[Análise] Overcooked! All You Can Eat

É impossível negar que a Switch é uma consola estupenda para multijogador local. Chegas a qualquer lugar, tiras um Joy-Con de um lado, tiras um Joy-Con do outro, e voilà, estás preparado para jogar com um amigo. No entanto, não são muitos os jogos que asseguram que qualquer jogador pode ter uma experiência de qualidade.

Por um lado, os títulos podem ter uma curva de aprendizagem que impossibilite os jogadores mais casuais de desfrutarem do jogo; por outro, os jogadores mais experienciados podem dominar completamente as partidas, fazendo os novatos sentirem-se impotentes. Por estes motivos, Mario Kart 8 Deluxe continua indisputado enquanto o jogo de família de eleição, visto que a série possui um conceito compreensível por todos, controlos intuitivos e simples e um balanço meticuloso que aproxima as probabilidades de vencer de todos os participantes.

Overcooked! All You Can Eat, o remaster de Overcooked! e Overcooked! 2, respeita todos estes princípios. O conceito destes jogos é simples: até quatro amigos envergam o chapéu de chefes de cozinha e unem forças para confecionar variados pratos e entregá-los num limite de tempo. Esta tarefa requer apenas três botões: A para agarrar/pousar objetos, X para concretizar diversas ações, como cortar ingredientes e lavar louça, e finalmente B para realizar um dash totalmente opcional.

Os controlos podem ser simples, mas se queremos satisfazer todos os nossos clientes, não temos outra escolha senão correr freneticamente pela cozinha para cortarmos, fritarmos, grelharmos, batermos e cozermos todos os ingredientes com agilidade: já não chegava termos um limite de tempo global para terminar a partida, mas também dispomos de pequenas frações de tempo para entregar cada pedido e não podemos deixar os ingredientes nos tachos e batedeiras mais tempo do que o essencial - caso contrário, o "calor da cozinha" torna-se mais tangível...

Este dinamismo já bastaria para termos um bom jogo nas mãos… mas ainda nem falamos sobre as cozinhas! Tendo em conta que All You Can Eat! possui os conteúdos de Overcooked!, Overcooked! 2 e das suas imensas DLCs, temos neste lançamento mais de 200 cozinhas para dominarmos, cada uma das quais com uma disposição única. Se jogarmos na ordem das campanhas dos jogos, as primeiras cozinhas que visitamos são simples para que possamos assimilar as mecânicas de Overcooked!. Porém, rapidamente nos vemos em cozinhas que deixam evidente o desejo de falência da gerência.

Algumas, por exemplo, separam os vários cozinheiros, levando a que cada participante apenas tenha acesso a algumas das tarefas necessárias para finalizar os pedidos. Outras têm ratos (!) que tentam constantemente meter o dente nos nossos ingredientes, obrigando-nos a correr atrás deles. Podemos até encontrar cozinhas no meio da lava, de um rio e até do espaço! Nas cozinhas de Overcooked 2, os mapas são ainda mais excêntricos, com a adição da possibilidade de ATIRAR os ingredientes. Tudo claramente dentro das normas da ASAE, sem nada que pudesse dar um chilique a Ljubomir.

Acabamos por nunca saber o que esperar a cada cozinha, excetuando uma coisa: estaremos perante uma estrutura completamente nova que nos obrigará a repensar completamente a nossa estratégia. E o que é que isto implica? Comunicação, muita comunicação. “Passa para cá carne picada, não vês que temos as frigideiras paradas?”. “Não faças tomate ainda, temos de fazer a salada de pepino primeiro!”. Um segundo pode fazer a diferença entre um burrito delicioso e um incêndio na cozinha; um cliente satisfeito ou um pedido cancelado.

No final de cada partida somos avaliados com um sistema de três estrelas (ou quatro, no New Game Plus). Ao jogar, fizemos questão de obter o máximo de estrelas em cada nível, visto que para alcançarmos essa meta tivemos de trabalhar ao máximo a nossa coordenação e assim ganhamos uma maior apreciação pelos desafios apresentados. Não há, no entanto, qualquer desencorajamento para os novatos: para além de uma estrela ser suficiente para avançar para a própria cozinha, também está disponível o Practice Mode, que remove o limite de tempo dos níveis, e o novíssimo Assist Mode. Este modo aumenta o limite de tempo de cada nível e de cada nível, bem como a pontuação recebida por prato, dando aos menos experienciados a chance de terem três estrelas nos mapas.

Independentemente do nível de dificuldade que estabelecemos para nós mesmos, a curva de dificuldade permaneça no ponto perfeito. Naturalmente, a pontuação mínima para cada estrela aumenta à medida que avançamos; porém, o que torna a progressão ingeniosa reside no subtil aumento de complexidade das receitas e das cozinhas. A dificuldade aumenta passo-a-passo, com a adição gradual de uma ou mais etapas a tarefas que já realizamos previamente, aumentando desta forma a quantidade de responsabilidades do jogador sem que este pense ativamente nisso. Se inicialmente começamos por preparar humildes pratos de salada, que só envolvem cortar alface e tomate e colocar num prato, eventualmente temos de preparar burritos, bolos, panquecas, receitas mais complexas que exigem inúmeros passos mais morosos - e em cozinhas que testam cada vez mais as nossas amizades!

Apesar de até agora ter enfatizado a diversão em multijogador, a verdade é que é possível jogar todos os níveis completamente a solo… do mesmo modo que é possível jogar Super Mario Party completamente a solo. Sim, é uma opção, mas a cada segundo dessa forma de jogo sentimos que estamos a vivenciar uma forma inferior do mesmo. Em singleplayer, temos de controlar alternadamente dois chefs, o que torna o fluxo das partidas mais “preso”. Sem o calor humano, o jogo perde muito do seu charme, diversão e caos.

Portanto, não restam dúvidas de que o foco de Overcooked! reside na sua diversão multijogador, e foi nessa dimensão que All You Can Eat! deu o maior salto. Por um lado, nesta remasterização foi implementado multiplayer online no jogo original, o que significa que todo o conteúdo da série pode ser desfrutado em rede. Por outro, este título inclui crossplay, ou seja, a possibilidade de jogar com pessoas de outras plataformas que tenham Overcooked! All You Can Eat, quebrando qualquer barreira na diversão com amigos. Durante a presente pandemia, esta é a única forma razoável que muitas pessoas poderão usar para jogar com amigos, e é com gosto que confirmamos que as partidas são extremamente fluidas e suportam voice chat usando auscultadores compatíveis.

As várias melhorias neste pacote tornam All You Can Eat! no título definitivo da série, na escolha óbvia para aqueles que querem descobrir estes encantadores jogos. Contudo, quem já comprou os jogos anteriores e as suas DLCs terá de pesar bem as novidades da compilação antes de a comprar. As várias adições que descrevemos acima complementam magnificamente a proposta de Overcooked!, mas o seu valor em si mesmas variará de jogador a jogador.

Excetuando os ajustes que já abordamos, o novo conteúdo de All You Can Eat! consiste em novos chefs, novas skins para chefs e sete novas cozinhas. Os novos desafios estão ao nível do restante conteúdo e introduzem novos elementos ingeniosos, mas pecam pela sua limitada quantidade.

A última grande novidade deste pacote reside na pincelada que deu ao jogo original. Embora Overcooked 2 permaneça praticamente inalterado, Overcooked! foi completamente remasterizado na engine da sua sequência, beneficiando de gráficos e interface melhorados e pequenos ajustes na jogabilidade (como a possibilidade de pousar comida cozinhada em pratos lavados na banca). Pequenos toques como o fumo libertado pelo carro no mapa do mundo e o som slapstick que soava quando embatíamos contra um colega não sobreviveram a esta ida ao forno, mas estas são perdas negligenciáveis sem qualquer impacto funcional.

Overcooked! All You Can Eat revela-se assim um party game exemplar, com uma proposta simples, carradas de conteúdo e atenção em todas as suas vertentes. Esta remasterização só peca em pequenos pormenores, como alguma falta de transparência (não achamos nenhuma indicação dos critérios de desbloqueio das fases secretas de Overcooked! 2, por exemplo) e por ocasionais quedas na taxa de fotogramas do jogo.


Conclusão:

Overcooked! All You Can Eat é uma das melhores experiências que podemos levar para o sofá, com e mais de 200 níveis criativos que nos colocam às gargalhadas e aos berros com amigos e família. É divertidíssimo, é caótico, é Overcooked! no seu melhor.

 

O melhor:

·        Fórmula divertidíssima;
·        Mais de 200 níveis;
·        Acessibilidade para todo o tipo de jogadores;
·        Online com crossplay;
·        Renovação visual de Overcooked!.

O pior:

·        Poucas novidades para quem tem os jogos originais;
·        Quedas ocasionais de framerate;
·        Falta de transparência com alguns pormenores.

Nota do GameForces: 9.0



Título: Overcooked! All You Can Eat
Desenvolvedora: Ghost Town Games
Publicadora: Team17
Ano: 2021

Nota: Esta análise foi realizada com base na versão digital do jogo para a Nintendo Switch, através de um código gentilmente cedido pela Team17.

[Análise] Overcooked! All You Can Eat [Análise] Overcooked! All You Can Eat Reviewed by Tiago Sá on maio 20, 2021 Rating: 5

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