Party Superstars, o que é uma desilusão. Não estávamos a contar que o jogo tivesse uma quantidade excessiva de modos como Super Mario Party, mas algum tipo de aventura para um jogador poderia ter sido incluída, até porque jogar Mario Party sozinho contra CPUs não é nada atractivo.

Como se não bastasse, o jogo peca na quantidade de tabuleiros. Com apenas cinco mapas, Superstars acaba por ter menos conteúdo do que o primeiro jogo da série na Nintendo 64, que tinha oito tabuleiros. Noutras compilações de títulos passados, como Super Smash Bros. Ultimate, Super Monkey Ball: Banana Mania e Crash Team Racing Nitro-Fueled, a falta de conteúdo novo de relevo é compensada por uma quantidade massiva de conteúdo remasterizado, e Superstars por si só deixa a desejar e comparado com estes títulos ainda mais feio fica na fotografia.

Pelo menos, a longevidade deste título é expandida graças à implementação de multijogador online nos dois modos de jogo. Podemos escolher três tipos de partidas: partida offline, que permite que 1 a 4 jogadores joguem na mesma consola, partida local, em que até 4 utilizadores com consolas Switch individuais podem jogar juntos, cada um na sua consola, e partida online, em que podemos jogar contra amigos ou jogadores aleatórios através da internet.

E dentro destas três, a partida online surpreendeu-nos imenso, porque inesperadamente Superstars tem de longe o melhor online que a Nintendo desenvolveu! Jogando com portugueses, a conexão é fluida como esperado; e mesmo com jogadores no continente americano, quase parece que estamos a jogar na mesma consola! Seja pela introdução de servidores ou por um melhor netcode, a performance do online é exemplar e esperamos que futuros jogos da Nintendo atinjam este nível.

Não só o online foi bem executado, como foi bem pensado! Se um jogador se desconetar de uma partida online, este é substituído pelo computador sem que a partida dos restantes jogadores seja prejudicada (algo que lamentavelmente não acontece quando jogamos offline visto que, quando um dos nossos amigos tem de abandonar a sessão, somos obrigados a abandonar a partida). E se esse indivíduo reabrir o jogo e a partida ainda estiver em andamento, aparecerá a opção de voltar a ela e continuar sem espinhas!

Mesmo que, por algum motivo, os jogadores tenham de sair de uma partida a meio, podem continuá-la do começo da ronda em que pararam (tanto online como offline) quando quiserem. Aliás, Superstars é compatível com a função de convites, adicionada há uns meses ao menu da consola, que permite que convidemos jogadores da nossa lista de amigos para uma partida. Estas são funcionalidades simples, mas que raramente são implementadas nos títulos da Nintendo, ainda para mais de raiz.

Também há uma novidade neste jogo que promete aumentar a sua acessibilidade para todas as idades: tradução e dobragem para português do Brasil (em oposição a jogos como Super Mario 3D World + Bowser’s Fury e Mario Kart 8 Deluxe, com textos em português de Portugal). As disparidades linguísticas conduziram a algumas palavras inadequadas, como “rodada” em vez de turno ou ronda (a palavra usada em Star Rush), “esporte” em vez de desporto e “aterrissar” em vez de aterrar, mas fora isso a tradução está excelente. Joguei partidas tanto em inglês como em português, e os textos em português superam os ingleses em personalidade e memorabilidade, especialmente nos encantadores autocolantes que usamos para comunicar com os nossos adversários durante as partidas. Infelizmente, caso preferiram os textos em inglês, terão de alterar a linguagem do próprio sistema operativo para inglês, uma vez que a linguagem apresentada corresponde à associada nas definições da consola. Em pleno 2021, esta limitação não faz sentido quando poderia ser resolvida com uma simples opção nas definições do jogo.

 



Conclusão

Com a conjugação de alguns dos melhores minijogos, tabuleiros e mecânicas da série com pertinentes ajustes de qualidade de vida, um sistema de multijogador online surpreendentemente competente e uma renovação audiovisual, Mario Party Superstars distingue-se pela positiva de todas as iterações da série lançadas na última década, apenas desiludindo pela quantidade insatisfatória de tabuleiros incluídos. Apesar disso, a qualidade do conteúdo abrangido faz desta compilação não só um dos melhores jogos da série, como também um dos mais divertidos e viciantes jogos de festa da Switch.

 

O melhor:

- Caos de Mario Party regressa, no seu melhor;

- Tabuleiros clássicos modernizados;

- Seleção numerosa e refinada de minijogos;

- Excelentes ajustes e funcionalidades de qualidade de vida;

- Sistema de multijogador online admirável;

- Tradução carismática para português do brasil…

 

O pior:

- … que não pode ser desativada nas definições do jogo;

- Quantidade decepcionante de tabuleiros;

- Modo Montanha Minijogos desinteressante;

- Inexistência de modo orientado para um só jogador.

 

Nota de GameForces: 8.0


Título: Mario Party Superstars
Desenvolvedora: Nintendo, NDCube
Publicadora: Nintendo 
Ano: 2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nintendo Portugal.

Autor: Tiago Sá

Análise | Mario Party Superstars - O Regresso à Era Dourada Análise | Mario Party Superstars - O Regresso à Era Dourada Reviewed by Tiago Sá on novembro 15, 2021 Rating: 5

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