[Análise] ENDER LILIES: Quietus of the Knights [PC]

Ano após ano, são inúmeros os novos metroidvania que os desenvolvedores independentes apresentam ao mundo. Se é verdade que são frequentes os títulos que ganham o apreço da comunidade, também é natural que nos comecemos a questionar se os constantes lançamentos de propostas deste gênero continuam a ter algo único a oferecer. A estrutura destes jogos tende a ser relativamente transversal entre os diversos títulos, e as habilidades e mecânicas de jogabilidade tendem a incorrer nos mesmos pilares.

Ender Lilies: Quietus of the Knights nada faz para agitar a fórmula ou deixar os jogadores boquiabertos. Contudo, Ender Lilies abraça as convenções metroidvania e as suas inspirações para entregar uma experiência que as usa sublimemente, preferindo inovar não no que o gênero faz de melhor mas sim em pequenas componentes que o ajudam a distinguir-se.

Ender Lilies centra-se em Land’s End, um reino devastado onde uma chuva perpétua transforma todos os seres vivos em Blighted, "mortos-vivos" violentos. Na pele de Lily, uma jovem sacerdotisa sem memórias, atravessamos Land’s End para descortinar a origem da chuva e o nosso passado, purificando pelo caminho todos aqueles que se viram transformados.

Lily não possui qualquer tipo de ataques, sendo apenas capaz de se movimentar, de saltar e de executar um dodge que a torna imune por momentos aos inimigos e aos seus ataques. Para responder às investidas dos Blighted, a jovem depende totalmente dos Spirits que vamos recrutando ao longo da aventura. O nosso principal aliado é o Umbral Knight, que acompanha a rapariga desde o começo da jornada e executa espadeiradas ao seu comando. Em locais selecionados do mundo, podemos encontrar alguns minibosses que, uma vez derrotados em combate e purificados, unem forças connosco cedendo-nos um novo ataque de uso limitado. Estes confrontos funcionam como recompensas pela exploração do mapa ao mesmo tempo que adicionam alguma complexidade à experiência, encorajando-nos a escolher os seis spirits que mais se adequam às circunstâncias que atravessamos.

Igualmente presente está um sistema de Relics, que é certamente familiar para os adeptos do gênero. Estes itens permitem-nos por exemplo aumentar a nossa vida máxima ou o dano provocado, e tanto as Relics como as expansões de slots para as usar estão escondidas em locais recônditos, recompensando aqueles que mantêm um ar atento às suas redondezas e curiosidade para com a topografia do mapa.

Embora não cruciais, tanto as Relics como os Spirits são ajudas bem-vindas ao combate. A cadência dos confrontos é relativamente lenta, dado que as investidas dos inimigos são demoradas e os finais das animações dos ataques base da Lily e do seu dodge são lentos e compreendem períodos de vulnerabilidade. Consequentemente, estar atento aos padrões de ataque dos inimigos é essencial para saber em que momento atacar para evitar sofrer dano desnecessário. Se o AI dos Blighted é rapidamente aprendido, os diferentes tipos de inimigos mantêm-se uma ameaça real durante a totalidade da aventura, graças ao elevado dano que alguns provocam, a um inteligente posicionamento dos mesmos, ao simples aumento da quantidade dos inimigos ou da combinação de diferentes Blighted. A sensatez acaba por ditar muitas vezes o nosso comportamento, levando-nos não só a estar atentos aos momentos de vulnerabilidade dos Blighted mas também a empregar vários tipos de estratégias como tentar isolar uma criatura dos outros Blighted ou mesmo atacar cobardemente os inimigos de um ponto onde não nos consigam atingir.

Não é que morrer faça uma grande mossa no nosso progresso: perecer apenas nos retorna ao Respite (checkpoints como os bancos de Hollow Knight) em que estivemos mais recentemente, sem que haja algum prejuizo ao nosso progresso. Os Respites regeneram a nossa vida e os usos dos Spirits limitados, mas ao mesmo tempo regeneram todos os inimigos de cada área; além disso, são pontos de Fast Travel, uma funcionalidade fundamental para evitar monotonia num mundo em que poucas são as conexões entre diferentes regiões. Cada Respite está tipicamente posicionado em zonas centrais das regiões, facilitando backtracking, e pertíssimo dos bosses, permitindo que os jogadores alterem os seus Spirits e Relics após as suas derrotas e que regressem num instante à batalha. Os bosses principais do jogo desafiam-nos razoavelmente, especialmente numa fase mais avançada, e além de nos concederem uma nova habilidade que nos permite alcançar novas áreas, também nos dão um pequeno vislumbre do seu passado, propósito e do seu conflito com a maldita chuva eterna.

Jogando de um modo célere e presenciando unicamente estes momentos é possível criar na mente uma imagem básica dos acontecimentos centrais, o que assegura que todos os que terminam Ender Lilies, seja lenta ou rapidamente, veem valor na jornada. Contudo, é explorando que realmente compreendemos intrincadamente Land’s End, graças a notas sucintas e artefactos espalhados pelo mapa, que não só nos explicam melhor o enredo em si como exploram o modo como diferentes habitantes do reino os experienciaram, dando maior vida e credibilidade ao mundo de Ender Lilies. A exploração acaba por se tornar “obrigatória” na mente de todos aqueles que apreciam Ender Lilies, tanto pelos colecionáveis como por cada pista que podemos encontrar do passado deste reino.

A própria apresentação visual e sonora de Land’s End ajuda a veicular a deprimente decadência que domina o reino. Desde os diferentes ambientes ruinados que atravessamos, aos tons escuros que dominam várias paisagens, à aparência decomposta dos Blighted, aos sons viscerais que soam quando penetramos a carne dos inimigos, tudo neste mundo ajuda a “vender a ideia” de que estamos num reino desolado sem qualquer resquício de vida ou esperança.

A banda sonora brilha com ricas e variadas composições que rapidamente se implantam na nossa mente e que complementam os ambientes melancólicos do mapa. Se cada som e tema de Ender Lilies brilha, a verdade é que o design sonoro do jogo só peca por defeito. É percetível a baixa quantidade de efeitos sonoros para a movimentação de Lily e para os ataques dos inimigos, bem como o repetido uso do mesmo tema nas cinemáticas do jogo.



Conclusão

Ender Lilies: Quietus of the Knights é um magnífico metroidvania que emprega admiravelmente as bases do gênero, entregando-nos um mundo atmosférico que nos convida a explorá-lo de uma ponta a outra para o conhecermos intimamente. Para os fãs do gênero, esta é uma sólida recomendação com uma dificuldade que, mais do que incentivar vitória com força bruta, promove cautela com as nossas ações, e com mecânicas que nos encorajam a adequar o nosso arsenal a cada obstáculo.

 

O melhor:

- Combate deliberado;

- Sistemas de Relics e Spirits;

- Dificuldade justa e perfeitamente projetada;

- Exploração recompensante;

- Fantástica apresentação visual e banda sonora;

 

O pior:

- Pouca inovação dentro do gênero;

- Escassez de efeitos sonoros.

Nota do GameForces: 9.0



Título: ENDER LILIES: Quietus of the Knights
Desenvolvedora: Lime Wire, Adglobe
Publicadora: Binary Haze Interactive
Ano:
2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para Steam, através de um código gentilmente cedido pela Binary Haze Interactive.

Autor: Tiago Sá

[Análise] ENDER LILIES: Quietus of the Knights [PC] [Análise] ENDER LILIES: Quietus of the Knights [PC] Reviewed by Tiago Sá on julho 20, 2021 Rating: 5

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