Sonic Colours Ultimate [PS4] - Alta Velocidade Numa Estrada Acidentada


As aventuras de Sonic têm sido como uma montanha-russa, com vários altos e quedas bastante acentuadas. Ainda no rescaldo do seu ponto mais baixo – Sonic ’06 -, e depois de tentar variar um pouco as mecânicas de jogo em Sonic Unleashed, os jogadores da Nintendo Wii foram brindados com Sonic Colours em 2010. Para os jogadores dessa consola, este título voltou a elevar o nome deste franchise, tendo deixado os jogadores de outras consolas de fora deste parque de diversões. Agora, e com a chegada de Sonic Colours Ultimate, os fãs do ouriço azul têm a oportunidade de jogar uma versão remasterizada deste título independentemente da sua consola de eleição. Mas será esta uma experiência que ficará na nossa memória, ou uma onde as maiores atrações já passaram o seu prazo?

(De notar que esta análise corresponde à versão PS4 do jogo, experienciada numa PS5 através da retrocompatibilidade.)


Quando o habitualmente malvado Dr. Eggman abre um parque de diversões espacial, Sonic e Tails ficam naturalmente desconfiados de que o cientista louco está a planear alguma. Desta feita, os heróis ficam surpreendidos por não encontrarem nada e por Eggman estar aparentemente empenhado em abrir um parque de diversões legítimo sem segundas intenções – com ênfase em “aparentemente”. Claro que o vilão está a esconder mais um plano para conquistar o mundo, utilizando a energia gerada por uns seres alienígenas chamados Wisps. Assim, Sonic terá de percorrer as várias áreas deste parque interplanetário, ir libertando os seres capturados e trabalhar em conjunto com os mesmos para pôr fim a mais um plano megalómano do seu arqui-inimigo.
 
Antecipando já algumas questões que podem surgir: sim, esta narrativa é algo simples e não muito diferente de tantos outros títulos de Sonic the Hedgehog; e sim, toda esta premissa é apenas uma justificação para a jogabilidade e algumas mecânicas distintas que o jogo introduz (já lá vamos!). Contudo, há que enaltecer o argumento do jogo, que se apresenta um pouco acima da média para os padrões deste franchise. Sonic apresenta-se um pouco mais atrevido e insolente nas piadas que faz, Tails apresenta-se mais “respondão” às tiradas rápidas do seu parceiro, e mesmo Eggman e os seus capangas se apresentam mais tolos e desajeitados do que é habitual. Embora este exacerbar das personalidades de cada interveniente nem sempre atinja o resultado pretendido, podendo até resultar em alguma irritação para alguns jogadores, temos de admitir que largamos mais algumas risadas do que esperávamos durante a experiência.
 

Seja o argumento bom ou não, a jogabilidade será sempre um dos aspetos mais importantes de qualquer experiência de Sonic the Hedgehog – se não mesmo o mais importante. Como seria de esperar, Sonic pode correr, saltar, usar um ataque teleguiado, deslizar, pisar objetos/inimigos e impulsionar-se em alta velocidade. Ocasionalmente, Sonic corre ao longo de uma pista sendo possível fazê-lo desviar-se como se estivesse a mudar de faixa de rodagem. Aqui, encontramos o primeiro problema da jogabilidade, uma vez que esta “mudança de faixa” é feita através do analógico esquerdo, o mesmo que usamos para acelerar nestas sequências. Isto leva a alguns desvios e movimentos não intencionais e, muito provavelmente, a sofrer dano desnecessariamente, sendo de espantar esta mecânica não estar associada aos botões L1/R1 (como acontece em Unleashed e em todos os Sonic subsequentes).
 
Durante os níveis, é comum haver também mudanças de perspetivas, alternando entre a perspetiva 3D e uma 2D. As habilidades de Sonic não se alteram, e mecanicamente o jogo comporta-se praticamente do mesmo modo. Contundo, estas mudanças de 3D para 2D expõem alguns problemas, relacionados com o salto básico e a movimentação no ar. O facto de o salto sofrer um ligeiro solavanco caso se fique a pressionar no X mais do que o habitual leva a padrões de salto algo irregulares. Outro aspeto que não ajuda é o facto de a movimentação no ar ter uma espécie de mecânica de balanço. Ou seja, saltar e dar de imediato um ligeiro toque no analógico, ou dar o mesmo toque quando Sonic já está em movimento gera avanços diferentes no ar. Tudo isto leva a que a jogabilidade em 2D seja sentida como mais leve e flutuante, prejudicando bastante a nossa precisão.
 

Estamos, portanto, perante uma jogabilidade sólida o suficiente, mas imperfeita. Felizmente, temos as mecânicas dos Wisps para contrabalançar isto e dar um toque diferenciado a toda a experiência de Sonic Colours Ultimate. Estes pequenos alienígenas aparecem espalhados pelos níveis e conferem-nos diferentes transformações com habilidades especiais consoante a sua espécie e cor. Desde nos transformar numa broca para furar o chão e navegar rapidamente pela água, até nos transformar num fantasma para podermos atravessar algumas paredes, ou até nos transformar num pequeno monstro que devora elementos decorativos e inimigos, entre outros… Estas mecânicas são divertidas e muito bem-vindas pela variedade que acrescentam, pelo facto de termos de escolher bem o momento ideal para ativar cada habilidade, e por nos conferir a possibilidade de explorar níveis com designs muito mais abertos.
 
Por falar em design de níveis, também este aspeto do jogo apresenta várias imperfeições. Sonic Colours Ultimate apresenta uma estrutura de mundos, cada qual com seis níveis e um encontro de boss. Geralmente, os níveis estão bem desenhados, variando entre sequências de alta velocidade gratificantes e precisas sequências de plataformas desafiantes. Este misto é bem-vindo, ajudando a variar o ritmo de jogo, mas há que apontar que a transição entre estas sequências deixa algo a desejar. Não é incomum estarmos perante uma sequência veloz, com todos os elementos do nível a incentivarem a nossa aceleração e, de repente, sermos projetados contra um qualquer obstáculo que nos trava no lugar. O pior é que são várias as situações em que este travão nos chega através de uma armadilha ou um inimigo que nos causa dano e nos faz largar todos os anéis que tínhamos arrecadado. É impossível não olharmos para estas instâncias como frustrantes e como espelho de um design de níveis bastante datado para os padrões de hoje – quiçá mesmo para os padrões de 2010.
 

Outro grande problema com o design dos níveis prende-se com a repetibilidade de sequências. Geralmente, o primeiro nível de cada mundo é o melhor do mesmo, apresentando um novo cenário e algumas ideias diferentes das encontradas nos mundos anteriores. Mas à medida que avançamos nos níveis, vemos várias das sequências do primeiro nível do mundo serem recicladas, levando-nos a perguntar em voz alta “eu não fiz já isto?” várias vezes. O pior é que mesmo os bosses são semi-reciclados ao longo dos vários mundos. O boss do quarto mundo é uma versão ligeiramente mais poderosa do que se encontra no primeiro, e o mesmo se aplica ao boss do quinto mundo (equivalente ao do segundo) e ao do sexto (equivalente ao do terceiro). Isto denota uma falta de criatividade difícil de compreender, dada a enorme variedade de mecânicas para explorar que a introdução dos Wisps confere ao jogo.
 
Sonic Colours Ultimate é um jogo relativamente curto se apenas quisermos atingir os créditos finais, sendo possível fazê-lo em cerca de 6 horas. No entanto, o jogo incentiva-nos a regressar várias vezes a cada nível, em busca dos elusivos anéis vermelhos e dos ranks máximos. Enquanto a busca pelos colecionáveis especiais é bastante prazeroso, estando normalmente muito bem escondidos e requerendo sequências de movimentos precisos ou a utilização do Wisp certo na altura certa, a conquista de S Ranks para todos os níveis é outra história. Obter estes é, naturalmente, desafiante, mas também frustrante em igual medida. Isto porque o sistema de pontuação no final de cada nível parece valorizar muito pouco o tempo que demoramos a completar um nível, em detrimento da pontuação que se acumula ao longo do mesmo cada vez que colecionamos anéis ou derrotamos inimigos. Esta opção de design é, uma vez mais, bizarra, não nos cabendo na cabeça o porquê de um jogo de Sonic, onde a velocidade é a imagem de marca, valorizar tanto mais outros aspetos na hora de calcular as pontuações finais.
 
Mas Sonic Colours Ultimate tem outros incentivos à rejogabilidade. Este título apresenta vários níveis adicionais (21, se formos precisos) que se desbloqueiam à medida que se colecionam os anéis vermelhos. Completar estes níveis permitem-nos colecionar as Chaos Emeralds e, no fim, a possibilidade de usar Super Sonic nos níveis regulares. Esta versão apresenta também algumas novidades face ao seu lançamento original. Em cada mundo, podemos encontra Metal Sonic a desafiar-nos para uma corrida, no novo modo chamado Rival Rush. Estas corridas são talvez os maiores desafios do jogo, obrigando-nos a conhecer muitíssimo bem as nuances destes níveis de modo a descobrir a melhor sequência de ações e o melhor percurso. Ao longo dos níveis podemos também ir encontrando e colecionando moedas para utilizar numa loja do jogo. Esta loja contém uma série de elementos cosméticos que podemos equipar em Sonic de modo a personalizar o seu aspeto e alguns efeitos visuais no jogo.
 

Aproveitando a deixa dos efeitos visuais, e passando assim para os aspetos mais técnicos do jogo, a vertente gráfica de Sonic Colours Ultimate é também bastante inconsistente. As sequências jogáveis foram muitíssimo aprimoradas, apresentando uma nitidez significativamente mais elevada que a da versão original de 2010. Isto ajuda a enaltecer a belíssima e colorida direção artística do jogo, tornando os cenários de cada nível muitíssimo apelativos. Por outro lado, as sequências cinemáticas pré-renderizadas apresentam-se intocadas face ao lançamento original. O fosso de qualidade entre estas e os momentos jogáveis é enorme, aspeto com o qual não podemos deixar de ficar desiludidos.
 
De um ponto de vista sonoro, Sonic Colours Ultimate é bastante mais consistente e apelativo. Desde a música de soft rock que serve de tema principal para o jogo, até às várias trilhas sonoras presentes no decorrer dos níveis, é praticamente uma garantia que uma ou duas músicas ficarão presas na cabeça de qualquer jogador. Também os desempenhos dos atores que dão as vozes às personagens, bem como os efeitos sonoros que ouvimos quando estamos em controlo, ajudam a dar mais alguma vida à experiência, apresentando-se como bastante sólidos.
 
Por fim, e olhando para o desempenho do jogo, temos de voltar a apontar algumas inconsistências. Enquanto o jogo corre maioritariamente a 60 fotogramas por segundo, foram várias as ocasiões em que este valor caiu ligeira, mas notavelmente – mesmo estando a jogar numa PlayStation 5. Para além disso, deparámo-nos com alguns bugs irritantes, como o não aparecimento do sinal para se poder um ataque teleguiado, ou ficarmos presos num objeto ambiental, ou até num espaço vazio. O pior foi uma ocasião, que felizmente não se repetiu, na qual o jogo congelou muito perto do fim do desafio mais longo do jogo, obrigando ao fecho do jogo e à repetição do dito desafio desde o início.
 

Conclusões
Sonic Colours Ultimate é uma remasterização relativamente competente de um dos mais amados jogos em 3D do ouriço velocista. A jogabilidade é simples e variada, os níveis apresentam sempre um bom nível de desafio, e as melhorias visuais são notáveis nos momentos de ação. No seu melhor, este é um jogo bastante sólido e divertido, mas com algumas imperfeições evidentes que o impedem de ser um marco no seu género.
 
O Melhor:
  • Argumento é dos mais bem escritos do franchise, com momentos de humor bem conseguidos
  • Direção artística vívida na qual os níveis a apresentarem um grafismo notoriamente polido
  • A direção musical é memorável
  • Os Wisps dão uma variedade muitíssimo bem-vinda à jogabilidade, mas…
 
O Pior:
  • ... Há demasiadas instâncias de armadilhas injustas que denotam um design algo datado
  • Vários níveis e bosses são reutilizados de secções/encontros anteriores
  • Sistema de avaliação pouco intuitivo faz com que completar o jogo possa ser frustrante
  • Sequências cinemáticas pré-renderizadas apresentam uma qualidade de imagem baixíssima
 
Pontuação do GameForces – 7/10
 
Título: Sonic Colours Ultimate
Desenvolvedora: Blind Squirrel Games
Publicadora: SEGA
Ano: 2021
 
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 4, através de um código gentilmente cedido pela SEGA Europe.
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

Sonic Colours Ultimate [PS4] - Alta Velocidade Numa Estrada Acidentada Sonic Colours Ultimate [PS4] - Alta Velocidade Numa Estrada Acidentada Reviewed by Filipe Castro Mesquita on setembro 23, 2021 Rating: 5

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