Tormented Souls [PS5] - Quase(!) o terror de antigamente

 Acabámos de beber um Gin, apagámos as luzes e ligamos os auscultadores ao comando. Foi assim que nos preparámos para a experiência que Tormented Souls nos devia trazer. Devia? Sim, infelizmente toda a vivencia ficou aquém do que um jogo de Terror e Sobrevivência devia transmitir. Mas vamos por partes.



A história talvez seja  um dos elementos mais interessantes de toda a produção, mas que infelizmente ficou manchada devido a algumas falhas que nos foram desiludindo no percorrer do jogo. Encarnamos a pele de Caroline Walker que está muito sossegada a maquilhar-se, quando recebe uma carta do Hospital de Winterlake, contendo uma fotografia com duas crianças. Nesta altura somos submetidos a uma espécie de  tutorial dos puzzles, muito à semelhança de Resident Evil , onde temos que rodar a fotografia para dar uma resolução ao puzzle e consequente seguimento á história. 



Imediatamente a protagonista é assolada de uma forte dor, passando de imediato para a cutscene seguinte onde nos encontramos já a caminho do hospital, isto porque não pensamos em mais nada e quando adormecemos somos assombrada com macabros pesadelos. Este fio condutor do enredo inicial da historia fez-nos sentir que é algo abruto e havia margem para melhorar bastante toda a introdução, facilmente potenciando a experiência apresentada.



Mas se até aqui fomos ficando de pé atrás, a cena seguinte demonstrou ainda mais que não foi dado grande enfase ás emoções transmitidas ao jogador. Ainda durante a cinemática inicial, ao entrarmos no hospital e consequente inicio de exploração, somos atingidos por algo (não conseguimos sequer distinguir com o que) e acordamos sem roupa numa banheira, ligados a um ventilador e com uma ligadura a cobrir um olho. Após removermos o ventilador com algum custo, levantamo-nos e acaba a cutscene com Caroline já vestida. Os primeiros passos que damos fazem já prever o quão confusa é a jogabilidade, mas iremos abordar esse tópico mais adiante. Passados os primeiros passos, damos de frente com um espelho onde a nossa personagem apercebe-se que tem uma ligadura num dos olhos. Mais uma cinemática onde Caroline tira a venda e descobre um vazio no lugar do olho. Ela ajoelha-se, chora e depois segue a sua vida. 
Eu não sei quanto a vocês, mas se eu acordasse num sitio desconhecido e me tirassem um olho, eu também chorava é verdade, mas berrava e batia com as coisas e amaldiçoava tudo à minha volta. Os criadores do jogo tinham aqui uma oportunidade soberana para desenvolver uma empatia entre o jogador e a personagem, criando alguma alma ao jogo (alma essa que nunca nos chega a ser presenteada). 

O próximo puzzle já envolve a combinação de itens e a exploração de algum lore do jogo que se apresenta através de um diário. Nomeadamente, diversas folhas de vários diários estão espalhados nos cenários, sendo que ao colecioná-las trará finalmente algum argumentos ao background da história. Esta mecânica enriquece o enredo, indicando o porque de estarmos ali, sendo isto naturalmente algo que faz novamente  vir ao de cima o "espirito" de Resident Evil.


Mas as inspirações com outros títulos do género continuam. Á semelhança da série Silent Hill, em diversos momentos da narrativa poderemos ir para outras dimensões e outro espaço temporal ainda mais tenebrosos. Esta opção narrativa é implementada não só para avançarmos no enredo, como também para a resolver diversos puzzles. 
No que se refere às gravações das sessões de jogo, somente é possível fazê-lo em pontos específicos recorrendo a gravadores antigos e com o uso de fitas especificas. Estas fitas vão sendo encontradas enquanto exploramos o Hospital e são limitadas durante toda a experiencia, criando uma necessidade de escolha por parte do jogador de quando usá-las. 



O ambiente em si está perfeitamente bem conseguido. O Hospital está tenebroso,  com pouca luz, desarrumado, com um ar abandonado e toda a classe de uma mansão transformada num hospital. Sendo a luz (ou falta dela) uma vertente bastante "normal" num jogo de terror, Tormented Soul conseguiu usar essa faceta de uma maneira bastante interessante. Deparamo-nos com várias salas sem luz, onde teremos de utilizar um isqueiro para nos movermos. Se o deixarmos de utilizar numa sala completamente às escuras, o ecrã começa a ficar estático e com "chuva de televisor", acabando por morrer inexplicavelmente. Esta é uma forma interessante de criar algum suspense durante a exploração das várias divisões, onde temos que encontrar alguns candelabros para acender enquanto ouvimos os passos e os barulhos dos inimigos criando um lado sombrio.



A musicalidade de fundo carrega um peso neste tipo de jogos e aqui foi bastante enriquecedor sentirmos o piano clássico a dar dimensão ao ambiente. O ruído de fundo e o consequente aumentar de volume á medida que os monstros se aproximam trás também alguns calafrios à espinha. 

Contudo, este ambiente opressivo tão bem conseguido pela componente audiovisual é infelizmente manchado pela aparição dos monstros, que chega a revelar-se cómica. Os monstros mais comuns são pedaços de corpos em andarilhos que atacam criando uma serie de picos nos seus corpos, ou uns a rastejar com uma botija nas costas que disparam cuspo. Não esperávamos de todo um grafismo de excelência, mas não nos parece ter havido um suficiente empenho na modelagem/criação destes inimigos. Aproveitamos aqui para salientar que o próprio rosto da nossa  personagem também transmite este sentimento, mais uma vez não ajudando na transmissão de sensações ao jogador.

Para conseguirmos derrotar os inimigos, no decorrer da história é fornecida uma arma (e mesmo o momento que nos é entregue é incoerente e sem qualquer tipo de lógica), que é nada mais nada menos uma pistola de pregos modificada com pressão de ar (novamente sem qualquer motivo ou lógica). 



Outro ponto negativo passa pela jogabilidade. A personagem move-se de uma maneira muito pouco natural. O apontar e disparar da arma é lento e pouco polido, mas o que estragou completamente a jogabilidade é a visão da camara. Cada divisão é apresentada através de diversos ângulos fixos consoante a posição da nossa personagem, o que faz novamente relembrar os títulos de terror mais antigos. Contudo, ao percorrermos as divisões, com as mudanças de câmaras, também os controles mudam tornando por diversas vezes frustrante o simples fato de caminhar por um quarto. Esta tarefa ainda é mais complicada quando temos um monstro atrás de nós, causando por diversas vezes sermos apanhados devido a este problema de camara (visto estes até serem bastante ágeis apesar da aparência). 

Os únicos momentos de terror (mínimo) que sentimos foram quando ao mudar de visão do quarto um dos inimigos estava a escassos centímetros de nós. Estas ocasiões traduziam-se sempre em dois cenários:  ou ele estava de costas e conseguíamos fugir, isto é se conseguíssemos evitar os problemas de controlo indicados anteriormente; ou ele atacava e perdíamos vida que poderia ser restaurada usando morfina ou caixas de remédios (itens de saúde espalhados pelo jogo).

Conclusão

Fizemos um esforço para gostar de Tormented Soul. Até reconhecemos que poderá ser um inicio de uma franchise com futuro. Mas baby steps. Muitos baby steps. Talvez os "fãs religiosos"  de jogos de Suspense e Terror possam apreciar este, mas tem vários pontos a ser melhorados para trazer outro tipo de jogadores a gostarem desta iniciativa.


O Melhor:
  • O ambiente criado;
  • História (que apesar de momentos sem nexo, no geral, está bem conseguida);
  • Vertente audiovisual bem feita para o género.

O Pior:
  • A jogabilidade;
  • Os problemas que cria a mudança de camara;
  • Texturas desatualizadas;
  • Falta de emoção durante todo o jogo.
 

Pontuação do GameForces – 5.5/10


 
Título: Tormented Souls
Desenvolvedora: Dual Effect, Abstract Digital
Publicadora: Pqube Games
Ano: 2021


Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PS5, através de um código gentilmente cedido pela PQube Games
 
Autor da Análise: Filipe Martins




Tormented Souls [PS5] - Quase(!) o terror de antigamente Tormented Souls [PS5] - Quase(!) o terror de antigamente Reviewed by Filipe Martins on setembro 04, 2021 Rating: 5

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