[Análise] Blasphemous [PS4]



Depois de Dark Souls ter alcançado sucesso quando foi lançado em 2011, foram várias as produtoras e os jogos a tentar replicar ou adaptar a fórmula. Blasphemous apresenta-se como um desses jogos, tentando adaptar o estilo de jogabilidade e de narrativa a um jogo não linear em 2D. Tê-lo-á feito com sucesso, ou, como tantos outros, ficar-se-á por mais uma espécie de clone desinspirado?


Em Blasphamous, encontramos um mundo governado pela religião e superstição, devastado por uma maldição chamada “O Milagre”. Assim, a terra de Cvstodia transformou-se num local obscuro e habitado por criaturas perigosas e monstruosas. A nossa personagem é o Penitente, um lutador silencioso e o único sobrevivente de um massacre. Armado com a espada Mea Culpa, uma espada adornada com espinhos e uma figura do Retorcido (que esteve na origem do Milagre), teremos de partir em busca de uma solução para a maldição e da nossa própria absolvição.

Blasphemous tenta oferecer uma narrativa inspirada em elementos da mitologia da religião cristã. Tirando algumas curtas cutscenes animadas, a história é quase sempre contada de modo indireto, com diversos pormenores da história de Cvstodia e do Milagre a serem contados através dos elementos visuais ou das descrições mais alongadas dos itens que vamos encontrando. Ao longo do jogo, vamos explorando diversos ambientes profanados e vamo-nos cruzando com diversas personagens que estão nas suas próprias jornadas. Podemos optar por ir ajudando estas personagens ou podemos ignorá-las e prosseguir com a nossa demanda de derrubar bosses violentos e explorar o mapa vasto e interconectado.


Este modo de contar ma história é claramente influenciado por Dark Souls, mas não é o único elemento inspirado na popular série de jogos. O combate é constantemente castigador e minucioso, com cada ataque e cada movimento a ter de ser realizado com cuidado e precisão. Caso contrário, corre-se o risco de sofrer grandes danos e de morrer com muita rapidez. Aqui, encontramos a grande força de Blasphemous: cada inimigo, seja ele comum ou um boss, tem comportamentos padrão que teremos de analisar bem para encontrar o modo mais eficaz de prevalecer. Certos inimigos utilizarão ataques mais diretos, para os quais um rápido bloqueio e contra-ataque é o mais eficaz. Outros vão atacar à distância, pelo que a esquiva ou a navegação à volta destes e a utilização de ataques curtos podem ser o mais indicado. Há ainda inimigos, sobretudo os bosses, que utilizarão um misto destas estratégias, pelo que se tem de estar sempre atento e preparado para utilizar as ferramentas à nossa disposição.

Em termos de jogabilidade, esta acaba por ser relativamente simples de utilizar, mas, como já foi dado a entender, difícil de dominar. No decorrer do jogo e à medida que vamos explorando o mapa, vamos obtendo diversos itens equipáveis que podem ir alterando o modo de combater e de navegar. Alguns abrem novas opções de navegação e de exploração do mundo, outros fornecem pequenas melhorias e bónus, e ainda uns que dão regalias mais poderosas, mas com uma contrapartida. Há ainda alguns equipáveis que são utilizadas como magias que consomem a barra de fervor, para serem utilizados em combate. A gestão destes itens equipáveis vai sendo importante tanto na exploração como no confronto com bosses, dando aqui uma componente estratégica bem-vinda ao jogo.


Blasphemous apresenta um mundo interconectado, com um mapa a assumir a forma dos habitualmente encontrados em metroidvanias. Assim, a exploração acaba por ser um fator importante, não só para encontrar os itens equipáveis já referidos, mas também melhorias. Pelo mapa, vamos podendo encontrar salas escondidas com melhorias para a vida, para a barra de fervor, para a nossa espada e para obter mais frascos para nos curarmos. Ao derrotar inimigos vamos ainda ganhando pontos que podem ser utilizados em alguns locais para ganhar novas habilidades de combates, como um ataque após a esquiva ou um ataque carregado.

Num jogo assim, que exige bastante exploração e explorar áreas anteriores, muita atenção deve ser dada aos ambientes. Neste aspeto, encontramos outro dos pontos forte de Blasphemous: cada zona apresenta sempre um ambiente desconfortável de frequentar, com muita da arquitetura decadente e muitos elementos genuinamente arrepiantes. Em contrapartida, há que apontar que as áreas são muito pouco distintas umas das outras. Há alguns ambientes interiores, e outros exteriores, mas fora estas diferenças, os ambientes são todos demasiado semelhantes. Dentro de portas, os ambientes têm todos uma tonalidade muito escura e sombria, enquanto que fora de portas têm todos um fundo com tonalidades muito alaranjadas e avermelhadas. Isto torna-se um problema quando se adquire um item que permite aceder a um local específico, e não se consegue facilmente entender onde este está localizado.


De um ponto de vista mais técnico, Blasphemous é um jogo que apresenta um estilo visual pixelizado e em 2D atraente, apesar das imagens representarem quase sempre algo violento e desesperante. Apesar dos designs ambientais apresentarem os problemas já indicados, os designs do Penitente e das diversas criaturas são sempre interessantes e diversificados. Em particular, os bosses apresentam designs bastante diferentes daquilo a que estamos habituados, sendo sempre visualmente interessantes e, muitas vezes em simultâneo, horripilantes. Também as animações são sempre fluídas e precisas, sendo sempre claro quando um ataque vai ocorrer e atingir o seu alvo. O design sonoro é outro aspeto a louvar, sendo um contributo essencial para a sensação de desespero que se tem enquanto se navega pelo mapa de Cvstodia.

Assim, é pena que se tenha de assinalar de muito do potencial de Blasphemous é contrariado por muitos problemas com bugs e glitches. Para além de alguns crashes que levaram à perda de progresso, houve várias ocasiões em que se teve de voltar ao menu da PlayStation e voltar a lançar o jogo. Estas vieram em alguns momentos quando se morreu ao cair num buraco sem fundo, e no momento em que se regressava um dos checkpoints, o mapa abria-se sem maneira possível de o fechar. Também em algumas batalhas com bosses se viu alguns problemas. Numa destes, o boss deixou pura e simplesmente de atacar, tornando o último quarto da batalha, garantindo uma vitória fácil; noutro derrotou-se um boss enquanto este atacava, com o ataque a continuar depois da mensagem de vitória e causar a nossa morte. Houve ainda alguns casos nos quais os fragmentos de culpa (que se deixam no mundo quando morremos) não surgiram, impossibilitando a sua recuperação e o reparar dos danos causados.


Conclusões

É sempre um risco adotar o estilo popularizado por Dark Souls, mas Blasphemous fá-lo muito bem. A jogabilidade é sempre desafiadora, quer em combate quer em secções de plataformas, os bosses são visualmente interessantes e requerem estratégias diferentes para serem derrotados, e todo o ambiente é sinistramente belo, apesar de violento. No entanto, é algo problemático quando um metroidvania apresenta zonas com um aspeto tão semelhante, e os diversos bugs e crashes experienciados prejudicam a experiência. No final de contas, continua a ser um título recomendável para quem aprecia este género de jogos e uma jogabilidade Souls-like.

O Melhor:
  • A jogabilidade é meticulosa, sendo igualmente recompensante e castigadora
  • Estilo visual por pixéis é detalhado, com designs de criaturas bastante únicos
  • Ambiente geral do jogo é sinistro, com a música a desempenhar um papel importante

O Pior:
  • A variedade de cenários não é muito grande, sendo difícil de distinguir algumas das zonas
  • Alguns bugs irritantes e vários crashes prejudicam a fluidez do jogo


Pontuação do GameForces – 7.5/10


Título: Blasphemous
Desenvolvedora: The Game Kitchen
Publicadora: Team 17
Ano: 2019

Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

[Análise] Blasphemous [PS4] [Análise] Blasphemous [PS4] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on fevereiro 17, 2020 Rating: 5

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