[Análise] Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV [PS4]



The Legend of Heroes é provavelmente a saga mais underground com maior expressão entre os fãs de RPGs orientais, mas que no fundo passa ao lado da vasta maioria dos jogadores. Esta saga é composta por varias séries, ou melhor clarificando diversos arcos, de uma história global e unificada que segue as aventuras de Rean Schwarzer e da Classe VII da academia militar de Thors durante o conturbado conflito militar e politico entre duas facções, os Nobres e os Reformistas. 

Em Trails of Cold Steel IV, a Nihon Falcom tem a hercúlea tarefa em compilar e fechar os enredos de um conjunto de quatro arcos distintos, nomeadamente Trails in the Sky, Trails from Zero, Trails to Azure e claro Trails of cold Steel. Este aspecto reflecte-se fortemente na experiência apresentada denotando significativos problemas de macro management em conseguir fechar satisfatoriamente todos os pontos da história. Não entendam mal, a produtora fez um trabalho exímio para os fãs mais acérrimos ao providenciar um óptimo closure generalizado, incorporando localizações conhecidas e personagens acarinhadas pelos jogadores, mas falha pela pura quantidade abismal de personagens e um enredo com pacing difícil de assimilar (mesmo para quem já jogou um título da série anteriormente). 



 
Consequentemente, Trails of Cold Steel IV é um título que torna-se virtualmente impossível para novos jogadores conseguirem pegar nele enquanto título isolado. Ainda para mais quando o terceiro e o quarto episódio eram considerados inicialmente como uma única e última entrada na série Cold Steel. Ainda que a Falcom tenha introduzido uma enciclopédia da história, personagens e localizações dos títulos anteriores, são demasiadas personagens com demasiados eventos a decorrer para conseguir transmitir aos jogadores um conhecimento sólido dos enredos da história. Por isso fica o aviso: Para quem não conhece a saga é melhor que aproveite os relançamentos existentes na Playstation 4 antes de pegar neste título. A título de exemplo, a nossa experiencia passa por Trails of cold steel 1, 2 e 3 e mesmo assim sentimo-nos perdidos ocasionalmente! 

Agora que já colocamos de lado este aspecto do jogo, temos de tirar o chapéu à produtora, pela sua capacidade em dar um bom seguimento a um enredo tão amplo, com um grupo de personagens enorme e mesmo assim conseguir dar algum tempo de atenção a todas elas. Muito devido à forma fragmentada com o aborda alguns destes elementos, com vista a não tornar demasiado avassaladora a experiência para os próprios fãs da saga. 




Efectivamente quem jogou os primeiro jogos de Trails of Cold Steel, reconhece o enorme world building existente e a forma como isso contribui para a potenciação do impacto de alguns dos momentos mais memoráveis de toda a serie a ocorrerem neste quarto título. O final do terceiro título, sem querer entrar em spoilers, é possivelmente um dos maiores cliffhangers da história dos RPGs orientais modernos e enquanto o quarto jogo começa imediatamente a seguir a esses eventos, demora um pouco até pegar nessa story line em particular. Para jogadores que acabaram o terceiro capitulo á pouco tempo, a variação do pacing da história vai parecer-vos abismal, mas Trails of Cold Steel 4 faz um óptimo trabalho em consolidar os destinos e caracterizações mais recentes das personagens após esses eventos. Fundamentalmente, o inicio deste jogo em particular é uma das coisas mais tradicionais de sempre num RPG oriental, com a nossa equipa a visitar cidade atrás de cidade e masmorra atrás de masmorra, até conseguir voltar aquele ponto no enredo. Mas este período tem um propósito que passa por interiorizar o impacto nos personagens depois dos eventos trágicos que ocorreram nos momentos finais do capítulo anterior, pelo que existe um sólido sentido na escolha do produtor neste inicio mais lento. 


 

No que toca às mecânicas de combate, os jogadores irão contar com um esquema bastante similar ao terceiro título, seguindo o esquema de batalhas por turnos, nos quais temos de controlar as acções dos nossos personagens, o seu tempo de execução, impacto nas fraquezas dos adversários, etc. A Falcom tomou a decisão correcta em reduzir um pouco o impacto dos bónus de ataque do estatuto de “Stagger” dos inimigos. Desta forma é evitada a situação (em parte) do que acontece com o título anterior, onde facilmente abusávamos das fraquezas dos inimigos e levando a dificuldade a reduzir-se para níveis mínimos. Esta situação ainda acontece parcialmente (principalmente a partir do meio do jogo), mas não com uma extensão tão ampla. Isto traduz-se numa sensação de que as batalhas tornam-se mais tácticas, ainda que mais pausado e tenso em certas lutas. Uma óptima melhoria face às versões anteriores, na nossa opinião, permitindo ao jogador experimentar desafios maiores, ter um melhor controlo do fluxo de batalha e uma mais profunda personalização da sua forma de jogar. 

Graficamente o jogo aposta num aprimorar do apresentado na terceira entrega da saga, com alguns visais durante as batalhas bastantes cativantes, mas que inevitavelmente demonstra já os limites e idade do Phyre Engine. Também a caracterização artística dos cenários é bastante bem conseguida, ainda que não conseguindo destacar-se da sensação de tratar-se de um título low budget (bem, comparativamente!). No global podemos assumir que se trata de uma boa e profunda caracterização visual dos cenários e personagens, com certamente inúmeros momentos “eye candy” para o jogador. A sua performance é bastante sólida durante a maioria do jogo, porém denotamos que em certos cenários mais detalhados, com vários inimigos e efeitos especiais a decorrer, existe uma quebra da taxa de fotogramas. No nosso melhor entendimento, nada que prejudique a experiencia global do jogo a longo prazo. 

Ainda na valência audiovisual, a banda sonora é bastante cativante e memorável. Onde novos temas são reunidos aos previamente existentes na série providenciando um sentimento de continuidade e evolução ao jogador. Reconhecidamente, certas faixas mais tecno demoram um pouco a associar à experiencia em si, mas eventualmente torna-se bem integradas. 


 
Abordando a caracterização das personagens, devido ao enorme número existente, muitas ficam relegadas para segundo lugar, somente com a ocasional fala ou participação. Factualmente, a vocalização apresenta um bom trabalho, mas não isenta de problemas. Não devido à sua qualidade, mas principalmente na quantidade, onde o problema observado nas entradas anteriores surge novamente. No meio de uma cutscene, existe a mistura de várias personagens com e sem vocalização, por exemplo. Também certas cenas mais profundas mereciam ter a participação das vozes das personagens para dar uma melhor sensação de interiorização da experiencia. No global o sentimento que perdura é que nas cenas que mais marcantes existe um bom trabalho dos actores, mas em certas falas principalmente nos momentos mais mortos, aparentam alguma falta de entrega na sua representação apresentado alguma falta de naturalidade do discurso.

Finalmente, o jogo também denota alguma repetibilidade midgame que corta um pouco o ritmo da história, devido a revisitar os mesmos lugares já previamente conhecidos e um conjunto de banal de side quests. Felizmente existe um conjunto de novidades que lutam por manter o interesse do jogador, tais como o fast travel , mas principalmente associadas à liberdade providenciada em podermos refinar melhor a nossa equipa. Este aspecto associado a um pacing de entrega da história desajustado (mas also típico da série!) é efectivamente o grande problema deste título. 





Conclusão

Trails of Cold Steel 4 está longe de ser o melhor da série, principalmente por perder algum impacto do que nos apresenta, mas não deixa de ser uma óptima conclusão para uma cativante história com um extenso e bem caracterizado grupo de interessantes personagens. Se tivéssemos que comparar a outros meios de entretenimento seria o equivalente a um Endgame da MCU ou o último episódio de Dragon Ball. Reconheceríamos a qualidade do que foi criado e apresentado, mas não compreenderíamos a sua totalidade e extensão se não seguíssemos as inúmeras entregas ao longo de dezenas de filmes ou episódios. 

Mas não se enganem, estamos indiscutivelmente perante uma das maiores sagas dos RPGs modernos. Quem estiver disposto a despender 300 ou 400 horas em jogar Trails of Cold Steel 1, 2, 3 e 4 sairá enriquecido desta experiência com uma sensação recompensadora. É verdadeiramente um título que denota grandiosidade e que assumiu sem medo a difícil tarefa em conseguir entregar aos seus fãs um final cativante, emotivo e diferenciado. 

A sensação que perdurará na mente e coração dos jogadores é de fazermos parte daquele grupo de amigos e sentiremos verdadeiramente pena de que não voltaremos novamente aquele mundo. 



O Melhor 
  • Final bem composto para um enredo gigantesco 
  • Sistema de combate refinado ao seu melhor 
  • World Building Cativante (mas para isso tem de jogar os anteriores!) 
  • Banda sonora envolvente e evoluída 



O Pior: 
  • Pacing da história terrivel em certas alturas do jogo 
  • Cast demasiado grande, disperso e com algumas personagens a ter uma caracterização mais singela 
  • Falta de vocalizações importantes. 



Pontuação do GameForces – 8.0/10 




Título: The Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV 
Desenvolvedora: Nihon Falcom 
Publicadora: NIS America 
Ano: 2020 



Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 4, através de um código gentilmente cedido pela NIS America. 


Autor da Análise: Carlos Silva




[Análise] Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV [PS4] [Análise] Legend of Heroes: Trails of Cold Steel IV [PS4] Reviewed by Carlos Silva on novembro 23, 2020 Rating: 5

Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.