[Análise] Within the Blade [PS5]


Parece que os ninjas voltaram a estar na moda no mundo da produção independente de videojogos. Depois de grandes títulos como The Messenger, ou, mais recentemente, de Cyber Shadow, voltamos a deparar-nos com um novo jogo de ação e plataformas onde somos colocados na pele de um ninja. Mas encontraremos uma experiência prazerosa quando pegamos nesta lâmina, ou será que Within the Blade apenas tenta chegar ao sucesso escondendo-se atrás de vitórias de outros jogos semelhantes?


Em Within the Blade encarnamos um ninja de um clã oculto, localizado algures num Japão devastado pela guerra civil que estalou entre outros clãs de guerreiros. Quando somos avisados de que vilas circundantes andam a ser atacadas, partimos para investigar e pôr fim à ameaça. Cedo percebemos que um dos clãs mais poderosos, conhecido como "Steel Claw", fez um qualquer pacto com uma série de demónios, com vista a atingir a supremacia. Mas esse pacto corre mal, com os demónios e os seus exércitos a começarem a infetar e destruir tudo e todos com quem se cruzam. Assim, caber-nos-á a nós enfrentar esta ameaça sobrenatural e salvar o Japão de cair aos pés destas entidades demoníacas. Esta acaba por ser uma narrativa que dificilmente alguém considerará original, com as reviravoltas a recaírem sobre o esperado e que nunca nos surpreenderam. Mas, como é o caso em tantos destes jogos, é sobre a jogabilidade que recairá a responsabilidade de tornar este um título prazeroso… mais ou menos.
 
Toda a ação do jogo decorre em 2D, com o nosso ninja a ser capaz de correr, saltar (duplamente), atacar e trepar paredes. Com estas habilidades, teremos de atravessar cerca de duas dúzias de níveis recheados de inimigos e obstáculos ambientais, de modo a cumprir vários objetivos. Caberá ao jogador decidir como abordar cada nível: furtivamente, tendo de aproveitar as zonas pouco iluminadas do mapa para nos deslocarmos e podermos rapidamente assassinar inimigos antes que estes deem o alerta, ou agressivamente, enfrentando tudo e todos de modo a matar quem se atravessar no nosso caminho. Esta existência de opções é de louvar, e independentemente da que tomamos, encontramos sempre níveis desafiantes, recheados de variadíssimos inimigos implacáveis na hora de nos atacar, e nos quais uma abordagem descuidada ou mal pensada pode resultar na nossa barra de vida a passar muito rapidamente  a estar vazia.
 

De facto, é esta exigência, por vezes brutal, que caracteriza tanto o que de melhor como o que de pior Within the Blade tem para oferecer. Comecemos pelos aspetos positivos. Esta exigência confere à experiência uma sensação bastante old school, onde somos recompensados pelo pensamento rápido e pelas ações e reações precisas. Tudo isto pode gerar momentos de conquista genuínos quando conseguimos uma vitória num nível. Aqui, teremos de destacar os níveis de boss, cada qual representa um desafio totalmente diferente do resto do jogo e que testa os limites da nossa capacidade de adaptação e do nosso domínio das mecânicas de jogo. Estes desafios são sempre variados e entusiasmantes, marcando facilmente os pontos mais altos de toda a experiência deste jogo.
 
Agora, vamos às instâncias e decisões de design nas quais Within the Blade é (bastante) mais infeliz. Esta impressão de revivalismo de experiências old school não foi apenas alcançada pela intransigência dos inimigos e bosses, mas também por algumas opções de design arcaicas. Ao longo dos níveis, não é incomum depararmo-nos com armadilhas ambientais absolutamente impossíveis de antecipar e que nos causam um dano significativo ou até, nos níveis mais avançados, enfrentarmos inimigos cujos ataques são imediatos ou surgem literalmente do nada. Algo que vem acrescentar à festa é facto de não haver um período de invulnerabilidade quando sofremos dano. Ou seja, um inimigo a evocar repentinamente uma série de ataques (como é o caso de um dos últimos bosses) pode levar a que soframos uma quantidade absurda de dano numa fração de segundo, sem qualquer possibilidade de nos ajustarmos ou de reagirmos.
 
Esta impossibilidade de anteciparmos ou de nos prepararmos para um ataque ou obstáculo, bem como a possibilidade de vermos a nossa barra de vida ser tão rapidamente reduzida sem nada podermos fazer, levam-nos a um sentimento de frustração, ficando com a impressão de que morremos injustamente com demasiada frequência. Esta sensação não é atenuada caso se opte por jogar Within the Blade no modo mais fácil, no qual o dano sofrido é menor, mas onde algumas instâncias de morte instantânea presentes ao longo dos níveis continuam presentes. Isto para não falar do modo de morte permanente, que não podemos em boa consciência recomendar nem aos mais masoquistas dos jogadores.
 

Within the Blade ostenta ainda algumas mecânicas que tentam dar um sabor distinto à experiência, mas que se apresentam derradeiramente inócuas. Primeiro, à medida que vamos avançando nos níveis e despachando inimigos e bosses vamos ganhando experiência que nos permite passar de nível. Cada nível passado permite-nos adquirir novas capacidades - como a impulsão para os lados -, ou melhorar o nosso ninja, aumentando a nossa vida ou o leque de combos ao nosso dispor. Depois, temos a possibilidade de equipar o nosso ninja com várias armas, que variam entre espadas, ganchos, kamas, entre outras. Embora cada arma tenha a sua utilidade, as espadas são claramente as armas superiores, permitindo-nos executar um mais variado (e mais mortífero) leque de manobras. Temos também a possibilidade de equipar e utilizar um vastíssimo leque de itens (bombas de fumo, minas explosivas, shurikens, poções, etc.), que funcionam como consumíveis esgotáveis. Esta variedade de opções é, à partida, bastante boa, podendo servir para dar ao jogo uma componente de planeamento e estratégica ainda mais profunda e prazerosa.
 
Mas, uma vez mais, tudo isto tem o seu senão devido a opções de design algo mal pensadas. As armas vão se degradando com cada golpe que desferimos ou que aparamos. Se por um lado isto nos pode incentivar a experimentar diferentes estratégias, ou combinações de armas e itens, por outros pode também gerar uma boa dose de frustração. Isto porque podemos perfeitamente ficar presos num nível sem uma única arma equipável, tendo apenas as nossas próprias mãos como utensílio de ataque, aumentando substancialmente a dificuldade da experiência se assim for. Caso isto aconteça, e uma vez que encontrar armas ao longo dos níveis é um acontecimento raríssimo, a única hipótese que temos é a de voltar a nossa vila e gastar o dinheiro que vamos encontrando para comprar uma nova espada. O problema aqui é que, cada arma apresenta um custo bastante avultado, não sendo de estranhar que se precise de explorar completamente dois ou três níveis até juntarmos riqueza o suficiente para fazer essa compra.
 
Outro problema subsequente desta opção de design prende-se com o sistema de crafting. Ao longo dos níveis vamos encontrando recursos que podemos usar para construir armas ou itens, mas para o podermos fazer temos de gastar dinheiro em receitas – o mesmo dinheiro que, a dada altura, nos vimos aflitos para poupar de modo a comprar uma arma. A ideia de um sistema de construção de itens não é mal pensada, mas, na nossa experiência, acabou por ser totalmente ignorada por não nos sentirmos confortáveis em gastar o dinheiro que nos custou a amealhar em algo que não fosse uma arma. Deste modo, passámos a grande maioria da experiência a usar apenas os itens que encontrámos naturalmente no decorrer dos níveis, mal tocando neste sistema de crafting. Ou seja, sem um sistema de saque mais generoso durante os níveis, a implementação simultânea deste sistema de degradação e do de construção resultou, na melhor das hipóteses, em algo inócuo e, na pior, em algo exasperante.
 

Olhando agora para aspetos mais técnicos de Within the Blade, comecemos pelo que mais elogios – os gráficos. Toda a apresentação visual do jogo é feita através de uma direção artística pixelizada bela e detalhada. Os modelos das personagens, sobretudo dos inimigos e dos bosses, denotam bastante cuidado e criatividade, e o mesmo se pode dizer dos vários ambientes que vamos atravessando ao longo dos níveis da campanha. Também as animações estão bastante bem conseguidas, apresentando-se particularmente detalhadas sobretudo as que dizem respeito aos ataques dos inimigos e, sobretudo, às várias manobras de assassinato rápido que temos à nossa disposição. De facto, o único defeito que podemos aqui apontar (ainda que não esteja relacionado com a vertente artística do jogo) é o facto das sequências cinemáticas e os diálogos apresentarem erros ortográficos básicos e algo frequentes. O que torna isto problemático é o facto de estes serem os únicos modos do jogo veicular a sua narrativa, causando uma impressão bastante má quando vemos, por exemplo, a palavra “seize” escrita como “ceize” várias vezes.
 
Já no que toca à vertente sonora, dificilmente podemos tecer tamanhos elogios. A banda sonora mal se nota, ao ponto de estarmos a redigir este texto mera horas depois de dar por terminada a nossa aventura em Within the Blade e lamentavelmente não conseguirmos recordar uma única trilha sonora. Por outro lado, os efeitos sonoros fazem um trabalho bastante mais competente, ajudando a destacar o impacto de cada golpe que infligimos ou que sofremos, promovendo a sensação de envolvimento na ação que decorre no nosso ecrã.
 
Os aspetos relacionados com o desempenho do jogo também deixam algo a desejar. O jogo não corre mal, mantendo sempre uma taxa de fotogramas consistente, embora não chegue a atingir os 60 fps, o que, para uma versão PS5 de um jogo, é algo desapontante. O problema é mesmo o facto de congelar a imagem durante uns segundos sempre que chegamos a um checkpoint num qualquer nível, e o facto de o jogo se demorar a apresentar o ecrã de “game over” cada vez que morremos. Parece uma picuinhice, mas quando se morre tantas vezes (e frequentemente de forma injusta), estes vários segundos que temos de esperar até surgir a opção de regressar ao jogo tornam-se penosos. Por fim, há que referir que nenhuma das funcionalidades do DualSense foram aqui implementadas, tendo apenas sentido o comando a vibrar (e indiscriminadamente) duas vezes durante toda a campanha, outro aspeto a lamentar.


Conclusões
Within the Blade é daqueles jogos que nos deixa frustrados. Não pela exigência ou dificuldade dos níveis, mas pelo potencial desperdiçado. São demasiadas as opções de design mal pensadas ou cujas implementações prejudicam o prazer geral da experiência, manchando muitas das ideias interessantes e dos momentos genuinamente divertidos que este jogo ainda consegue proporcionar. Os fãs de jogos de ação em 2D desafiantes e castigadores poderão retirar daqui algum prazer, mas há outras ofertas bastante mais cativantes e bem conseguidas no mercado.
 
O Melhor:
  • Boa direção artística, com designs de criaturas variados e criativos
  • Batalhas contra bosses são maioritariamente interessantes e prazerosas
  • Boa jogabilidade geral, que resulta numa experiência desafiante, mas…
 
O Pior:
  • … É frequentemente frustrante, com armadilhas impossíveis de prever e ataques surgidos do nada
  • Sistema de crafting inócuo devido aos desequilibrados sistemas de saque e degradação de armas
  • Alguns problemas de desempenho, sobretudo na chegada aos checkpoints e nas mortes
  • Alguns erros ortográficos nas sequências cinemáticas e diálogos
 
Pontuação do GameForces – 5.5/10
 
Título: Within the Blade
Desenvolvedora: Ametist Studio
Publicadora: Ratalaika Games
Ano: 2021
 
Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Playstation 5, através de um código gentilmente cedido pela Ratalaika Games e pela Ametist Studio.
 
Autor da Análise: Filipe Castro Mesquita

[Análise] Within the Blade [PS5] [Análise] Within the Blade [PS5] Reviewed by Filipe Castro Mesquita on julho 15, 2021 Rating: 5

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