[Análise] Short Games Collection #1 [NSW]


Uma das atuais métricas pelas quais os jogadores julgam títulos é a sua duração. Quanto mais horas for possível espremer de um produto, melhor este supostamente é – às vezes dando a entender que uma experiência longa e vazia é melhor do que uma curta e densa. Pois, é esta ideologia redutora que a Nerd Monkeys, estúdio português responsável por jogos como Out of Line, quer agitar com o seu novo projeto.

Short Games Collection #1 é um conjunto de cinco jogos desenvolvidos por criadores de todo o mundo: Swallow the Sea, Ghostein, A Game Literally About Doing Your Taxes, The Good Time Garden e Uranus. Cada um é extremamente curto, durando cerca de um quarto de hora; mas o que carecem em duração, compensam por serem inovadores e estimulantes.

Se os títulos vos soam familiares, é porque todos eles já foram lançados para PC. Entre as plataformas itch.io e Steam, todos estão disponíveis gratuitamente, sem contar com Uranus, que custa 1,99€. Por seu lado, esta compilação Switch está disponível por 16,99€ - o que significa que, neste lançamento em particular, é fundamental valorizar não só a qualidade intrínseca dos jogos, mas também as adições e vantagens de os vivenciar na portátil da Nintendo.


Uma vez que os títulos são independentes entre si, não importa a ordem em que os jogamos e avaliamos; nesse sentido, começaremos pelo primeiro apresentado no menu: Swallow the Sea. Em Swallow the Sea, assumimos o papel de um zigoto num oceano, que tem de se alimentar da restante vida marinha. Numa jogabilidade similar a Agar.io, temos de comer seres mais pequenos do que nós, enquanto fugimos dos predadores maiores do que nós. As criaturas que ingerimos ajudam-nos a crescer, ao ponto de aterrorizarmos aqueles que antes nos perseguiam – até que o jogo termina, de modo abrupto, dando-nos um final que, somado ao nosso progresso até então, nos deixa a refletir sobre o propósito da nossa jornada. A conjugação da fuga dos predadores com a perseguição pelas nossas presas é tão satisfatória que gostaríamos que tivesse o dobro da duração, e acreditamos que tal não enfraqueceria a cinemática final.

Também sentimos este desejo com Ghostein, mas por motivos diferentes. Ghostein leva-nos para a Segunda Guerra Mundial e encarrega-nos, na pele de um fantasma, de guiar o seu filho vivo para fora de um campo de concentração. Temos ao nosso dispor quatro tipos de cartazes: Vai para a Esquerda, Vai para a Direita, Pára e Esconde-te, que devemos colar em paredes para orientar a criança e mantê-la fora dos radares dos nazis. Esta narrativa aparenta-nos ser inadequada, dado que nunca poderia fazer jus ao enquadramento histórico na curta duração desta experiência.

A abordagem da problemática nazi do ponto de vista de um pai e filho acaba por ser superficial e em nada encaixa com a jogabilidade. Esta última, embora diferenciada, consegue ao mesmo tempo parecer pouco aproveitada e desnecessariamente prolongada. O título joga com a alteração da configuração dos soldados e dos potenciais esconderijos, bem com a diminuição dos espaços em que podemos colar cartazes, para aumentar e diversificar os desafios, de tal modo que é evidente o potencial deste conjunto de mecânicas; contudo, o tempo com que o jogo se detém com desafios no mesmo nível de complexidade é mal empregue.

Já A Game Literally About Doing Your Taxes, que tal como o nome sugere é literalmente sobre tratar dos impostos, é um ótimo exemplo do que se pode alcançar num curto espaço de tempo. O jogo não mente: tudo o que fazemos é separar os documentos de impostos do correio não solicitado. É uma premissa simplicíssima e despretensiosa, que nunca faria sentido num produto maior, e que é usada na ponderação exata de tempo para que o título possa jogar as suas cartas (pun intended).

No meio destes jogos, maioritariamente de pixel-art, The Good Time Garden distinguiu-se imediatamente pelas suas paisagens e animações desenhadas à mão, dublagem em inglês… e ainda pela sua copiosa inclusão de partes íntimas. A presença de retaguardas deambulantes e personagens que deixam os seus genitais ao vento contribuem para a identidade bizarra deste mundo, e para que talvez não seja a melhor ideia introduzir este jogo a crianças. Em termos de jogabilidade e grafismo, este é possivelmente o título mais desenvolvido do pacote, ao envolver uma série de fetch-quests misturadas com leve puzzle-solving. Contudo, a nível de narrativa, afigura-se desinteressante na medida em que sabemos exatamente como vai terminar depois de três minutos com o comando na mão.

Por fim, Uranus centra-se numa componente ignorada nas restantes propostas no conjunto: o multijogador competitivo. Nas disputas, dois jogadores (ou um jogador e um CPU) deslocam-se sobre uma esfera para criarem uma circunferência através da linha que deixam no seu rasto, ganhando assim pontos. A principal interação entre os jogadores reside no facto de que, se um jogador cruzar a linha do adversário, tem de começar a sua linha do começo. É uma jogabilidade vertiginosa e cativante, que justifica jogar meia dúzia de partidas com amigos de além a além. Uranus é, portanto, uma experiência frenética que dá uma sensação de maior variedade a Short Games Collection #1.

Se jogaram as versões destes jogos no PC, as únicas novidades que estas adaptações introduzem residem no suporte nativo para comandos (Joy-Con e Pro Controller), em algumas aplicações bem conseguidas de HD Rumble e na subjetiva comodidade de jogar no hardware da Nintendo. Nada disto é verdadeiramente substancial, e o jogo não tem adições extrínsecas, como entrevistas com os criadores, para tornar a compra mais sedutora. A grande novidade de Short Games Collection #1 é um menu principal num oceano belo e sereno, que sendo melhor do que os tradicionais menus de compilações, em nenhum modo influenciará uma potencial aquisição.

 

Conclusão

Cada um dos curtos jogos incluídos em Short Games Collection #1 proporciona experiências verdadeiramente diferentes, e geralmente cumpre o propósito estabelecido pela Nerd Monkeys de em pouco tempo dar que pensar ao jogador. Todavia, o valor deste conjunto é afetado pela existência e acessibilidade das versões PCs, e por não existirem adições de relevo. Uma maior quantidade de jogos no conjunto ou bónus extrínsecos como vídeos making of, seriam fundamentais para tornar o pacote mais apetecível.

 

O melhor

  • Diversidade associada a qualidade
  • Food for thought

 

O pior

  • Curtíssima longevidade
  • Quase todos os jogos são gratuitos para PC
  • Ausência de novidades de relevo.

 

Nota do GameForces: 6.5/10


Título: Short Games Collection #1
Desenvolvedores: Will Todd e James Carbutt, Maceo bob Mair e Nicolás Delgado, Not a Sailor Studio, Parampara, Not a Game Studio, Nerd Monkeys
Publicadora: Nerd Monkeys
Ano: 2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Nerd Monkeys.


Autor: Tiago Sá

[Análise] Short Games Collection #1 [NSW] [Análise] Short Games Collection #1 [NSW] Reviewed by Tiago Sá on outubro 16, 2021 Rating: 5

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