Primeiras Impressões – Marvel’s Avengers Beta

Depois do sucesso esmagador que tem sido o universo cinematográfico da Marvel, a Square Enix prepara-se para nos apresentar a sua versão do conjunto de heróis mais famoso do mundo. É com Marvel’s Avengers que este mundo de super-heróis tentará cimentar a sua posição na indústria dos videojogos. Agora, apenas a umas poucas semanas do lançamento do jogo, fomos brindados com a oportunidade de jogar um pouco através de Marvel’s Avengers Beta. Os produtores têm tomado algumas decisões preocupantes ou controversas, mas este projeto continua a apresentar-se como um dos mais ambiciosos desta geração. Mas será esta uma oportunidade para aguçar o apetite, ou estaremos a ver heróis a virar vilões?


Vamos só esclarecer algo muito importante: sou um fã incondicional do MCU (Marvel Cinematic Universe), adorei Marvel’s Spider-Man da Insomniac Games, e quando este jogo foi anunciado senti-me extremamente entusiasmado. Mesmo quando anunciado que Marvel’s Avengers iria assumir-se como um serviço, a perspetiva de assumir o controlo de Iron Man, Thor, e companhia manteve a minha antecipação bastante elevada. Tudo isto para explicar que, pessoalmente, queria muito que este jogo fosse bom, queria que tivesse sucesso e queria que servisse como rampa de lançamento para um universo Marvel nesta indústria. Mas depois de experimentar o beta e de investir algumas horas no jogo, o entusiasmo deu lugar à preocupação, e não acredito que nada disto se concretize.

Em Marvel’s Avengers Beta, podemos jogar a missão de introdução do jogo, na qual os Avengers vêm uma cerimónia sua interrompida e atacada por forças misteriosas, tendo de combatê-las ao longo da Golden Gate Bridge e a bordo da nave Chimera. Na sequência destes acontecimentos, os Avengers separam-se e uma larga percentagem da população fica infetada com um mutagénico e desenvolve poderes. Passados alguns anos, uma nova missão vê uma das pessoas infetadas, Kamala Khan (Ms. Marvel) juntar-se a Hulk numa missão para tentar restabelecer a equipa de heróis e salvar o mundo de uma ampla conspiração. Estas duas missões de história jogáveis permitem-nos experimentar todos os heróis jogáveis na versão base de Marvel’s Avengers: Thor, Iron Man, Hulk, Captain America, Black Widow e Ms. Marvel. E é na jogabilidade que começam as minhas preocupações.


Mecanicamente, Marvel’s Avengers é bastante simples. Nos botões da face do comando, podemos saltar, esquivar ou usar ataques leves e ataques pesados. Com os gatilhos, podemos apontar e disparar algo, enquanto os outros botões de topo (L1/R1 ou LB/RB) servem para utilizar uma de três habilidades especiais. Isto é transversal a todas as personagens, o que é problemático. Mesmo com animações bem conseguidas e distintas, e com conjuntos de ataques especiais representativos dos poderes de cada herói, nenhuma das personagens se apresenta como verdadeiramente única. Para além disso, independentemente da personagem que controlamos, todo o combate se apresenta como algo pesado e muito pouco fluído, bem como bastante repetitivo. 

Mesmo a inclusão de algumas habilidades particulares, como a possibilidade de flutuar com Iron Man ou de usar um gancho para nos agarrarmos a um inimigo distante com Black Widow, se apresenta como algo pouco marcante e distintivo. Nota-se uma falta de cuidado em colocar cada herói em situações onde as suas forças e fraquezas sejam evidenciadas, com a colocação indiscriminada de hordas  de inimigos em frente de qualquer herói a dar uma sensação de serem todos quase idênticos. Com tudo isto, o combate é gritantemente mediano e muito pouco variado, e receio que falhará o objetivo de ser representativo da personalidade e das habilidades dos vários super-heróis. De referir que a câmara não ajuda, não sendo capaz de acompanhar eficazmente a ação por vezes frenética e caótica do combate, assumindo-se difícil de controlar e tomando posições ocasionalmente estranhas quando nos tentamos reposicionar.

Tanto nas missões de história como nas missões secundárias apresentadas neste Beta, a grande maioria dos inimigos era também bastante genérica. Todos os inimigos humanos da primeira missão eram iguais, e os robóticos nas missões subsequentes variavam apenas no seu tamanho. No entanto, nestes designs algo desinspirados, há dois aspetos positivos a reter. Primeiro, a inteligência artificial era bastante eficaz, levando-me a várias situações nas quais me encontrei completamente rodeado e a ter de recuar e reagrupar. Segundo, entre combates contra inimigos genéricos, vamos sendo presenteados com bosses que assumem a forma de vilões conhecidos da Marvel. Ambas as missões de história me colocaram frente a frente com tais bosses, neste caso Taskmaster e Abomination, e estes encontros foram muito mais interessantes, sobretudo por utilizarem melhor os ambientes e por me obrigarem a utilizar as minhas habilidades com mais estratégia.


Olhando para o design de missões, este Beta apresentou essencialmente dois tipos de estruturas diferentes. Uma onde a ação era explosiva e uma constante, na qual as transições entre heróis eram várias e relativamente fluídas, mas que transmitia a sensação de ser demasiado scripted. Por exemplo, numa secção de Hulk onde tinha de saltar e agarrar-me a várias saliências para chegar a um destino, o gigante verde aterrava ou agarrava-se sempre exatamente no mesmo sítio independentemente da posição ou balanço do salto. Isto levou a uma sensação de rigidez excessiva e à ideia de que o risco era mínimo.

A outra estrutura apresentou níveis mais abertos com vários caminhos exploráveis e diversos itens para descobrir. Aqui, fica a impressão de que as missões com esta estrutura decorrem a um ritmo inconsistente, onde momentos de combate caótico e momentos de exploração lenta se vão intercalando. Ainda nestas, vamos tendo de cumprir pequenos objetivos estranhos e algo arcaicos, no que ao design diz respeito. Por exemplo, uma das missões pediu-me, a dada altura, para manter a minha personagem dentro de um círculo e impedir inimigos de lá entrarem para carregar a energia de uma estrutura. Fica a ideia de que esta é uma tentativa artificial de dar mais variedade a cada missão, mas que, derradeiramente, revela um vazio de ideias e de criatividade.

Uma última mecânica para a qual convém chamar a atenção prende-se com o sistema de progressão. À medida que vamos derrotando inimigos e cumprindo missões, vamos ganhando pontos de experiência e subindo de nível, que por sua vez nos permite ir escolhendo novas capacidades ou habilidades para cada herói. Cada herói tem o seu conjunto de habilidades desbloqueáveis, e devido aos limites do beta apenas podemos especular se este sistema ajudará cada herói a adquirir a sua unicidade que tanta falta faz no início. Mas até aqui tudo bem, não é um sistema revolucionário mas confere a cada jogador a possibilidade de adaptar a sua experiência e ir moldando as suas personagens jogáveis. O problema começa quando temos em conta o sistema de loot que Marvel’s Avengers implementa.


À medida que vamos explorando os níveis e abrindo caixas e cofres, vamos adquirindo novos itens equipáveis para cada herói. O grande problema deste sistema é que estes equipáveis não conferem qualquer mudança cosmética, sendo uma questão de cegamente equipar o item com o número mais elevado para que as estatísticas da personagem subam ligeiramente. Este jogo de números não é apelativo, e o facto de os itens cosméticos serem equipáveis num sistema à parte e sem qualquer consequência para a jogabilidade, leva a crer que tudo isto foi pensado com microtransações em mente. Admitidamente, isto é apenas uma suspeita, já que não há qualquer conteúdo extra comprável no beta, mas é mais uma preocupação que levo desta experiência.

Olhando para aspetos mais técnicos, é difícil tirar conclusões por se tratar de um beta, sobretudo no que ao desempenho diz respeito. Houve várias quebras na framerate quando a ação era elevada, e nunca consegui ligar-me a outros jogadores online para experimentar a componente cooperativa do jogo. Isto são problemas que ainda serão solucionáveis, ainda que falte pouco tempo para o lançamento. Mais preocupante é a vertente gráfica e sonora. Graficamente, fica a impressão e estarmos perante um jogo do início desta geração, e não do fim. Muitas das texturas das nossas personagens são básicas e pouco nítidas, e o design ambiental é bastante inconsistente.

Algo verdadeiramente problemático é o movimento em combate. Quando nos mexemos ou manipulamos a câmara, toda a imagem fica extremamente nublada e desfocada, levando a alguma desorientação momentânea. Isto é de lamentar sobretudo porque as animações das personagens é um dos poucos pontos verdadeiramente altos da experiência até agora. Também a vertente sonora se apresenta como problemática, uma vez que os comentários que os nossos heróis vão fazendo soam sempre forçados, demasiado joviais e algo incoerentes com o que se está a passar no ecrã. Tanto o timing das falas como a qualidade da escrita ficam aquém do esperado, causando bastante dissonância entre o que estamos a fazer e o que ouvimos.


Em tom de conclusão, Marvel’s Avengers Beta teve em mim o efeito totalmente oposto ao pretendido. Saio desta experiência preocupado e sem qualquer interesse em adquirir o jogo completo, muito menos ao preço de lançamento. Fica a sensação de que este é um projeto demasiado ambicioso. Se olharmos para o MCU, vimos que cada herói recebeu o seu filme e teve a sua personagem bem estabelecida antes de chegarmos aos Avengers. No que aos videojogos diz respeito, creio que o mesmo devia ter sido feito: cada herói devia ter o seu jogo e as suas mecânicas bem estabelecidas e devidas distinções enaltecidas antes de partir para um jogo em conjunto (veja-se o sucesso de Marvel’s Spider-Man).

Mas visto que estas etapas estão a ser queimadas, parece-me que este título necessitaria de mais tempo de desenvolvimento para ser algo mais digno. Com tantos problemas que apresenta e com tão pouco tempo antes do lançamento, não acredito que Marvel’s Avengers tenha o mesmo impacto no mundo dos videojogos que os filmes tiveram no do cinema. Como fã das personagens e deste universo, fico seriamente preocupado com o que nos espera no dia 4 de setembro.

Artigo por: Filipe Castro Mesquita

Primeiras Impressões – Marvel’s Avengers Beta Primeiras Impressões – Marvel’s Avengers Beta Reviewed by Filipe Castro Mesquita on agosto 22, 2020 Rating: 5

Sem comentários:

Com tecnologia do Blogger.