Análise | Rise of the Ronin - Lâmina Pouco Afiada



Quando pronunciam a palavra "samurai" que jogos vos surge logo à memória? Ghost of Tsushima? Nioh? Like a Dragon: Ishin? Digamos que esta ideia, focada no Japão em meados do século XIX, já está muito consumida, o que por vezes nos leva a fazer comparações entre todos estes títulos mencionados e mais alguns. Não me interpretem mal, eu próprio sou doido pela tradição samurai e respeito todos os seus costumes e acreditem que tenho um imenso prazer em vaguear com a nossa personagem pelas diversas terras orientais. Porém, e assim como mencionei em cima, aos poucos esta temática começa a ficar repetida e os jogos começam a ser umas autênticas fotocópias uns dos outros, mudando apenas pequenos aspetos visuais ou algum foco narrativo em expecífico. Dito isto, acreditariam em mim se vos dissesse que este jogo é praticamente uma mistura dos três títulos que mencionei anteriormente? Pois bem, fiquem aqui comigo para saberem mais sobre este título tão polémico.

Rise of the Ronin leva-nos ao Japão do século XIX (onde será que já vi isto?), uma era que foi marcada por inúmeras revoltas e conflitos políticos. Nesta controlamos uma personagem criada por nós, e que por sua vez, é conhecida como... nada. Exato, nossa personagem não tem nome e é simplesmente conhecida por ser um ronin muito habilidoso. Porém, o jogo não nos obriga a criar apenas uma personagem, mas sim duas, uma do género feminino e outra do masculino, sendo apenas possível jogar com uma delas ao longo a história. 



Um pormenor nunca antes visto foi a necessidade de termos de escolher qual das personagens vai ser a nossa protagonista, uma vez que nos obriga a escolher qual usar, o que vai fazer com que a personagem não escolhida tenha um caminho diferente do nosso. Não querendo dar spoiler, mas escusado será dizer que o objetivo do protagonista é reencontrar-se com a sua “Lâmina Gémea”, ou seja, a outra personagem que criamos. Apesar de ser um conceito interessante, este leva-nos de certa forma a fazer uma escolha importante no iniciozinho da experiência, momento no qual nem sabemos do que se vai tratar o jogo em si. Mas esperem, que as escolhas não ficam por aqui. 

Todo o caminho que traçamos até ao final do jogo vai ser condicionado consoante as escolhas que fazemos, alterando até o final do jogo. Pode-se dizer até que, de certa forma, tudo neste jogo é escolhido pelo jogador, desde a aparência e vestes dos “protagonistas”, as armas que utilizamos, a facção a que pertencemos, entre muitos outras coisas. Contudo, a maior diversidade de escolhas, para além das armas e equipamentos que são mais que muitos, está nos diálogos que temos com outras personagens. Ao longo dos diálogos são nos dadas sempre inúmeras opções de desenrolar da conversa. No entanto, um aspeto engraçado sem graça alguma, é o facto da nossa personagem pouco ou nada falar, o que não facilita a vida para quem quer entender a história do jogo (o meu caso). Não é muito fácil entender o diálogo que estamos a ter com outra personagem se as escolhas que nos dão são muito simples e a nossa personagem não as desenvolve mais. O que também me fez perder muitas vezes o interesse em ouvir o que me diziam pois ficava inúmeros minutos só a ouvir o meu companheiro a falar sozinho.



O desenrolar da história passa-se num mundo aberto, repleto de vida e ação. Algo que não achei muito interessante foi o facto de este mesmo mapa transmitir a ideia de “Assassin’s Creed”, ou seja, um mapa grande e variado, contudo repleto de missões secundárias e coleccionáveis. Para além disso contamos ainda com a típica “base” ou neste caso a “Casa Comunal”, local onde podemos alterar a nossa aparência, assim como a aparência da armadura e armas (sem que estas percam os seus atributos, à semelhança de Hogwarts Legacy), repetir missões, viajar para outras cidades, alterar a decoração da casa e interagir com outras personagens.

O mundo aberto, apesar de estar longe de ser mau, não é algo maravilhoso. Ora estamos numa cidade cheia de NPCs, vida e alegria no qual nos sentimos realmente no Japão naquela época, como no momento a seguir chegamos ás áreas mais rurais nas quais essa mesma vida e alegria morre com limitadas biodiversidade de uma forma geral e áreas para explorar. Contudo, não podia deixar de salientar a dimensão do mundo, que por sua vez, só dá para ser atravessado no único transporte disponível: o cavalo. Este nosso fiel companheiro (que é fiel para connosco mesmo que nós não sejamos para com ele, uma vez que podemos adquirir outros cavalos em estábulos) pode ser chamado e utilizado em qualquer altura do jogo, excepto durante grande parte das missões, e torna-se bastante útil para navegarmos de um lado para o outro pelo mapa. 



Porém, apesar de prático, a sua condução pode ser um pouco estranha ao inicio devido à fraca animação de movimento que deram ao animal. As animações de movimento tanto da nossa personagem como do cavalo são um pouco simples demais, algo que seria de esperar de um jogo de PlayStation 3 e não algo Triple A de nova geração. O cavalo não tem animações de subir altos no relevo, nem de subir degraus, nem fazer praticamente nada para além de andar em frente e saltar, uma ação que por sua vez também é meio estranha. Já a nossa personagem transmite a mesma sensação de 7º geração de consolas, com as animações de correr, abrir caixas e saltar muito robóticas.

 Outro "meio de transporte" (ou que pelo menos parecia um meio de transporte nos trailers e no final acabou por não ser nada), foi um gancho e o parapente que a nossa personagem tem. O gancho pode ser utilizado para subirmos para os telhados de alguns edifícios (e com alguns digo quase nenhuns); já o parapente serve para nos transportarmos de um local para o outro pelo ar, contudo, caímos demasiado verticalmente quando o ativamos e só podemos usá-lo durante um determinado período de tempo... ou seja, não serve como transporte. Outra possibilidade é utilizar o gancho para fazer impulso o que faz com que a nossa personagem fique no ar e utilize o parapente, algo semelhante ao que vemos em Batman Arkham... só que desta vez sem a parte de planar.

Se chegaste até aqui deves estar a pensar: "Então mas este jogo tem alguma coisa boa?" Ao que eu respondo: "Sim, o combate."E é sobre isso que vou falar de seguida.



Sendo este jogo produzido pelos mesmos responsáveis de "NIOH", era de esperar que pelo menos o combate corpo a corpo fosse bom, e por acaso até é. Como referi, a nossa personagem pode utilizar diversos tipos de armas, tanto à distância (como arcos e flechas, espingardas e shurikens), como em corpo a corpo (como diversos tipos de espadas, lanças e até mesmo as baionettas das espingardas) e todas estas armas contém diversos estilos de luta, que são benéficos contra determinados inimigos causando assim mais dano aos mesmos. Para além disso, podemos ainda utilizar itens de cura, itens para aumentar a durabilidade e até mesmo deitar um quimico ou deitar fogo à nossa arma para a mesma causar mais dano aos inimigos.

Quanto ao combate, este é muito simples e semelhante tanto a "NIOH" como "Sekiro: Shadows Die Twice", mas não é tão dificil quanto estes dois. Temos uma barra de stamina que deve ser gerida ao nosso gosto e que diminui quando atacamos ou defendemos ataques, assim como aumenta quando repousamos um bocado. Conseguimos ainda dar "parry" nos ataques inimigos se clicarmos no triângulo no momento exato, o que vai fazer com que os inimigos fiquem atordoados. Sempre que fazemos parry ou atacamos os inimigos uma barra de fôlego dos mesmos diminui, sempre que a mesma está a zeros, conseguimos utilizar um ataque especial que irá causar muito dano. Já o gancho pode ser utilizado para auxilio durante combos ou para fazer algo semelhante ao Scorpion do "Mortal Kombat" e efetuar um "GET OVER HERE!". 



Apesar de ser a parte mais positiva do jogo, este sistema de combate torna-se muito cansativo muito rápido. Não é por causa do mesmo, mas sim das missões do jogo que são muito repetitivas. Começamos sempre por escolher os nossos companheiros (que podem ser controlados por nós ao longo da missão), que podem ser personagens do jogo com que vamos criando laços na história principal ou em missões secundárias, ou então outros jogadores online, sendo esta última possibilidade bastante interessante uma vez que nos permite desfrutar destes momentos com os nossos amigos se possível. Após verificarmos os nossos companheiros e termos tudo pronto, podemos iniciar a missão e é aí que a situação fica chata. TODAS as missões seguem o mesmo padrão: matar todos os inimigos que nos aparecerem à frente, apanhar alguma chave que precisemos para abrir uma porta, abrir a porta e no final derrotar algum Boss. Ou seja, fazer isto uma, duas, três vezes, é giro, agora fazê-lo mais de 20 vezes torna-se bastante cansativo e repetitivo, para além de ser uma péssima forma de contar uma história. 

O jogo apresenta ainda um sistema de RPG no qual podemos adquirir diversas habilidades. Estas habilidades estão divididas nas seguintes partes:

 - Força: que se relaciona com tudo o que parta para a violência como aumento de dano, alguns ataques especiais e a possibilidade de persuadir as outras personagens durante os diálogos;

- Destreza: que permite que aprendamos habilidades relacionadas com as artes ninja e ataques à distância;

- Charme: melhora o nosso "parry" e melhora algumas habilidades especiais que podem ser utilizadas para influenciar os outros npcs; e

- Inteligência: melhora os nossos conhecimentos em medicina, permite-nos negociar com outras personagens e melhora também a nossa capacidade de utilizar engenhocas.

Todas as habilidades podem ser desbloqueadas com pontos em específico que são adquiridos em missões tanto principais como secundárias, assim como ao apanharmos determinados colécionaveis.

Para terminar e para tocar talvez na maior ferida deste jogo, a parte visual e sonora. Tenho a dizer que quanto à parte sonora não tenho nada a apontar, o jogo está repleto de músicas fantásticas e conseguimos ouvir cada ataque de espada que damos aos nossos inimigos, cada explosão que causamos e cada trajetória que o gancho faz para se agarrar a um teto. Assim como as vozes das personagens, que são incriveis (pelo menos em japonês).



O pior deste é jogo é mesmo a parte visual. Se me dissessem que estava a analisar um jogo de PS3 eu não duvidava. Os gráficos são maus, as feições das personagens são más, as animações são más e a performance do jogo é horrível! O jogo oferece a possibilidade de jogar priorizando o desempenho ou os gráficos e em nenhum dos casos conseguimos ter uma boa experiência. Se escolhermos a primeira opção, os gráficos são maus e o jogo não fica estável nos 60fps, tendo diversas quebras. Já na segunda opção, apesar dos gráficos melhorarem ligeiramente, em diversos momentos o jogo nem nos 30fps aguenta e presenciamos diversos momentos em que parece que travar.




Conclusão


Este era talvez um dos jogos que eu mais desejava jogar em 2024. A temática de samurais num japão do século XIX é algo que me fascina imenso e, apesar de ser tema em muitos jogos ao longo dos últimos anos, este título tinha-me despertado algo através dos trailers. Contudo, o resultado final foi desastroso, com uma performance péssima e uma jogabilidade que apenas se safa graças ao combate (que, por sua vez, torna-se repetitivo muito facilmente. A história é interessante mas a forma como é contada é pouco eficaz o que dificulta na sua interpretação e no final de contas, a única coisa que sobra é o combate que, se calhar até é interessante para os fãs de "Soulslike", contudo não vão encontrar a mesma dificuldade que encontram num "NIOH", por exemplo. No final das contas Rise of the Ronin acaba por ser só mais um jogo de samurais sem uma identidade única, que apenas irá ser reconhecido por ser medíocre.



O melhor

  • Combate bastante desafiante (para quem não é fã de soulslike);
  • Diversas armas e equipamentos para adquirir e habilidades para desbloquear;
  • Uma história que é bastante interessante...


O pior

  • ...porém devido ao facto da personagem não falar, perde-se o "fio à meada" muito rápido;
  • Missões muito repetitivas;
  • Gráficos e performance abaixo do espectável vindo de um título Triple A;
  • Mundo aberto com demasiadas coisas.

Nota do GameForces: 6/10


Título: Rise of the Ronin
Desenvolvedora: Team Ninja
Publicadora: Sony Interactive Entertainment 
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Sony, via LastLap.

Autor da Análise: Carlos Cabrita
Análise | Rise of the Ronin - Lâmina Pouco Afiada Análise | Rise of the Ronin - Lâmina Pouco Afiada Reviewed by Carlos Cabrita on abril 23, 2024 Rating: 5

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