Análise | Stellar Blade - Muito Mais que Uma Carinha Bonita




Conseguir distinguir, avaliar e escrever sobre as diversas componentes da experiencia transmitida por um videojogo é um dos principais exercícios reflectivos ao preparar uma análise. Confesso que, para Stellar Blade em particular, este é um exercício que sinto influenciar bastante as palavras que irei digitar sobre ele.

Para ser bem directo e abordando o grande tema que envolve este jogo, a sexualização da personagem principal, permitam-me que afirme que foi nesta ponderação sobre as diversas componentes do jogo que me apercebi que Stellar Blade é bastante mais do que a simples irreverência física de Eve. Ao longo desta análise irei apresentar as motivações para esta afirmação, mas as primeiras coisas primeiro!



Stellar Blade apresenta um conceito que denota claras influências de outros títulos, associadas a valores culturais Coreanos. Se tivesse de condensar tudo numa afirmação, diria que este jogo é uma mistura de Dark Souls, com Nier Automata, adicionando uns pozinhos de Bayonetta. A sua jogabilidade encontra-se claramente inspirada na serie Dark Souls, punitiva para o jogador, onde cada encontro tem de ser abordado com cuidado e a necessidade de gestão do esforço da nossa personagem é uma constante. Por outro lado, a temática, enredo, world setting e banda sonora respiram a série Nier por todos os seus poros. Já as mecânicas de combate apresentam-se como uma mescla das amplamente conhecidas da serie Souls, com os elementos de combos e bónus de contra ataque de Bayoneta (sem falar, claro da sexualização da sua personagem, mas já lá vamos a esse ponto!).

Começando por um dos principais elementos que definem esta experiencia, permitam-me afirmar que o world setting e sua banda sonora apresentam uma qualidade diferenciadora que perdurará na memória de qualquer jogador. Sim, o corpo de Eve é o aspecto que qualquer pessoa se lembrará, mas pessoalmente senti, durante larga parte da minha experiencia com ela, que o mais marcante para mim foi mesmo o ambiente criado, a sua envolvência e principalmente a capacidade de nos abstrair da realidade e mergulhar neste universo.



Os cenários estão cuidadosamente preparados e o seu aprestamento apresenta inúmeras curiosidades. A constante introdução de elementos espalhados por eles, abordando o lore deste mundo, é uma delícia de seguir. Posteriormente, já com o desenvolver do jogo, somos brindados com uma área que nos permite aceitar missões secundárias verdadeiramente enriquecedoras da experiência. Naturalmente também existem algumas que são claramente de conteúdo não diferenciado, mas essas estão bem identificados por estarem num simples placard de missões opcionais (e que poderão ser ignoradas se desejarem). A realização destas actividades enriquece tanto a experiência, que é a sua finalização que nos permite aceder a um novo final e terão impacto na recta final do jogo (fica a dica!).

Filipe Castro Mesquita

Assim que abri Stellar Blade, quis imediatamente mergulhar no mundo e na história para saber mais sobre este contexto pós-apocalíptico e sobre as grotescas criaturas que agora habitam a Terra. Visualmente é um portento e dos jogos mais belos que tive o prazer de jogar na minha PlayStation 5 até hoje. E nem me falem da música! Se não fosse a certeza de levar na boca forte e feio, podia muito bem largar o comando sempre que entro num momento de combate, para poder simplesmente apreciar as incríveis trilhas sonoras desta experiência.


Outro elemento que claramente impacta na experiencia absorvida pelo jogador é a sua jogabildade e mecânicas de combate. Em Stellar Blade não temos a profundidade de desenvolvimento da personagem de jogos como a série Dark Souls. Nem tão pouco apresenta o mesmo nível de refinamento, contudo não deixa de apresentar uma excelente “homenagem” à sua inspiração. Ao integrar a componente de combinações e bónus de esquivas e contra ataques perfeitos (muito à semelhança de Bayonetta), consegue apresentar uma experiência mais leve mecanicamente, mas que permite ao jogador sentir a imensa pressão em diversas lutas icónicas.





Sim, muito à semelhança de Dark Souls, as lutas com os bosses do jogo são verdadeiramente memoráveis e imporão ao jogador um verdadeiro desafio. É nestas alturas que somos chamados a aplicar o nosso melhor jogo e combinar as diversas mecânicas que o jogo introduz. Tudo isto, considerando um nível muito reduzido de tolerância ao erro. Felizmente não temos uma barra de stamina, o que permite até certo ponto usar e abusar da mecânica de defesa. Contudo, perdemos alguns pontos de vida ao usá-la (sempre que não conseguimos uma defesa perfeita) pelo que existe uma constante pressão em objectivar a sua correcta utilização.

Filipe Castro Mesquita

 Vejo a jogabilidade de Stellar Blade como algo que se aproxima de NieR – ataques velozes a lembrar hack ‘n slash - com uma pitadazinha de Souls lá para o meio (sem a perda da experiência aquando de uma morte). Mas sendo duas experiências tão mecanicamente diferentes, não tenho a certeza se isso é assim tão bom. As animações dos inimigos não são tão detalhadas quanto as de um Elden Ring. Isto torna, por exemplo, bastante imprevisível a perceção do timing certo para um desvio ou uma esquiva de ataques recebidos, bem como as caixas de contacto que podemos esperar de um golpe que vem na nossa direção. Ainda que sinta que este martelar de alguns elementos inspirados em Souls não seja perfeito, parece-me que o vastíssimo leque de opções de personalização de EVE pode muito bem colmatar algumas destas querelas que ainda tenho com o sistema de combate, e ainda bem.



Como mencionei previamente, o world setting, banda sonora e jogabilidade são os elementos mais diferenciadores da sua experiencia. Contudo, não posso deixar de lado a sua narrativa, enredo e caracterização de personagem. Neste âmbito, Stellar Blade apresenta mais uma vez claras influências da série Nier. Sem querer levantar muito o véu, nós seguimos as aventuras de Eve, um soldado de uma força especial, enviada para a Terra (a partir da sua estação espacial), para pôr fim a uma guerra entre a humanidade e uns monstros denominados de Naityba. O jogo começa com uma batalha imensa entre as forças especiais e este monstros, e Eve acaba por se tornar a única sobrevivente.



Como soldado que é, ela pretende concluir a sua missão original. É com o evoluir da aventura e com as pessoas que conhecemos, que ficamos a conhecer todos os factos dos eventos que se sucederam neste planeta e a verdade de toda a situação. É também neste exercício narrativo que é introduzida a motivação pelo corpo e sensualidade “inocente” de Eve. E com esta afirmação, permitam-me finalmente falar do grande tópico deste jogo: A sensualidade da personagem principal.

Já rocei diversas vezes esse tema ao longo desta analise, inclusive afirmando ser frequente a nossas atenção estar completamente dissociada com este assunto durante o jogo. A verdade é que a caracterização de Eve (e diversas personagens secundárias) está muitíssimo bem conseguida, justificando bastante bem o seu aspecto físico. Mas mais que o trabalho realizado pela Shift Up, temos de ter a noção que o a produtora é uma empresa Coreana e desejou (e em todo o seu direito) transmitir alguns elementos da sua cultura. Felizmente, fê-lo da melhor maneira possível, através de elementos ingame (na minha modesta opinião!), mas por outro lado é pena que a generalidade dos jogadores somente associe esta experiência ao corpo da protagonista. Espero, sinceramente, que este texto sirva de motivação para experimentarem este título e ficarem a ver que... lá está: Stellar Blade é muito mais que uma carinha bonita!



Para finalizar a minha dissertação sobre esta experiência, há mais dois tópicos que gostaria de abordar e acredito merecerem ser mencionados: A sua prestação gráfica e o reconhecimento de comandos. Certamente não podemos afirmar que estes temas são distintos ente si. É frequente um jogo com uma fraca prestação gráfica (por exemplo ao nível da taxa de fotogramas) ter problemas de reconhecimento de comandos.

Para esta experiência em particular agrada-me dizer que o jogo corre a uns estáveis 60 FPS na vasta maioria do tempo (no seu modo performance). De igual forma, este modo apresenta um excelente nível de detalhe visual, que somente é manchado por problemas de gráficos de “stutering” com alguns inimigos ao longe. Contudo, denotamos alguns problemas de reconhecimento de comandos neste modo mais fluido, que se agravaram no modo de fidelidade visual. Nada muito critico, mas que num jogo desta natureza foi suficiente para nos obrigar a respirar fundo algumas vezes, para acalmar!

Filipe Castro Mesquita

A jogabilidade de plataformas parece-me algo irredimível. Sempre que saltamos com EVE, controlá-la no ar é muito difícil e impreciso. Quase que me apetece dizer que EVE não salta, ela atira-se para cair com estilo. É impressionante a quantidade de secções de plataformas que já encontrei na primeira grande área do jogo, e o quão mais irritante cada uma é que a anterior. Nem mesmo as mecânicas de escalada ou de baloiço se safam. São muito mais certeiras e precisas, sim, mas as suas animações são tão rígidas e tão mais lentas do que tudo o resto que se passa no jogo, que não posso deixar de bufar quando vejo saliências pintadas de amarelo numa parede de um prédio.






Conclusões

Stellar Blade apresenta uma experiência extremamente polida e que procura inspirações em conhecidos títulos. Felizmente, a Shift Up, conseguiu unificar estes elementos de diversas naturezas de uma forma coerente e eficaz, tornando o resultado final mais do que a simples soma das partes. A sexualização da protagonista, ainda que servindo um propósito comercial, é notório ser também uma reflexão da cultura dos pais de origem do título, e está devidamente justificado durante o jogo. No final, não podemos deixar de recomendar que experimentem Stellar Blade, para que possam confirmar que efectivamente este é muito mais que uma carinha bonita!


O melhor

  • Combate bastante desafiante (para quem é fã de soulslike);
  • World setting e banda Sonora verdadeiramente  envolventes;
  • Missões secundárias de valor;
  • Caracterização de personagens bastante bem introduzida;
  • Prestação grafica sólida...

O pior

  • ...que apresenta esporadicamente alguns problemas à distância;
  • Alguns problemas de reconhecimento de comandos, principalmente no modo de fidelidade gráfica.

Nota do GameForces: 9/10


Título: Stellar Blade
Desenvolvedora: Shift Up
Publicadora: Sony Interactive Entertainment 
Ano: 2024

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a PlayStation 5, através de um código gentilmente cedido pela Sony, via LastLap.


Análise | Stellar Blade - Muito Mais que Uma Carinha Bonita Análise | Stellar Blade - Muito Mais que Uma Carinha Bonita Reviewed by Carlos Silva on maio 10, 2024 Rating: 5

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