Carlos Silva - Clair Obscur: Expedition 33
A banda sonora de Clair Obscur tornou-se, a meu ver, não somente a melhor do último ano, como uma das melhores da última década. Isto porque faz aquilo que distingue verdadeiramente uma obra excecional: não acompanha apenas o jogo, molda-o. Desde os primeiros minutos, a música estabelece um tom que é ao mesmo tempo intimista e grandioso, criando uma identidade sonora tão marcante que é impossível dissociá-la da experiência. Cada faixa parece ter sido composta com um cuidado quase artesanal, sempre a equilibrar silêncio e intensidade, sempre a guiar o jogador sem o dominar. É música que não só reforça emoções, mas que as cria.
O impacto da banda sonora sente-se sobretudo na forma como se adapta ao que está a acontecer no ecrã. Não se limita a dar ambiente; responde ao mundo, às ações do jogador e aos estados interiores das próprias personagens. Há momentos em que uma melodia suave se mistura com o som do vento para transmitir vulnerabilidade, e outros em que a orquestra se expande de forma repentina, como se revelasse algo que o jogador ainda nem compreendeu. Esta fluidez dá a sensação de que a música é uma personagem viva, uma força que acompanha e influencia o rumo da história.
Além disso, poucas bandas sonoras dos últimos dez anos conseguiram manter um equilíbrio tão consistente entre experimental e emocional. Clair Obscur arrisca combinações pouco convencionais, misturando instrumentos clássicos com sintetizadores discretos, harmonias que parecem resolver-se tarde demais, ou ritmos que surgem apenas para desaparecer. Esses riscos podiam facilmente ter falhado, mas funcionam de forma brilhante porque nunca perdem o foco: servir a narrativa e aprofundar o mundo do jogo. Mesmo ouvida fora do contexto, a banda sonora mantém a sua força, evocando imagens, sentimentos e momentos que ficam gravados.
É por tudo isto que, numa década cheia de produções memoráveis, a música de Clair Obscur se destaca. Não é apenas uma coleção de temas excelentes, é a espinha dorsal emocional de um jogo inteiro. E essa capacidade de transformar cada passo, cada silêncio e cada revelação em algo maior é o que a coloca no topo das experiências musicais desta geração.
Carlos Cabrita - Clair Obscur: Expedition 33
Nesta categoria, para mim, não existem grandes dúvidas. Apesar de ter jogado títulos com bandas sonoras de enorme qualidade como Death Stranding 2: On the Beach e de reconhecer o excelente trabalho musical presente em jogos como Hades 2, Hollow Knight: Silksong ou Kingdom Come: Deliverance 2, nenhum deles atinge o nível de excelência alcançado por Clair Obscur: Expedition 33.
A banda sonora de Clair Obscur destaca-se pela forma como eleva a experiência do jogador. Ao longo de mais de oito horas de música, o jogo entrega uma combinação rara de imersão, energia e emoção, sempre em perfeita sintonia com o que está a acontecer no ecrã. Não é apenas música de fundo: é um elemento ativo da narrativa e do ritmo do jogo.
Cada tema reforça o impacto das cenas, intensifica momentos chave e contribui para criar uma identidade sonora memorável. É uma banda sonora que funciona tão bem dentro do jogo como fora dele ao ponto de eu próprio a utilizar durante os meus treinos de corrida, algo que diz muito sobre a sua força e versatilidade.
Por tudo isto, Clair Obscur: Expedition 33 é, sem hesitação, a minha escolha para Melhor Banda Sonora.

Filipe Martins - Clair Obscur: Expedition 33
Não sou um expert musical, e admito que o meu estilo de música, apesar de me achar eclético, anda muito dentro de rap, punk e ska. E, mesmo assim, a banda sonora de Clair Obscur: Expedition 33 conseguiu agarrar-me e mostrar que música de videojogo pode mexer com qualquer um, independentemente do gosto. Cada nota, cada som ambiente, puxa-nos para dentro do jogo e amplifica emoções que nem sempre percebemos à primeira. Há momentos de tensão que nos deixam colados ao ecrã, seguidos de pausas que nos fazem respirar e refletir, tudo guiado por uma música que entende exatamente o que estamos a sentir.
Não se trata de efeitos sonoros a disparar ou melodias a gritar “isto é épico”. É subtil, inteligente, emocional. Um trabalho que nos lembra que uma boa banda sonora não serve apenas para preencher espaço — serve para nos tocar, envolver e fazer sentir cada passo da história como se fosse nosso.
No fim, sair de Clair Obscur sem sentir a música ainda a ecoar na cabeça seria quase impossível. É uma daquelas experiências em que banda sonora e jogo se tornam inseparáveis, e a intensidade de cada momento fica gravada muito depois de desligar a consola.

Tiago Sá - Clair Obscur: Expedition 33
A banda sonora de Expedition 33 é nada mais, nada menos do que um arranjo dos deuses. Parece-vos exagero? É porque ainda não sabem como os caminhos do compositor Lorien Testard e da Sandfall Interactive se cruzaram. Certo dia, Lorien descobriu um fórum obscuro de música de videojogos e tomou a iniciativa de partilhar uma amostra do seu trabalho, que até à data era maioritariamente distribuído no SoundCloud e, nunca, nunca integrara um videojogo; ora, nem uma hora mais tarde, também o diretor criativo Guillaume Broche tropeçou pela primeira vez nesta comunidade e, após ouvir as músicas de Testard, prontamente convidou-o a integrar a equipa de desenvolvimento!
Se ainda assim vos soa a hiperbolização flagrante, repito o que já declarei nos recônditos do chat interno do GameForces: “Só há uma forma de alguém não escolher Clair Obscur: Expedition 33 como OST do ano: é ainda não o ter jogado”. É impossível ouvir as primeiras notas de Alicia, Déchire la Toile, Lumière, Children of Lumière e vários outros temas magníficos sem congelarmos imediatamente, embebendo o dulcérrimo néctar sonoro que nos preenche e deixando-o fluir pelas entranhas até que penetre o nosso coração e alma. Porém, estas faixas mais tocantes e majestosas são apenas a ponta do icebergue: com mais de 150 temas, Testard dotou os mais recônditos recantos do continente e os mais modestos bosses de um registo sonoro ímpar e irrestrito de convenções. Num momento ouvimos uma orquestra e coro ancestrais e no seguinte um arranjo eletrónico; há músicas que conciliam a mais requintada instrumentação francesa e outras que apostam em rap e sons de sonar. No seu todo, a paisagem sonora de Expedition 33 é pintada numa concertada amálgama de estilos, instrumentação e tons, proporcionando-nos uma invulgar, bela e inesquecível concatena de qualidade, quantidade e variedade.
E se ainda não acreditam que estamos perante uma dádiva de contornos divinos, têm de ir ao Bandcamp do jogo. Isto porque, para além do mastodôntico acervo de músicas que constam do jogo, Testard galanteia-nos com um conjunto de 22 composições extra sem quaisquer custos. Num paradigma vigente em que até os pequenos desenvolvedores indie cobram pelas suas OSTs, piano collections e afins, esta é uma generosidade só ao nível dos mais abnegados padres franciscanos!
Reviewed by Tiago Sá
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dezembro 22, 2025
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