Guia Steam Deck - Tudo o que Precisam de Saber

Quando a Valve anunciou a Steam Deck, ficamos imediatamente entusiasmados e rendidos. Uma consola portátil poderosa, com a qual podemos levar a nossa biblioteca Steam, construída ao longo de décadas, para qualquer lugar? A revelação quase parecia irreal, não só pelo nível de ambição da promessa de trazer todas as funcionalidades e jogos Steam para um formato portátil (muitos dos quais criados apenas com rato e teclado em mente) mas também pelas promessas de liberdade que a Valve tecia com o OS.

Com a nossa curiosidade conquistada, não só realizamos prontamente a reserva de uma unidade, mas também acompanhamos todas as novidades avançadas até ao lançamento, que compilamos no nosso artigo de informações pré-lançamento. E, agora, depois de termos a máquina nas mãos durante um ano, estamos preparados para partilhar convosco um artigo exaustivo sobre ela, conciliando as nossas conclusões e impressões, a nova informação dela que só pudemos saber depois de uso e experimentação e uma série de dicas e resoluções para problemas comuns.

Poderão estar a perguntar-se “Um ano?”. Sim, um ano. Com o ritmo acelerado de atualizações que a Steam Deck tem recebido, fomos adiando recorrentemente a publicação deste artigo para que este não se tornasse obsoleto numa questão de dias – algo que se provou positivo, visto que íamos apontar vários pontos negativos que atualmente não se colocam. Também esperamos (e cansamo-nos de esperar) ansiosamente a prometida implementação de suporte a Dual-Boot, que nos permitirá manter SteamOS (o sistema operativo de raiz) e Windows instalados em simultâneo, e que não tem chegada à vista. A consequência natural desta espera é que, se forem entusiastas seguidores da consola, poderão já saber tudo isto ou mesmo já ter uma Deck nas mãos; mas se não for esse o caso, fiquem a conhecer este hardware fascinantes.

Este artigo será bastante exaustivo, e não esperamos que todos estejam dispostos a lê-lo do início ao fim. Consequentemente, dividiremos o texto por tópicos e, utilizando o índice, poderão saltar diretamente para as secções do vosso interesse. Se querem saber apenas se achamos se a Steam Deck vale ou não a pena, terão de esperar um pouco mais: no futuro próximo, poderão ler a nossa análise da consola, que consistirá num texto (comparativamente) curto focado na nossa experiência.

 Índice

  1. A Consola
  2. A Interface
  3. A Experiência de Jogo
  4. A Steam
  5. Modo Computador e Aplicações Não-Steam
  6. Decky Loader
  7. Hubs e Modo TV
  8. Os Jogos da Concorrência
  9. A Experiência Windows

A Consola (voltar ao topo)

Antes de mais, a Steam Deck é um equipamento portátil preparado para todo o tipo de jogos. Para além de conter os típicos gatilhos, botões e analógicos que são obrigatórios em qualquer comando, a Deck conta ainda com botões traseiros programáveis, um ecrã de toque, trackpads que podem simular o rato ou analógicos, sensor giroscópio e um microfone.

Existem três modelos da consola, que apenas variam no tipo e capacidade de armazenamento, ecrã de vidro com trabalho anti-reflexo e recompensas. Consoante o que escolherem, terão de desembolsar entre 419 e 679 euros mas, independentemente do modelo, a compra apenas poderá ser realizada pela Loja Steam. Embora o processo de aquisição tenha funcionado por ordem de reserva durante meses, atualmente podem comprar a portátil sem fila de espera e recebê-la-ão num prazo de duas semanas.

Modelo

Steam Deck 64GB

Steam Deck 256GB

Steam Deck 512GB

Preço

419€

549€

679€

Armazenamento

eMMC 64GB (podendo ser expandido com cartão microSD)

SSD NVMe 256GB (podendo ser expandido com cartão microSD)

SSD NVMe 512GB (podendo ser expandido com cartão microSD)

Ecrã de vidro antirreflexo de alta qualidade

Não

Não

Sim

Bolsa de transporte

Sim

Sim

Sim; design diferente das restantes

Bónus digitais

 

Pacote de perfil da Comunidade Steam exclusivo

Pacote de perfil da Comunidade Steam exclusivo

Tema exclusivo para o teclado virtual

Seria impraticável continuar a recapitular tudo o que já se sabia da Deck, incluindo especificações, processo de troca de componentes, verificação de compatibilidade e outros aspetos. Por isso, se quiserem conhecer estes aspetos, leiam a compilação de informações que preparamos previamente ao lançamento da máquina da Valve. No presente artigo, dedicar-nos-emos às questões mais importantes e que só pudemos avaliar com a unidade nas mãos.

Nós optamos por encomendar a versão 512GB, (discutivelmente) a melhor e mais cara. Não recomendamos o investimento: adiantamos já que, nos nossos testes, a velocidade dos loadings dos aplicativos não diferiu significativamente consoante estivessem instalados no microSD ou na memória interna da consola. Consequentemente, a quantia correspondente à diferença entre o preço dos modelos da Steam Deck poderá ser mais bem empregue na aquisição de um microSD de alta capacidade, se não valorizarem o ecrã antirreflexo ou os bónus especiais. Podem inclusivamente comprar vários microSD e manter um conjunto de jogos diferentes em cada um!

Quando a nossa máquina chegou e pegamos na sua bolsa, a nossa primeira impressão foi: “Que trambolho gigante"! E isto mesmo não havendo desculpa para tal surpresa, por já termos visto enxurradas de imagens comparativas! Apesar das imagens, só mesmo segurando a máquina tivemos uma verdadeira noção do seu tamanho. Nenhum dispositivo portátil que seguramos sem acessórios de terceiros chega perto da sua dimensão. O melhor equivalente que encontramos corresponde à Nintendo Switch com o HORI Split Pad Pro, que tem um comprimento bastante equiparável, embora seja mais compacta na largura e altura.

A grande vantagem destas dimensões é que a Deck é deliciosamente confortável. A consola funde-se com as nossas mãos logo que a agarramos, com dois grips traseiros a acomodar perfeitamente a curvatura dos nossos dedos. Esta robustez repercute-se no peso: a consola pesa 600g, mais 200g do que a Nintendo Switch com Joy-Con acoplados e mais do dobro de uma PSVita. Para nós, esta diferença não teve qualquer impacto negativo, tanto que a Deck é o dispositivo portátil em que nos sentimos mais confortáveis a jogar durante horas a fio (de modo equiparável ao Wii U Gamepad).

A comodidade também se deve à qualidade dos seus botões. Todos são positivamente grandes e fáceis de alcançar, mesmo que a disposição lado-a-lado dos analógicos face ao D-PAD e botões frontais possa ser estranha para quem ainda não sondou com o tacto o novo produto da Valve. Mesmo após um ano de uso, os métodos de controlo da unidade mantêm-se com o mesmo nível de qualidade e funcionalidade do primeiro dia em que os usei.

Os analógicos são macios e responsivos a pequenos movimentos, os botões frontais e traseiros têm um click satisfatório e rápido e os triggers analógicos (L2/R2) são macios e facilmente maleáveis. O D-Pad não alcança a perfeição do de alternativas como os de Wii U Pro Controller e Nintendo DS, mas ainda assim supera inquestionavelmente os incluídos em comandos como Dualshock 4 e Nintendo Switch Pro Controller.

Os trackpads sob os analógicos são confortáveis e possuem uma resposta háptica prazerosa (que pode ser desativada), simulando o deslizar de um rato ou a rotação de uma trackball. Todavia, até agora não encontrei um único jogo em que estes fossem superiores aos analógicos ou giroscópio. Independentemente disso, eles são uma ferramenta fundamental para navegar naturalmente o Modo Computador, que discutiremos mais adiante, e os menus/opções finas de interfaces de jogo criadas com rato e teclado em mente. Relativamente ao giroscópio, este método de controlo é tão responsivo quanto expectável atualmente, e por defeito está programado para simular as ações de um rato ou analógico – uma fantástica opção para quem, como eu, está habituado a usar controlos por movimento em títulos como Splatoon, e que pode ser desativada por quem assim desejar.

No campo sonoro, a máquina portátil da Valve é impecável. A diferença de qualidade sonora entre todas as consolas portáteis da Nintendo/Sony e a Steam Deck é como da noite para o dia, e o áudio não sofre distorção nos níveis de volume mais elevados.

Ainda assim, há uma área em que a Steam Deck não nos impressiona: o ecrã. O problema não é a resolução: 1280x800p é razoável para um ecrã de 7 polegadas. Porém, o tratamento anti-reflexo da versão 512GB não é tão eficaz quanto desejaríamos. Teria sido mais bem empregue a inclusão de um ecrã OLED na edição premium da Steam Deck, que nos proporcionaria cores mais vibrantes e verdadeiros negros à semelhança da mais recente revisão da Nintendo Switch.

A imagem acima, proveniente do material promocional da Valve, inclui a versão americana do carregador. Se comprarem a Steam Deck a partir da União Europeia, receberão o carregador com padrão de tomada europeia.

Juntamente com a consola, recebemos o seu carregador, uma bolsa de transporte, uma bolsa adicional para o cabo de alimentação e um pano de microfibra para limpeza do ecrã, sendo estes dois últimos artigos exclusivos da versão 512GB. Todos estes acessórios são de elevada qualidade, sendo de destacar a firmeza e resistência da bolsa. Infelizmente, nesta só podemos transportar acessórios num espaço externo, sob uma banda elástica de retenção. Mesmo que tenha sido projetado para não aumentar ainda mais o tamanho da bolsa, este compartimento peca em profundidade e largura, limitando bastante o que podemos guardar nele… além de que, quando o usamos, não conseguimos afastar o receio de que algo irá cair (mesmo que nada tenha caído dele até hoje). Adicionalmente, o cabo de alimentação da Steam Deck, tendo apenas 1.5M, é demasiado curto para permitir conforto em certos contextos. Têm a opção de utilizar cabos USB-C de terceiros mas, se usarem um carregador com potência inferior a 45W, a unidade carregará lentamente e poderá mesmo perder carga se a utilizarem enquanto está conetada à corrente.

Portanto, fisicamente, consideramos a Steam Deck praticamente irrepreensível. E se a ligarmos?

 

A Interface (voltar ao topo)

Sempre que ligarem a Deck, ver-se-ão de caras com a nova interface “Big Picture”, criada com este dispositivo em mente. Se já estão familiarizados com consolas, em nada estranharão este menu. Todo ele pode ser navegado integralmente e independentemente com as várias configurações de controlo da consola (seja botões e analógicos, rato e teclado ou ecrã de toque), e inclui as diferentes opções a que estamos habituados numa consola atual.

A página inicial do sistema, apropriadamente denominada Início, apresenta-nos os títulos que abrimos mais recentemente, as mais recentes notícias relacionadas com os nossos jogos, a atividade recente dos amigos e recomendações de jogos. Para acederem aos restantes menus da consola, podem premir STEAM a qualquer momento, seja usando o botão físico dedicado ou o do canto inferior esquerdo do ecrã de toque.

 Pelo menu Steam, poderão aceder a:

·     - Biblioteca: Onde encontrarão os vossos jogos, divididos pelas categorias Excelentes no Deck, Todos os jogos, Instalados, Favoritos, Coleções e Não-Steam. Em qualquer categoria exceto Não-Steam, poderão ordenar os jogos de diversas formas (ex. alfabeticamente, tempo de jogo, espaço no disco, pontuação Metacritic) e filtrá-los de acordo com uma série de critérios (compatibilidade com a Steam Deck, número de jogadores, gênero, funcionalidades Steam como Remote Play Together e Compatibilidade com comandos). As Coleções são comparáveis aos Grupos da Nintendo Switch, sendo conjuntos de jogos criados pelo utilizador (ou automaticamente pela Steam, usando um ou mais critérios, tais como os filtros mencionados);

·     - Loja: Onde poderão conhecer, pesquisar e comprar jogos para a Steam (Deck) e transferir mods para jogos compatíveis com Steam Workshop. Apesar do design mais compacto que parece projetado para tablets, esta loja inclui toda a informação que encontram na versão PC da Steam;

·    Amigos e Chat: Onde poderão consultar a atividade de jogo de amigos e conversar com eles, quer por mensagens quer por chat de voz. Com jogos suportados, terão a opção de assistir à experiência dos vossos amigos ou mesmo juntarem-se a eles (em alguns casos, tal é possível por streaming mesmo que não possuam o título);

·    Multimédia: Onde poderão ver as vossas capturas de ecrã, filtrá-las por jogo e enviá-las para os servidores Steam (em privado);

·    Downloads: Onde poderão consultar o progresso das vossas transferências, alterar a prioridade das mesmas ou cancelá-las individualmente,

·    Definições: Onde poderão alterar as configurações da vossa Steam Deck. Entre as opções menos usuais, destacamos a possibilidade de alterar os tipos de notificações, agendar modo noturno, sincronizar uma miríade de dispositivos Bluetooth (incluindo dispositivos de áudio e comandos como o Dualshock 4, Joy-Con e Nintendo Switch Pro Controller), limitar a velocidade de downloads e agendar as atualizações automáticas.

·    - Ligar e Desligar: Onde poderão mudar de conta e suspender, encerrar ou reiniciar a Steam Deck. É também aqui que poderão entrar no Modo Computador, que discutiremos mais adiante. Este menu também pode ser acedido segurando o botão POWER no topo da consola.

Para além do Menu STEAM, podem aceder ao Menu de Definições Rápidas a qualquer momento usando o botão equivalente do lado direito da consola. Entre outras funcionalidades, as várias secções do menu permitem-vos ativar/desativar Wi-Fi, Bluetooth, Modo Noturno, Vibração e Resposta Háptica, consultar a bateria e iniciar uma sessão de Remote Play Together. As funcionalidades mais interessantes estão na aba Desempenho: aqui, podem ativar um painel (overlay) com vários níveis de complexidade que vos informará em tempo real de dados pertinentes como taxa de fotogramas e uso dos cores de CPU.

Ainda mais libertadora é a possibilidade de modificar o nível de desempenho, limitando a taxa de fotogramas e limite de potência térmica e ativando shading com metade da taxa, seja globalmente seja para jogos individuais. Jogando com estas definições, poderão aumentar bastante a duração da bateria e/ou garantir uma performance mais estável nos jogos.

Por fim, na página de cada jogo (ou usando o botão Steam enquanto executam um jogo), podem alterar as configurações individuais do comando para o jogo e a versão de Proton.

Existe um conjunto de atalhos importante para terem uma melhor experiência, que podem conhecer segurando STEAM. Os mais úteis para nós são STEAM + X, que ativa o comando virtual, e STEAM + R1, que captura um screenshot. Embora tenhamos estranhado a inexistência de um botão físico dedicado a capturas de ecrã, acabamos por compreender a decisão de codificar esta ação com um combo, à luz da compatibilidade da Steam Deck com múltiplos comandos com menos botões que, sem os combos, perderiam o acesso a estas ações.

A implementação destes combos deixa um pouco a desejar, uma vez que, quando premimos STEAM e outro botão em simultâneo, esse botão é detetado pela aplicação de fundo. Por exemplo, se usarmos STEAM + A para abrir o menu de definições rápidas com um jogo aberto, o jogo atuará como se tivéssemos premido A. Por isso, se tivermos pausado o jogo e executarmos o combo, retomaremos a jogabilidade sem o desejarmos. Como devem imaginar, esta situação é irritante e limita a nossa utilização destes atalhos. Podem contornar esse problema se segurarem o botão STEAM e aguardarem um instante antes de premirem o segundo botão do combo.

Se quiserem dar um tour por estes menus, não precisam de possuir uma Steam Deck. Basta instalarem a Steam num computador e acederem ao menu Big Picture, que é exatamente o mesmo.

 

A Experiência de Jogo (voltar ao topo)

Vamos lá passar ao que interessa: os jogos. A Steam Deck nasceu com um catálogo inigualável, beneficiando de décadas de lançamentos para PC. O problema é que, bem, são jogos PC. Nenhum deles foi projetado com este hardware em mente, pelo que a Deck tem dois grandes obstáculos a derrubar para fazer o vasto catálogo Steam funcionar nela:

·    Maior parte dos jogos para PC foram concebidos para Windows, enquanto a Steam Deck tem um sistema operativo baseado em Linux;

·       Muitos destes títulos foram preparados para serem experienciados apenas com rato e teclado, não tendo uma opção de controlos incluída para comandos estilo consola.

Pelo menos no que toca a compatibilidade (primeiro ponto), é raro encontrarmos algum problema. Quase todos os jogos que experimentamos funcionaram plenamente na Steam Deck, especialmente os modernos. Imensos títulos, desde indies como The Stanley Parable: Ultra Deluxe, Hollow Knight, Baba is You, Bug Fables: The Everlasting Sapling e Ender Lilies até jogos AAA como DOOM (2016), NieR Replicant ver.1.22474487139... (apesar de algumas quedas da taxa de fotogramas) e Metro Exodus parecem otimizados para a Steam Deck, proporcionando-nos uma experiência intuitiva e imersiva. Estes jogos e muitos mais são comparáveis às suas versões para consolas, mas com algumas vantagens, seja inerentes à plataforma Steam ou ao facto de serem jogos para computador, como a possibilidade de mudar as definições gráficas, de remapear os controlos e de jogar online sem custos extra. E, partindo para exemplos específicos, DOOM (2016) e Metro Exodus, com controlos por movimento que não existem na PS4 e Xbox One, veem na Deck a melhor forma de serem experienciados sem rato e teclado.

As exceções são geralmente jogos com um sistema anti-batota (anti-cheat), como Dead by Daylight e Fall Guys. No que toca a aferir a compatibilidade dos jogos, a classificação Deck Verified é extremamente útil: se um jogo é Aprovado ou Jogável, à partida poderá ser jogado comodamente na sua íntegra na portátil da Valve. Todavia, se um jogo for considerado Incompatível, tal não significa necessariamente que não o poderão jogar na Deck. Por exemplo, fomos capazes de jogar Dragon’s Dogma, AI: The Somnium Files e Sonic Adventure DX sem percalços, apesar de a Valve considerar os jogos incompatíveis. Outros títulos, como Fall Guys e Sonic The Hedgehog 4 – Episode I, não funcionam se puramente instalados e abertos pela Steam; contudo, com algumas correções lançadas pela comunidade (no caso de Fall Guys, uma versão especial da camada de compatibilidade Proton denominada Proton-GE) estes tornam-se plenamente jogáveis na Steam Deck. Avisamos, no entanto, que não podemos assegurar a segurança destas ferramentas de terceiros, e que deverão usá-las por vossa conta e risco.

Para estarem a par das potenciais correções para cada aplicação, recomendamos que utilizem o website ProtonDB. E, ainda que um jogo seja presentemente classificado como incompatível mas não desejem utilizar correções da comunidade, essa situação pode eventualmente alterar-se, porque a Valve encontra-se a trabalhar para melhorar a compatibilidade de muitos destes títulos.

Porém, as discordâncias que temos com a classificação Steam Deck nem sempre são no sentido positivo. Por exemplo, Monster Hunter World é perfeitamente jogável na Steam Deck, sendo especialmente impressionante quando comparado com Monster Hunter Rise, a sua sequência construída com uma consola portátil em mente. O título possui a classificação “Jogável” por ser necessário ativar manualmente o teclado virtual para a introdução de texto, mas a Valve também considera que o texto da interface é plenamente legível na portátil, quando este é ocasionalmente difícil de ler. Por seu lado, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain é considerado Aprovado, mas as suas cinemáticas pré-renderizadas travam demasiado na consola para que a experiência possa ser considerada ideal (pese embora estas cinemáticas poderem ser saltadas).

No que concerne à utilização de botões em jogos projetados unicamente com rato e teclado em mente, incluindo títulos antigos como The Elder Scrolls: Morrowind e indies como Undertale, a Steam automaticamente aplica uma configuração de comandos aos jogos que vos permite jogá-los integralmente na consola. Esta solução não é isenta de defeitos: em vez de vos mostrar os botões da Deck, a interface do jogo exibirá ícones correspondentes a ações de rato e teclado. Consequentemente, para saberem quais botões usar, terão de aceder às definições de comandos do jogo e ver (e memorizar) a que botões cada comando de rato e teclado corresponde. Apesar dos esforços da Valve, as configurações de controlo não são perfeitas: em Morrowind, inevitavelmente terão de navegar por caixas de diálogo com o trackpad, e em Undertale só conseguirão mover-se na diagonal com o DPAD e não com o analógico.

Felizmente, esta contrapartida de Undertale tem uma correção simples: o uso de um layout da comunidade! Qualquer jogador pode criar e partilhar um conjunto de configurações de controlos para um jogo específico e, se vocês tiverem um problema com os controlos predefinidos, o mais provável (mas não garantido) é que este esteja resolvido nas configurações da comunidade mais populares, que estão à distância de dois cliques.

Todavia, existe um ponto negativo que nem a comunidade nem as atualizações da Valve resolverão: a bateria. Segundo a Valve, a Steam Deck tem autonomia para 2 a 8 horas de jogo. Nos nossos testes, conseguimos esvaziar a bateria da máquina em menos de 2 horas em títulos como ELDEN RING e Cyberpunk 2077. Por seu lado, jogos como DOOM (2016) e NieR Replicant Ver.1.22474487139... entram no limite inferior do intervalo apontado pela Valve. Passando para indies como Celeste, Baba is You e Hollow Knight, conseguimos espremer 4 a 5 horas de jogo. O mais perto que conseguimos chegar das gloriosas 8 horas prometidas pela Valve foi com batota: jogando por streaming, seja pelo Xbox Cloud Gaming ou Steam Remote Play Anywhere. Mesmo com este uso leve da Steam Deck, nunca batemos as 6 horas de uso ininterrupto. Todas estas estimativas correspondem à nossa experiência usando as definições gráficas padrão do jogo e da consola e tendo Wi-Fi ligado e 50% de brilho. É expectável que, desligando o Wi-Fi e minimizando o brilho, possam aproximar-se um pouco mais do tempo prometido pela Valve.

O modo de descanso também deixa a desejar. Como seria de se esperar, basta premir o botão POWER do dispositivo para instantaneamente suspender/retomar a nossa sessão de jogo. A nossa crítica dirige-se à autonomia da Steam Deck em Sleep Mode. Em descanso, a Steam Deck demora aproximadamente 9 dias a drenar a sua bateria. Embora não seja péssima, esta duração da carga é substancialmente inferior à doutras plataformas como a PlayStation Vita e a Nintendo Switch, que aguentam semanas em repouso. Aliás, estas duas consolas em suspensão são capazes de procurar e transferir atualizações de sistema e de aplicações, enquanto a Steam Deck é, para todos os efeitos, um tijolo em coma quando está suspensa. 


A Steam (voltar ao topo)

Os layouts da comunidade são apenas uma das múltiplas funcionalidades que têm garantido a supremacia da Steam sobre concorrentes como a GOG e Epic Games Store. Praticamente todas as mais-valias da loja estão presentes na Steam Deck, incluindo:

- Remote Play Together: Em jogos compatíveis, poderão usar Remote Play Together para experienciar um título com multiplayer local com até 3 outros jogadores online, por streaming, mesmo que só um participante possua o jogo! Neste processo, a Steam Deck tanto pode ser anfitriã como convidada. Em ambas as situações, Remote Play Together funciona perfeitamente, salvo um crash de longe a longe;

- Remote Play Anywhere: com Remote Play Anywhere, podem transmitir os jogos instalados no vosso computador (ou Deck) para outro dispositivo remoto, como outros computadores, telemóveis e tablets. Como a Steam Deck é um computador, esta funcionalidade funciona nos dois sentidos: não só podem jogar remotamente na Deck um jogo de outro computador, mas também podem transmitir para um computador ou dispositivo inteligente os jogos instalados na Deck!;

- Suporte a vasta gama de comandos: usando Bluetooth ou USB, poderão com comodidade sincronizar e utilizar comandos de terceiros, como o Dualshock 4, Switch Pro Controller e Wii U Pro Controller (este último usando um adaptador como o 8bitdo Wireless USB Adapter). Como referimos acima, o sistema de atalhos permite que qualquer comando, por mais simples que seja, tenha acesso às várias funções de sistema. Como não podia deixar de ser, podem usá-los, em conjugação ou não com os controlos da própria consola, para participarem em sessões multiplayer local!;

- Uso de mods do Workshop em jogos compatíveis: indo à secção Informações de um jogo compatível, como A Hat in Time, poderão abrir a Workshop para conhecerem os mods criados para o título. Se um vos piscar o olho, basta subscreverem-no para que este seja automaticamente transferido e instalado. Infelizmente, não existe uma forma de separar os mods instalados por dispositivos, pelo que a vossa Steam Deck terá exatamente os mesmos mods instalados que o vosso computador com Steam;

- Dados de gravação em nuvem: sem custos extra, os vossos dados de gravação serão automaticamente carregados para a nuvem e sincronizados entre os vários dispositivos em que têm sessão iniciada na Steam;

- Aplicação de configurações de comando criadas pela comunidade para jogos específicos: como referimos acima, podem facilmente transferir e aplicar definições de comandos da comunidade para cada jogo. Normalmente, encontramos sempre uma perfeita para nós dentro das três mais populares;

- Funcionalidades de amigos Steam: após adicionarem amigos, podem conversar com eles por chat ou por voz (seja individualmente ou em grupos de conversação), convidá-los para partidas online, transmitir em stream privada o que estamos a jogar, e convidá-los para jogar remotamente títulos com multiplayer exclusivamente local (como Overcooked 1), através de Remote Play Together. Na secção atividade, podem também saber o que é que os vossos amigos jogaram recentemente e ver as conquistas que desbloquearam;

- Funções de comunidades: a loja Steam inclui várias vantagens de comunidade, que se fazem sentir em inúmeros aspetos da loja. Por exemplo, existe um sistema de análises dos jogadores, que vos permite conhecer as opiniões dos jogadores e o tempo de jogo que eles tinham no momento da publicação da análise; existem também grupos criados por utilizadores onde encontrarão jogadores com interesses comuns; podem partilhar screenshots e publicações na comunidade de cada jogo e no vosso feed;

- Usufruto offline dos jogos instalados: Parece óbvio, mas ainda assim achamos por bem confirmar que podem desfrutar da vossa biblioteca de títulos sem uma ligação à internet. Naturalmente, há exceções: HITMAN 3, por exemplo, obriga o jogador a manter-se permanentemente online para participar nas missões. Estes são casos excecionais e apenas dependem das decisões controversas dos desenvolvedores e publicadora, e não da infraestrutura Steam;

- Partilha de Biblioteca: se ativarem a Partilha de Biblioteca na Steam Deck, todos os utilizadores da Deck poderão jogar os jogos da tua conta;

- Sistema de conquistas.

Apesar desta vasta gama de funcionalidades, há omissões de relevo em relação ao Big Picture antigo, como o leitor de música e o navegador que estavam previamente embutidos...

 

Modo Computador e Aplicações Não-Steam (voltar ao topo)

Muitas falhas que seriam frustrantes ou mesmo imperdoáveis numa consola tradicional são mitigadas na Steam Deck graças ao Modo Computador. Como o nome indica, nele podem fazer tudo o mesmo que poderiam fazer com um computador tradicional, dentro do sistema operativo Linux. Se estiverem habituados a Windows ou MacOS, Linux pode parecer imediatamente intimidante, mas a distribuição Linux incluída com a Steam Deck é bastante intuitiva, tendo uma interface semelhante à dos sistemas operativos mais populares.

Quando iniciam sessão neste modo, já contam com várias aplicações pré-instaladas, como a Steam e Mozilla Firefox. Para instalarem mais aplicações, a vossa primeira paragem é a aplicação Discover, afixada na barra de tarefas. Nesta espécie de loja (em que só há conteúdo gratuito), podem encontrar um pouco de tudo, incluindo navegadores como Google Chrome, reprodutores multimédia como VLC Media Player e Kodi, editores de imagem como GIMP e aplicações de comunicação como Discord e Telegram.

Também poderão aceder à Steam neste modo. Se tocarem no seu ícone na barra de tarefas, iniciarão o cliente para computadores, que possui uma maior gama de funcionalidades do que o Modo de Jogo. Dentro da Steam, têm a opção de iniciar o modo Big Picture, que vos apresenta o mesmo menu e funcionalidades do Modo de Jogo.

Uma das funcionalidades exclusivas do Modo Computador é a possibilidade de adicionar aplicações, designadas de jogos não-Steam, à biblioteca da Steam. E o melhor de tudo é que, após o fazerem, poderão utilizá-las no Modo de Jogo! E é por isso que é-nos fácil dar um desconto à Deck: não há navegador? Bem, depois de instalar Firefox ou Google Chrome (que até tem uma configuração de controlos especial ativada automaticamente pela Deck), a portátil tem o melhor navegador de qualquer consola. Não tenho como ouvir música? Errado, depois de instalar VLC Media Player e Spotify, posso fazê-lo, inclusivamente enquanto jogo!

Para poderem navegar o ambiente de trabalho, a Steam configura automaticamente os controlos da Steam Deck numa série de ações úteis. O trackpad direito funciona como um touchpad, e se premirem os trackpads esquerdo e direito executarão os cliques direito e esquerdo do rato, respetivamente. Se precisarem de usar o teclado, podem a qualquer momento invocá-lo usando STEAM+X, e esta é apenas uma das várias combinações de botões úteis para a navegação. E, claro, se preferirem criar um esquema de controlos personalizado, basta acederem à secção Comando das Definições da Steam para alterarem mudar a “Configuração do Ambiente de Trabalho”.

Esta metodologia de controlo não é perfeita, mas há manhas que vão interiorizando à medida que usam a máquina portátil. O mais importante para a nossa experiência prende-se com o clique esquerdo do rato: com o trackpad, não é fácil executar um duplo clique sem mover o cursor mas, se segurarmos o botão STEAM, podemos executar o clique esquerdo com mais estabilidade premindo o botão R2.

Quando terminarem de usar o ambiente desktop da Deck, podem facilmente voltar para o Modo de Jogo usando um atalho no ambiente de trabalho ou terminando a sessão do sistema operativo.

Decky Loader (voltar ao topo)

Não é por o SteamOS já ser um sistema aberto que a comunidade não pode abri-lo ainda mais. Pouco tempo após o lançamento da portátil da Valve, nasceu o Decky Loader, um launcher de plugins que expande as funcionalidades de SteamOS exponencialmente.

Com Decky Loader, podem personalizar os menus da consola, atualizar as vossas aplicações do Discover (flatpaks) sem precisar do Modo Computador, controlar o leitor de música sem sair do jogo, partilhar a vossa atividade de jogo no Discord, e adicionar etiquetas de compatibilidade às páginas dos jogos, entre muitas outras funcionalidades.

Caso pretendam saber mais sobre Decky Loader, o vosso ponto de partida ideal é a página GitHub do projeto. Visto que esta é a ferramenta de terceiros que mais invasivamente interfere com o SteamOS e que plugins como PowerTools permitem a alteração de parâmetros que o utilizador comum não deve manipular, optamos por não ser mais elaborados na nossa cobertura deste launcher.

Gostaríamos, ainda assim, de partilhar uma inconveniência inerente ao uso do Decky Loader. Após o instalarmos, notamos que ocasionalmente as nossas aplicações não-Steam desaparecem do Modo de Jogo. Para resolvermos provisoriamente este problema, precisamos de aceder ao Modo Computador, abrir o Modo Big Picture da Steam, abrir um jogo não-Steam através dele e, finalmente, regressar ao Modo de Jogo.


Hubs e Modo TV (voltar ao topo)

Com tanta ênfase colocada na portabilidade da consola, é certo que muitos não sabem que é possível usar a Steam Deck na televisão ou monitor como se de uma Nintendo Switch ou PSP se tratasse.

Para pensarem nessa possibilidade, precisarão de uma hub ou dock USB. Ora, a Valve lançou uma base oficial para a portátil, que poderão encomendar por 99,00€. Esta possui uma entrada para alimentação por USB-C, 3 portas USB-A 3.1 Gen1, uma entrada Gigabit Ethernet e saídas DisplayPort 1.4 e HDMI 2.0 para ligação a ecrãs com suporte a 4K a 60 Hz ou 1440p a 120 Hz. Após atualizações futuras, a base tornar-se-á compatível com as tecnologias MST, para ligação a vários monitores em simultâneo, e FreeSync.

Se estão na dúvida sobre se vale ou não a pena…. Não sou a pessoa certa para responder. Muito, muito antes da base ter sido disponibilizada para compra, eu comprei um hub USB para jogar na televisão. A Valve tinha garantido que qualquer hub funcionaria; por isso, não me pus a inventar e comprei um “genérico” no AliExpress, que satisfez todas as minhas necessidades e me deixou sem qualquer motivo para adquirir a base oficial.

Usando as portas USB, fui capaz de utilizar sem quaisquer percalços comandos USB (como o HORI Split Pad Pro e o 8bitdo Wireless Adapter), headsets, e dispositivos de armazenamento – basta conectá-los e a consola automaticamente reconhece estes periféricos e configura-os num piscar de olhos.

Tanto dispositivos USB como cartões microSD e SD conectados à Deck podem ser utilizados como dispositivos de armazenamento no Modo Computador (sendo lidos pela Deck em bastantes formatos comuns, como exFAT, FAT32 e NTFS), mas infelizmente usá-los para instalarem os vossos jogos não é tão simples. Se seguirem as instruções deste artigo de Retro Resolve, poderão configurar um dispositivo amovível para uso como armazenamento extra. E, ainda assim, existe um senão: precisam de ter o periférico conectado à consola antes de a ligarem para este ser automaticamente reconhecido e, se o removerem e voltarem a conectar, este apenas será reconhecido no Modo de Jogo se reiniciarem a consola ou se acederem ao Modo PC, montarem a unidade e em seguida regressarem ao Modo de Jogo.

Como com qualquer outro periférico, a Steam Deck rapidamente se adapta ao novo ecrã. Assim que conectamos um cabo HDMI à hub, a portátil desliga o seu ecrã embutido e passa a usar o monitor/TV externo como saída de imagem. Ao contrário da Nintendo Switch, a Steam Deck está sempre a funcionar no mesmo nível de performance, por isso podem beneficiar do Modo TV com ou sem a consola ligada à corrente. Se optarem por usar uma hub sem carregador, as portas USB funcionarão com desempenho reduzido para conservar energia.

Embora a consola defina por si a resolução de exibição ideal, podemos aceder às definições para escolhermos uma diferente e para ajustar o dimensionamento da imagem. Notem que, mesmo quando a resolução escolhida no SteamOS é superior a 720p, a maior parte dos jogos que testamos não nos permite definir resoluções superiores a 720p. Para corrigirem isso, precisarão de aceder à página do jogo, abrir o menu "Propriedades" do jogo, e escolher a opção "Native" na secção "Resolução do Jogo".

De resto, não há muito a discutir sobre a experiência de jogo na TV. Esta é virtualmente igual à experiência portátil, apenas mudando o ecrã onde a ação se passa. Só sofremos uma perda na transição: o ecrã táctil. Apesar de este se manter operacional quando usamos a TV como saída de imagem, o seu uso é impraticável. Sem a imagem nesse ecrã, apenas podemos usar as funcionalidades de toque às cegas.

No Modo Computador, o segundo ecrã funciona de forma diferente. Nele, o ecrã da Steam Deck não se desligará, e por defeito funcionará como ecrã primário. Por seu lado, o ecrã da TV/monitor servirá como uma extensão do espaço de trabalho, para onde poderão arrastar as aplicações que desejarem. Se preferirem, podem aceder às definições do sistema e fazer com que os dois ecrãs mostrem a mesma imagem. Se optarem por trocar o sistema operativo da Steam Deck para Windows, a hub funcionará de igual modo e terão a mesma gama de configurações, com a diferença de que, por predefinição, os ecrãs serão espelhados.

Há um segundo detalhe negativo a apontar: de vez em quando, um dos menus pop-up da Steam Deck, como o Ligar/Desligar, pode estar presente no ecrã mas não ser o foco dos controlos com botões. Nestas situações, o menu permanecerá irritantemente à vossa frente, e todas as vossas tentativas de o fechar com botões apenas mexerão no resto do sistema no fundo. No modo portátil ou Modo Computador, este problema é facilmente resolvido usando o ecrã de toque; todavia, no Modo TV precisarão de remover a consola da TV ou tocar às cegas no ecrã, correndo o risco de selecionar uma opção indesejada, para fecharem o menu.

Vamos agora aproveitar para falar de um motivo pelo qual imagino que muitos utilizarão o modo TV: multiplayer local. Antes de mais, relembro: não há nada que possam fazer no modo TV que não possam fazer em modo portátil. Se assim desejarem, podem jogar com amigos no ecrã embutido da Steam Deck.

Posto isto, a experiência com amigos na Deck é excelente. Como supramencionado, a Steam Deck é compatível com praticamente todos os comandos modernos, usando Bluetooth e USB. Ao contrário do que acontece na Switch, a própria consola pode (ou não) ser usada como comando para multiplayer. Por fim, o menu de definições rápidas inclui uma opção para reordenar comandos, que vos permite definir facilmente qual comando será o jogador 1, e quais comandos ficarão de fora da sessão.


Os Jogos da Concorrência (voltar ao topo)

Num computador, a Steam não é a única loja de jogos digitais à vossa disposição. E a Steam Deck é um computador. Não há qualquer restrição arbitrária na Steam Deck, pelo que podem livremente instalar jogos de qualquer outra fonte – desde que sejam compatíveis com Linux.

Essa é a grande limitação. A maior parte das lojas de jogos digitais não possui launchers para Linux (apesar de a GOG vender jogos Linux), mas isso não significa que terão de deixar estas bibliotecas a apanhar pó. Para poderem aceder a estas bibliotecas na consola portátil, precisarão de utilizar aplicações de terceiros – mais uma vez, por vossa conta e risco.

Por exemplo, para a Epic Games Store e GOG, a solução mais fácil é o Heroic Games Launcher. Basta instalarem este launcher pelo Discover, adicionarem-no à Steam como jogo não-Steam e iniciarem sessão nas vossas contas GOG e Epic Games para poderem instalar os vossos jogos.

Mas ainda vos falta uns passinhos para os poderem jogar. Antes de mais, precisam de instalar Wine-GE. Enquanto Proton-GE é uma camada de compatibilidade criada para os jogos Steam, Wine-GE foi criada para uso com jogos não-Steam fora da Steam. Tanto Proton-GE como Wine-GE podem ser instalados facilmente com uma ferramenta disponível no Discover denominada ProtonUp-Qt. Depois de instalaram a versão mais recente de Wine-GE, devem aceder à página de definições do jogo que instalaram no Heroic Games Launcher e selecioná-la na secção Wine Version.

Por esta altura, já podem abrir o vosso jogo. Mas o inimaginável pode acontecer: depois de todo este trabalho preparatório, o jogo não abrir. Nestas situações, a vossa melhor amiga é ProtonDB. Esta base de dados contém milhares de relatórios de compatibilidade de jogos e as soluções necessárias para abrirem os títulos mais casmurros. Por exemplo, eu não conseguia abrir a minha versão Epic Games de Axiom Verge. Na página correspondente de ProtonDB, descobri que precisava de adicionar “-opengl” como um argumento nas launch options da aplicação. Após esta simples correção, este metroidvania funcionou na perfeição!

E os jogos que não têm qualquer launcher? Refiro-me, por exemplo, aos jogos da itch.io. O processo para desfrutarem deles variará, consoante foram preparados para Windows ou para Linux. Se transferirem a versão Linux, tipicamente existe um executável do jogo ou um ficheiro com extensão .sh que podem abrir ou executar com Konsole (premindo o botão direito do rato sobre o ficheiro e escolhendo a opção correspondente) respetivamente, e a aplicação será prontamente executada. Se transferirem um jogo com executável Windows, terão de o adicionar à loja da Valve como jogo não-Steam, definir uma versão Proton (ou Proton-GE) na secção Compatibilidade das definições do jogo e presto. Mais uma vez, se o jogo não funcionar após estes passos, a ProtonDB está sempre pronta para vos salvar o dia.

A única loja cujos jogos irremediavelmente não podem ser instalados em Linux é Xbox. Felizmente, a Microsoft atirou-nos um osso: usando o navegador Edge, poderão experienciar os vossos títulos Xbox Game Pass por streaming. A sequência de passos necessária para poderem usufruir de Xbox Cloud Gaming na Steam Deck é detalhadamente delineada pela Microsoft numa página de suporte dedicada. Na nossa opinião, se não se importarem de estarem dependentes de uma conexão de internet (ótima) e de perderem a opção de manter o jogo em Sleep Mode, esta é uma boa forma de espremerem a vossa subscrição Xbox.


A Experiência Windows (voltar ao topo)

Portanto, têm aqui uma mão-cheia de gambiarras para jogarem os vossos jogos não-Steam na Deck. …Ou, então, podem simplesmente instalar Windows, e terem a experiência a que já estão habituados no vosso comum computador.

Desde logo, temos de deixar um aviso: a nossa experiência Windows não será totalmente representativa da que terão se trocarem SteamOS pelo sistema operativo da Microsoft. Acreditamos que o SteamOS é capaz de satisfazer todas as nossas necessidades de jogo, excetuando a instalação nativa de jogos Xbox, e que está inteiramente otimizado para a Steam Deck com uma série de otimizações e ajustes de que teremos de abdicar se trocarmos para Windows.

Por esse motivo, em vez de instalarmos Windows 11 no SSD da Steam Deck para testarmos o sistema operativo, instalamo-lo num microSD. Existem vários motivos pelos quais desencorajamos vivamente que sigam esta solução. Primeiramente, os microSD têm uma velocidade de escrita e leitura significativamente inferior à de HDDs e SSDs, o que levará a uma experiência Windows menos fluida. Adicionalmente, na nossa experiência de instalação de drivers e de usufruto do modo de descanso deparamo-nos com erros e encerramentos abruptos da Deck que, consoante apuramos, não surgem em instalações de Windows realizadas no SSD.

Posto isto, não pensem que é por trocarem para Windows que se livram de fazer configurações extra. Após instalarem Windows e os drivers da Steam Deck, alguns ajustes serão fundamentais para tornarem o OS da Microsoft tragável na máquina, sem rato e teclado. De raiz, o sistema operativo reconhece o ecrã de toque, bem como o trackpad direito. Os botões L2 e R2 são nativamente reconhecidos como o clique direito e esquerdo do rato respetivamente, pelo que já só vos falta um teclado para poderem navegar livremente Windows. Assim, devem dirigir-se à aplicação Definições, aceder a "Hora e idioma" -> "Escrita" -> "Teclado tátil" e ativar a opção “Mostrar o teclado tátil quando não existir qualquer teclado instalado”. Esta definição autoexplicativa, no entanto, não funciona de modo universal. Por isso, deverão também premir com o botão direito do rato na barra de tarefas, aceder a "Definições da barra de tarefas", e escolher a opção “Mostrar sempre o ícone de teclado tátil”.

Se, depois de fazerem isto, tiverem ido disparados como uma seta jogar os vossos títulos da Epic Games Store, de certeza bateram de frente noutro obstáculo: a ausência de compatibilidade dos jogos com os controlos embutidos da Steam Deck. Existem várias soluções para ultrapassar este problema, mas a minha preferida é instalar a Steam e adicionar as lojas desejadas como jogos não-Steam. Podem, em alternativa, adicionar os jogos individualmente pelo executável correspondente, mas poderão encontrar alguns erros em aplicações dependentes da infraestrutura online da Epic (como BloonsTD6).

Infelizmente, para os jogos da Loja Xbox o processo não é tão simples. Para os poderem adicionar à Steam, precisarão de ferramentas como UWPHook. Porém, para nós, ter estes títulos na biblioteca Steam não serve de muito. Os controlos da Deck não serão detetados pelos jogos mesmo se iniciados a partir da loja da Valve, por isso, instalamos a solução Steamdeck Windows Controller Driver, que cria um comando Xbox 360 virtual a partir dos botões da Steam Deck. Assim, tanto jogos Xbox como de qualquer outra loja que sejam compatíveis com comandos Xinput reconhecerão os botões da Deck. 

Contudo, se esta aplicação estiver ativada ao mesmo tempo que a Steam, a Steam reconhecerá tanto os controlos da Deck como o comando virtual, o que resultará em inputs duplicados nos jogos da Steam. Assim, passa a ser necessário encarar os jogos Steam e jogos externos à Steam como ambientes isolados: se queremos experienciar um título Xbox, devemos fechar a Steam primeiro, e se queremos abrir um título Steam, devemos pausar ou fechar o Steamdeck Windows Controller Driver.

Se não pretenderem jogar títulos Xbox na Steam Deck, para além da compatibilidade com os controlos da Deck, outra vantagem de usarem a Steam para abrirem aplicações de lojas como a Epic Games Store e a Uplay é a possibilidade de regressarem para os braços do modo Big Picture. Este é igual ao Modo de Jogo que já descrevemos exaustivamente, e que foi desenhado com a experiência na Steam Deck no centro. Se for a vossa vontade, podem até optar por fazer do Modo Big Picture o vosso menu principal em Windows, bastando para isso aceder à secção Interface das Definições da Steam e ativar as opções “Iniciar o Steam sempre que eu iniciar o meu computador” e “Iniciar o Steam no Modo Big Picture”.

Existe uma terceira mais-valia inerente ao uso da Steam: enquanto tiverem a Steam em execução, os botões da consola serão reconhecidos no ambiente de trabalho da mesma forma que no Modo Computador do SteamOS, pelo que beneficiarão de combos como STEAM+X para invocar o teclado no ecrã a qualquer momento e STEAM+ESQUERDA para premir Esc.

Após todo este trabalho preliminar, à partida podem respirar fundo e desfrutar dos vossos jogos, sem necessidade de novos ajustes. Se quiserem dar um passo extra, deixamos uma dica final para melhorar o funcionamento de Windows na Deck: hot corners. Com esta ferramenta, terão uma boia salva-vidas para as situações em que ficarem presos numa aplicação ecrã cheio: em vez de terem de desligar a consola, basta arrastarem o rato para o canto escolhido do ecrã e poderão regressar à área de trabalho.


Conclusão (voltar ao topo)

Esperamos que este artigo colossal tenha a resposta para as vossas dúvidas relativamente a este hardware inesperado da Valve. Se possuírem alguma questão relacionada com o funcionamento da Deck que não é respondida por nós neste texto, sintam-se à vontade para a colocar num comentário. Assim que possível, publicaremos a resposta num comentário e incorporaremos a resposta no corpo do artigo.

Apesar desta coluna de texto, ainda ficou algo por discutir: a nossa opinião subjetiva sobre a experiência com a unidade portátil. Podemos ter atirado umas migalhas da nossa opinião aqui e acolá, mas este foi um texto predominantemente informativo, e como tal optamos por complementar estas informações com uma análise breve, que será publicada no futuro próximo.

Guia Steam Deck - Tudo o que Precisam de Saber Guia Steam Deck - Tudo o que Precisam de Saber Reviewed by Tiago Sá on fevereiro 20, 2023 Rating: 5

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